Eu adoro as séries do Syfy e sempre estive acompanhando alguma estilo Warehouse 13, Eureka, Defiance, Haven, Alphas, Sanctuary, Farscape ou Battlestar Galactica (ainda falaremos muito de BSG. É minha série favorita, e foi até tema do meu artigo final na pós-graduação de Antropologia Cultural). No entanto, estava sem nenhuma companion desde que parei de assistir Dark Matter. Com a Amazon Prime assinada, um mundo novo de séries se apresentou para mim, e eu resolvi ir atrás de algo nessa vibe. Estava entre The Magicians e The Librarians (que não é Syfy, mas segue a linha e tem participações da Felicia Day) e, como a história dos bibliotecários só estava disponível dublado, fui para a narrativa dos mágicos.

Eu consigo relevar efeitos digitais ruins, atuações estranhas e roteiros falhos se a narrativa ressoa comigo, porque então eu confio na história e sei que eventualmente essas coisas ficarão melhores. Só que The Magicians não ressoou – e ainda me deixou irritada. Provavelmente a história vai se desenrolar e apresentas aspectos interessantes, mas meu limite foram dois episódios, e explico a razão. O começo é ótimo, seguindo a Jornada do Herói que tanto gostamos. É o personagem incompreendido, que não se encaixa, e sabe que de alguma forma existe algo além daquilo que faz parte da sua vida. É Senhor dos Anéis, Harry Potter, Star Wars (principalmente SW. Mais sobre como ele demonstra perfeitamente o novo paradigma da realidade daqui a pouco). Temos o protagonista que chegou a se internar voluntariamente em um hospital psiquiátrico porque não conseguia mais lidar com sua inadequação no mundo (mas só durante o fim de semana). Ele logo faz aquela passagem que está presente no subconsciente de todos, quando é apresentado a um mundo em que a magia é real e as possibilidades são infinitas. No caso de Quentin, ele é aceito em uma escola de mágica verdadeira.

Até então tudo certo, estava super me identificando com o Quentin que agora tinha encontrado seu lugar. Mas aí começaram a entrar as concepções que eu chamo do mundo 3D (terceira dimensão), em que a dualidade impera ao lado do medo e do ego. É o mundo em que estivemos vivendo até recentemente. Em The Magicians, temos essa grande instituição, a Brakebills College, que determina quem tem a habilidade e pode se tornar um “Mágico” e quem não tem. São eles quem tem acesso a esse “poder” e somente eles podem permitir o seu acesso a esse conhecimento. Quem não passa no teste tem a memória apagada e volta a viver no mundo chato. Muitos se conformam com isso e não há problema nenhum. Só que existem outros, como a personagem de Julia, que se recusam a aceitar essa decisão e, com raiva, acabam se juntando a grupos alternativos, negativos – assim nasce o Lado Negro da Força.

Esse tem sido o paradigma que vivemos com a religião há séculos. Fomos moldados em uma realidade em que o cotidiano é chato e sofrido – a grande massa precisa trabalhar duro, sofrer fazendo algo que não ama para que então seja merecido uma pequena recompensa. Pode ser o trabalho numa construção com pedras extremamente pesadas para se ganhar algumas moedas de cobre. Pode ser o trabalho numa função administrativa robótica para poder comprar um objeto de desejo no fim do mês. Assim foi determinado o mundo que vivemos. Mas então ouvimos falar de outros seres. Seres que não sofrem, que possuem poderes, que vivem em alegria, que são melhores e que podem conceder “milagres”. Ouvimos falar da matéria física se transformando e de forças que controlam a natureza. E aprendemos que esse é outro mundo, um que não podemos tocar, a não ser que os escolhidos permitam, e só assim você pode ser (um pouquinho) especial.

Você não pode falar diretamente com Deus, a igreja deve ser a intermediária. Cada religião foi implementado seu middle man, nunca permitindo o contato direto do ser humano com o Divino – com o lado da magia e habilidades especiais. No entanto, como é chegada a hora, isso está mudando. E é aqui que os novos filmes de Star Wars chegam quebrando barreiras e oferecendo algo libertador.


Quando Luke diz que os jedis precisam morrer, ele está nos oferecendo a passagem para um novo paradigma, aquele que nos leva para a 5D (quinta dimensão), em que a dualidade, o medo e o ego são dissolvidos e incorporados na Unidade. Veja você, a Ordem Jedi como conhecemos era uma religião. Existia um mundo chato e sofrido, e existia um lugar em que você teria acesso a uma Força que lhe daria habilidades especiais e uma expansão de consciência fodástica. Você seria especial. Mas só se fosse um jedi.

