A história do rapaz que tira a espada da pedra e se torna um grande rei já foi contada inúmeras vezes, mas continua a transcender o tempo. Com seus temas universais, o Raio Azul novamente retorna para nos lembrar daqueles que possuem qualidades de liderança, responsabilidade, da coragem de persistir contra obstáculos e de inspirar os outros a mais elevados níveis de expressão. Principalmente nesse momento caótico do político-social atual.

Desta vez, o público-alvo são as crianças. A trama medieval do Rei Arthur é transportada para a Inglaterra contemporânea, fazendo com que um grupo de garotos se reunam para embarcar numa aventura e impedir o retorno destruidor de Morgana. Grandes feitos não são realizados apenas por adultos, e a fase da infância é crucial na formação de conceitos pessoais que irão definir a caminhada daquele indivíduo. Se acreditarem em si mesmos e na reverberação positiva de seus atos cotidianos, o futuro ganha um brilho especial.

Por isso O Menino que Queria Ser Rei chega aos cinemas com um toque caloroso. A narrativa traz temáticas que já vimos outras vezes, mas com alguns ajustes necessários. Nosso protagonista, Alex (Louis Ashbourne Serkis), é o garoto não popular da escola que sofre bullying, mas a diferença é como ele irá lidar com seus agressores. O melhor amigo, Bedders (Dean Chaumoo), é aquele que sofre ainda mais bullying e faz mágica, porém ele honra sua posição e sua mágica acaba por multiplicar objetos em abundância, no lugar de fazê-los desaparecer na escassez. O personagem oculto misterioso pode ser aquele que esteve sempre presente, e a lenda é muito mais real do que parece, mas o discernimento é sempre fundamental.

O Mago Merlin (Angus Imrie / Patrick Stewart) retorna como personagem motivador, pilar de disciplina e força e alívio cômico. Ele funciona em todos esses níveis, e ainda tem tempo para quebrar paradigmas. Quando o poder da alma é questionado pelo poder do sangue, Merlin realinha os valores e afirma: “Se suas lendas dizem o contrário, talvez precisem escrever novas lendas”. É isso que finalmente estamos fazendo.

A polaridade negativa do Raio Azul se refere a uma inclinação para ambição ilimitada, domínios desenfreados, propósitos egoístas, manipulação dos outros, arrogância e intolerância a outros tipos de pensamentos. Morgana (Rebecca Ferguson) é quem representa a faceta dessa expressão. Sua vilania é guiada por esses aspectos, potencializados pela perseguição da espada Excalibur e seus recursos. Infelizmente, essa é a única profundidade dada à personagem, tornando seu perfil e objetivos superficiais. Sua função no filme é representar o mal a ser combatido.

Quando chegamos mais para o final da história, a densidade do roteiro cai e somos levados a uma resolução do problema de uma forma não muito criativa. Ainda que estimule a união das pessoas, temos um fechamento um tanto bárbaro. Mas como o foco estava em criar um diálogo para outras discussões, considero o final ok.

Fica ainda minha alegria em ver a explicação da real funcionalidade de Stonehenge e outras estruturas similares e o discurso final de Merlin, sobre o abaixar das armas e a necessidade da luta por outros meios.

Considerando a proposta da trama, seu público-alvo e a reflexão construída, damos ao diretor Joe Cornish (de Ataque ao Prédio) e seu filme 4 cookies.