Em 2017, tivemos uma grande surpresa positiva no mês do Halloween: uma história que misturava o subgênero de filmes de terror slasher com o conceito do looping temporal. Em A Morte Te Dá Parabéns, a protagonista revive o dia do seu aniversário várias vezes, o qual sempre termina com seu assassinato. Em sua busca para compreender o que está acontecendo e quem é o assassino, Tree (Jessica Rothe) passa por uma grande mudança interna, tornando-se uma pessoa mais humilde, gentil e amorosa. Superando novamente as expectativas, a continuação do longa apresenta um filme muito divertido que vai além do looping temporal. Agora viajamos pelo multiverso!

O legal de A Morte Te Dá Parabéns é que o filme não se leva a sério. Temos personagens caricatos, situações absurdas e sequências de acontecimentos que sabemos que se repetirão por toda a trama. Mas, no meio do caminho, a mágica acontece. As mortes ficam em segundo plano e os lados emocional e psicológico da protagonista começam a serem trabalhados, fazendo o espectador realmente se importar com aquelas pessoas. Difícil imaginar que um segundo filme do gênero poderia se superar novamente, mas foi o que a sua continuação fez.

Em A Morte Te Dá Parabéns 2, temos uma narrativa que segue exatamente de onde o filme anterior parou. Iniciando com uma perspectiva diferente do que acontecia no precursor, a trama consegue inovar trazendo um novo conceito: o multiverso. Seguindo o teor do cômico absurdo do primeiro filme, não fica estranho que Ryan (Phi Vu) e seus amigos tenham construído uma máquina que manipula o universo quântico no laboratório de ciências. Ao tentar encerrar o ciclo temporal, Tree acaba sendo enviada para um universo paralelo, em que as relações entre os personagens mudaram, mas que uma coisa permanece igual: há um assassino à solta.

Embora seja possível assistir e entender essa continuação sem ter visto o primeiro filme, não é o mais recomendável. A grande carga emocional que permeia a trama e que conduz as escolhas de Tree é criada na obra anterior. A produção não perde tempo tentando recriar essa química, e parte para explorar as possibilidades dessa outra realidade. A história se afasta mais um pouco da característica slasher, e abraça mais forte a ficção científica. Até mesmo o compositor Bear McCreary, conhecido por seus trabalhos em clássicos do sci-fi, entrou para a produção, trazendo uma trilha sonora que valoriza as cenas.

Há poucas semanas, a Netflix também lançou sua produção inovadora envolvendo looping temporal em Russian Doll. Embora as duas narrativas foquem em públicos diferentes, ambas trabalham muito bem o conceito em narrativas não convencionais (em uma série inteira e em uma continuação de filme). A crença de que o tempo é uma força suprema, imutável e linear está enraizada na nossa cultura, e obras como essas ajudam a demostrar que existem outras possibilidades. Pode parecer uma questão exclusiva da ficção científica, mas tudo muda quando começamos a perceber que a ficção científica é a realidade. Linhas de tempo e multiversos são reais, na medida que compreendemos que tudo é onda e vibração do átomo.

Outro aspecto positivo presente no desenrolar da trama é a reflexão de o quanto o passado deve fazer parte do presente. Qual o seu peso e quais oportunidades poderiam estar impedindo que acontecesse. 

Fica a nossa recomendação para assistir A Morte Te Dá Parabéns 2. Esse não é o filme que vai trazer altas reflexões sobre física quântica e existencialismo, mesmo com os temas presentes, mas é uma história engraçada que traz diversão e que brinca com as possibilidades do universo. O caricato, aqui, é muito bem vindo e apreciado.   

O filme então conquista a nota de 3,5 cookies!

 

 

P.S.: Tem cena pós-créditos 😉