Nos episódios I, II e III da franquia, somos apresentados ao conceito de “midi-chlorians”, que seriam formas de vida microscópicas inteligentes que geravam a Força dentro dos corpos. A Ordem Jedi ia atrás daqueles indivíduos que possuíam grande concentração desse elemento em seu sistema. Se seu índice é alto, parabéns, você terá acesso a conhecimentos ocultos que lhe trarão vários benefícios (mas não se esqueça que você deve seguir cegamente as regras criadas pela Ordem). Se seu índice é baixo, desculpe, por favor retorne a sua vida de sofrimento em que nada de interessante acontece.

Perceba que nos novos filmes de Star Wars, os tais midi-chlorians não são citados. Além disso, o Luke ermitão agora vem com um papo maluco que a Força está presente em tudo e em todos, e que qualquer um pode ter acesso a Ela (e bora queimar os livros desinteressantes que ninguém lê, mas todos temem). Desbrave o mundo das internets e lá você vai achar teorias que os próprios Jedis criaram o conceito de midi-chlorians para controlar e escolher quem teria acesso à Força. A Ordem Jedi era uma religião – e assim como todas – deve morrer. O que irá surgir dessas cinzas é a concepção que o acesso a este outro mundo é um direito de TODOS. Sem intermediários, sem regras, sem complicações. Quer falar com Deus? Quer mover pedras com a mente? Vai em frente, você pode e deve.

Quando eu falo esse tipo de coisas, sempre vem a pergunta se esses são conceitos de alguma linha ou religião. Eu nunca sei direito o que responder, porque essa visão é algo tão natural e fluída pra mim que não sei separar do resto da Vida. Acabo chamando de uma espiritualidade da unidade, mas a palavra “espiritualidade” já lembra espíritos e uma determinada religião. É por isso que eu gosto da palavra Holístico, pois ela traz sua parte mística, mas também está bem enraizada em definições formais de unidade.

Eu não recebi uma carta e não apareceu ninguém com o arquétipo d’o Sábio me falando que eu era especial e que podia ter acesso a um mundo diferente. No lugar disso, cresci lendo e vendo histórias fantásticas das possibilidades que a mente pode criar. Cresci também com a liberdade de acreditar naquilo que faz sentido pra mim e nunca deixar de questionar se algo não fizer. Pouco a pouco, fui me deparando com conceitos da física quântica, ensinamentos antigos, mensagens canalizadas que foram me contando que todas aquelas histórias fantásticas eram reais. O buraco do coelho que surgiu foi metafórico, e eu entrei nele sem pensar duas vezes. Ninguém nem nenhuma instituição em particular me disse que eu era especial, mas eu sabia que era – então me tornei especial. Ninguém pode tirar isso de mim. Eu chamo Deus de Universo e falo com ele o tempo todo (e sim, Ele responde). Ainda não movo pedras com a mente, mas estou trabalhando nisso (são tantas crenças para dissolver).

Essa é outra coisa que me irritou muito em The Magicians. Quentin acaba se envolvendo em algo acidental que, se descoberto, poderá ser motivo de sua expulsão, e ele morre de medo de ter que voltar para o mundo “real”. Por isso ele teme, ele mente, ele faz qualquer coisa para não ser banido desse grupo especial. E, diga-se de passagem, eles não tem muito de especial, já que todos agem da mesma forma egóica que é nosso “padrão”. Os alunos querem ser uns melhores que os outros, fazem coisas escondidas, julgam uns aos outros, acreditam que o poder vem do sofrimento e da luta. A instituição também mente, esconde informações, controla, escolhe, decide. Enfim, tenho certeza que a narrativa se desenvolve e outros pontos de vista são reconhecidos. Mas, pra mim, dois episódios foram o suficiente. Tocou demais nessa bagagem que não aceito e não ofereceu nada que me fizesse querer ficar por mais tempo. Segue a busca pela minha nova companion Syfy.

Se você precisa que alguém te diga, aqui está: VOCÊ É ESPECIAL.

Parabéns, agora você tem acesso a um mundo completamente diferente e positivo. É um mundo bem louco que você não precisa sofrer para merecer coisas boas, que você não precisa trabalhar em algo que não traz alegria e que a prosperidade e a abundância são as leis. Você foi aceito, mas esse é só o primeiro passo. Agora você precisa estudar, praticar e explorar. Sua intuição é sua bússola, seu coração é o seu Norte e – não importa o quão feio você erre – você não será expulso. A oportunidade de aprender com isso e evoluir está sempre ao seu lado. Vai e aprende, as lições estão por toda a parte.