David Robert Jones, mais conhecido pelo seu nome artístico David Bowie, nasceu em Brixton no sul de Londres em 08/01/1947 e faleceu em 10/01/2016. Autor e intérprete de hits como “Rebel Rebel”, “Life on Mars?”, “Heroes”, vendeu milhões de álbuns, foi premiado diversas vezes tendo o seu penúltimo álbum, intitulado The Next Day, em 2013, após 10 anos do que uma “breve” aposentadoria, e Black Star o seu o último álbum. Black Star é um álbum intrigante que foi lançado no dia de seu aniversário, no ano passado, poucos dias do grande camaleão deixar deixa saudades na terra e partir para outro plano astral. Um álbum que foi um presente e uma despedida. Hoje, a um ano atrás de uma das notícias mais tristes de 2016, eu gostaria de prestar uma homenagem a este eterno ídolo que me inspira e o qual sua música me acompanha em diversos momentos. Infelizmente não tive a oportunidade de vê-lo pessoalmente, assistir a um show ao vivo, gritar seu nome da platéia, cantar suas músicas em coro com outros fãs. O mais perto que consegui chegar do artista foi visitar uma exposição sensacional que o MIS (Museu da Imagem do Som, sediado em São Paulo) recebeu em 2014, sendo a primeira exposição na América Latina vindo de um dos museus mais importantes dedicados ao Design do mundo, o britânico Victoria and Albert (V&A). A vinda da exposição foi fechada em 2012, antes mesmo da estreia no próprio V&A (lá a mesma se chamou David Bowie Is) em 2013.

David Bowie foi um artista icônico da música, juntou um vasto repertório artístico que influenciou e influencia até hoje diversos meios e movimentos artísticos. Bowie sempre foi um um visionário observador e fez significativas intervenções culturais com sua irreverência e criatividade. Vestiu grandes nomes do estilismo como Alexander McQueen, Kansai Yamamoto e Freddie Burretti. Na época, alguns inclusive eram recém-formados. Fez também músicas de acordo com acontecimentos marcantes de diversas épocas, contando nelas histórias, críticas, entre outros.

No universo das artes, Bowie foi um grande amigo do principal artista do movimento da década de 60, a Pop Art, Andy Warhol, o qual o próprio Bowie interpretou em um de seus filmes (sim, David Bowie também esteve presente nas telonas!). E vocês sabiam que o Bowie também pintava quadros? Ele teve influências artísticas como o surrealismo, expressionismo alemão, e teatro japonês Kabuki.

Multifacetado, ele recebeu o apelido de Camaleão do Rock, carismático, mas não menos rebelde, quebrou paradigmas, instigou a curiosidade, se reinventou diversas vezes, criou vários personagens ao longo de sua carreira como Ziggy Stardust, Major Tom e Lázarus. Se envolveu profundamente em cada pedaço do seu trabalho, da composição das letras, melodias, figurinos, cenários, design, etc, onde tudo passava por ele antes de ir para o público. É difícil resumir um ser tão completo e com um legado tão vasto. Esse foi o grande desafio do Museu da Imagem e do Som, ao sediar a Exposição David Bowie.

Tive o prazer de visitar a exposição em São Paulo, em 29/03/2014, e vou contar um pouco sobre como foi essa experiência. A exposição contou com mais de 300 peças, incluindo set lists, manuscritos, instrumentos, desenhos, filmes, figurinos (os artefatos mais sensacionais!), entre outros. A fila de espera era de aproximadamente 3 horas, pois o museu comporta uma determinada quantidade de pessoas para melhor experiência a todos, ou seja, cada segundo de espera valeu muito a pena, pois estar dentro daquele universo foi algo inexplicável!

bowie

Estava ocorrendo em complemento a expô um contêiner ao lado de fora do museu, intitulado Estúdio David Bowie, exclusivo para a edição brasileira da exposição, onde os visitantes pagavam R$ 5,00, escolhiam uma música dentre as disponíveis e um vídeo-karaokê era gravado. Infelizmente, não deu tempo de eu conseguir participar dessa atividade, para a alegria da Carol e da Sofia, queridas amigas que embarcaram junto na viagem, mas não queriam pagar mico comigo hehehe!

bowie2

O MIS é muito interessante, pois ao entrar as pessoas recebem um receptor com fones em determinados setores da exposição, onde era possível escutar pelo aparelho músicas e áudios de documentário, o que tornava a visita ainda mais sensorial. Desta forma, foi possível entrar no universo Bowie literalmente de cabeça! Logo no início, o expectador passava por um corredor escuro que ao fim na luz avermelhada estava o macacão listrado e extravagante, feito de vinil, assinado por Kansai Yamamoto, junto das famosas botas plataforma vermelhas, a primeira peça da exposição!

bowie4

Todas as peças eram simplesmente sensacionais! Ver ao vivo e tão perto este acervo super rico e cheio de significados e história foi algo inexplicável, especialmente para os grandes fãs do artista como eu! É difícil falar sobre esta experiência de forma resumida, então comentarei alguns dos momentos mais marcantes para mim! Quanto as imagens, como não era permitido fotografias dentro da exposição, usei fotos ilustrativas das peças expostas no V&A, dentre outras.

