A indústria de animação é gigantesca, um verdadeiro monstro. E por sua sobrevivência, ela produz diversos títulos anualmente trazendo novidades de tempos em tempos, dando continuidade a séries há muito já estabelecidas e até ressuscitando antigos personagens. Alguns exemplos correspondentes seriam One Punchman (2015), One Piece (1999 até hoje), e GeGeGe no Kitaro (1968, 1971, 1985, 1996, 2007, 2018), que abordaremos hoje.

Para quem não conhece, a série de “terror infantil” é um ícone da cultura japonesa e extremamente famosa na sua terra natal, tendo como contexto o folclore local. Trata-se de histórias com yokais – fantasmas, ogros e assombrações de variadas formas – e de seus atritos com os humanos. No meio está o jovem yokai de aparência humana, Kitaro, que utiliza suas habilidades sobrenaturais para combater o mau intencional – independente de que espécie seja. De praxe, quando um humano está sofrendo com alguma criatura do além ela pode enviar uma carta para Kitaro que irá intervir e, no último caso, lutar. E claro, a cada episódio conhecemos um monstro novo, que pode ser bom, mau, ou simplesmente agir em legítima defesa ou segundo sua natureza sem perceber o mal que faz aos humanos.

Sendo bastante popular, a série teve diversas versões incluindo a mais nova: GeGeGe no Kitaro, que já conta com quase 50 episódios. Aqui encontramos uma sociedade atual onde muitos humanos não conhecem os yokais, mas aos poucos estes dois mundos vão entrando em contato novamente. O tema principal seria o preconceito e como conviver com o desconhecido. Os roteiros são muito variados, e ainda que a maioria carregue muito humor, temos bastante lutas e eventuais episódios tristes, além daqueles que realmente dão medo (mais raros).

Kitaro é um personagem neutro que normalmente carrega uma face sem nenhuma expressão e tenta sempre resolver os problemas na base da diplomacia, explicando aos envolvidos qual a atitude mais sensata. Quando uma assombração se torna violenta e irracional nosso herói parte para a luta e a exorciza, mas quando os humanos não seguem os conselhos – piorando a situação – acabam tendo que pagar pelos seus erros no fim.

Se o preconceito é inicialmente a temática da série, logo percebemos que existem coisas muito piores. Afinal, realmente existem monstros nocivos e do mal que devem ser evitados e temidos, mas a maioria não sai por aí simplesmente atacando as pessoas: várias vezes yokais que se alimentam de humanos, da alma ou da carne, nem precisam sair de seu covil e manipulam suas vítimas se aproveitando de defeitos como vaidade, ambição e ganância, desmedidos de forma que a próxima refeição simplesmente se joga na boca da criatura – só percebendo isso no final. Como Kitaro diz na abertura, “há coisas escondidas na escuridão”, e as que devemos temer mais são aquelas dentro da negritude da nossa própria alma.