bowie3

Logo após o Macacão by Kansai Yamamoto, havia um espaço recheado de rabiscos, croquis, fotos e partituras do single Space Oddity (1969) que deu o pontapé inicial na fama do Bowie, que até aquele momento não era um nome muito conhecido. Deparamo-nos com peças de Space Oddity. Um grande desenho contia o croqui, feito pelo próprio Bowie, ilustrando como seria a arte do single e que infelizmente não há uma foto exclusiva para ilustrar o post com a obra. Este setor contia ao centro o macacão usado pelo artista na criação do seu primeiro personagem, Major Tom, um astronauta sozinho no espaço, heróico, mas também um homem comum e vulnerável. À esquerda, os rascunhos para capa, o croqui e o resultado final de todo material gráfico. À direita, alguns rascunhos e partituras (feitos a caneta tinteiro) e diversos recortes de jornais com reportagens sobre a ida do homem à lua. O single inclusive foi lançado poucos dias antes da missão Apollo 11 à lua, tanto que no dia da missão, a BBC (canal televisivo britânico) tocou Space Oddity durante a exibição das imagens do pouso na lua. Relembrando que os visitantes receberam fones ao entrar na exposição, e nessa área da exposição a trilha sonora era Space Oddity.

Este pedaço da história do artista, assim como na exposição, é marcante pelo fato de além de ter sido o início do estrelato, mostra o envolvimento e cuidado do artista desde o começo com as etapas das peças gráficas, o fazer da melhor forma, o material dele passar as emoções, sentimento e sensações que ele escolheu, etc.

Outro ponto que escolhi para falar um pouco mais sobre a exposição é a sala que mostra algumas parcerias com produtores e estilistas, em especial o casaco inspirado na bandeira inglesa com corte de alfaiataria, desenvolvido pelo estilista Alexander McQueen, o qual também contribuiu com os figurinos de Björk, Lady Gaga e Rihanna. O casaco utilizado por Bowie na capa do álbum Earthling (1997) personifica extravagância, exuberância, e também porque não dizer a elegância dos ingleses, vestindo Bowie, com seus 50 anos na época do lançamento do álbum.

bowieuk

Passando para mais um momento sensacional, um dos meus favoritos: o cantinho luminoso que foi de ficar de boca aberta! Ao se aproximar deste espaço começava a tocar nos fones Starman. Um manequim exibia o figurino em frente a telões rodeados por espelhos multiplicando a dimensão visual, deixando a pessoa imersa não apenas na música, mas no vídeo do programa “Top of The Pops”. Na época de exibição deste programa as famílias estavam começando a adquirir aparelhos de televisão. Imaginem pais e adolescentes enlouquecidos com a aparição de um artista tão diferente. Outro ponto marcante é que o manequim era protegido apenas por metade de um vidro, como se estivesse em uma espécie de varanda. Quase dava para tocar, mas claro que tive que me controlar. A sensação que os espelhos associados ao áudio e vídeo passavam foi algo que eu não consigo explicar em palavras! Parecia que eu estava em uma dimensão paralela vendo e ouvindo o próprio Bowie! Eu ouvi Starman mais de 3 vezes, fiquei com a mente viajando naquele momento. Foi com certeza um dos pontos auge da visita!

bowiestarman

Falando sobre mais um figurino marcante, é o terno azul claro usado na gravação clipe de Life on Mars?, mais um clássico do set list mostrando o contraste dos cabelos, na época super ruivos, maquiagem azul enfatizando as pupilas diferentes e os trajes em tons pastel.

bowiemars

Outro momento escolhido para enfatizar é a área reservada aos filmes que Bowie participou. Havia um telão mostrando em sequência algumas cenas dos filmes, e acessórios utilizados para compor os personagens. Os mais legais eram do filme Labirinto – A magia do tempo, de 1986, o cajado e a bola de cristal utilizado por Jareth, o Rei dos Duendes, interpretado pelo Bowie, que colocou um pouco (muito) dele próprio no personagem, atitude que ele normalmente tomava nos filmes que participava, seja na composição da personalidade do personagem quanto no figurino. Como sempre, participando de todos os detalhes que podia e no maior capricho. Gosto muito da trilha sonora do longa-metragem, e curto ainda mais quando ouço no vinil (obrigada Carolzinha!).

bowiesalapalco

Finalizando com uma das partes mais especiais da exposição: uma sala com telões em 360º fazia com que o expectador se sentisse no meio de um grande palco. Montado em alturas diferentes, comportava diversos manequins com figurinos de diferentes épocas da carreira de Bowie. Maravilhoso! Nos telões eram exibidos trechos de clipes, shows e photoshoots. Foi uma sensação inexplicável estar naquela área da exposição. Um misto de estar em um show e em uma linha temporal diferente, em outro planeta. Daria para ficar horas só naquela sala!

Pensar em Bowie é pensar em alguém completo de mente aberta e criativa. Sem medo de experimentar, de ousar, chamar atenção. Um eterno artista! Será sempre lembrado: David Bowie, “the man who sold the world“.