Dezembro está trazendo a convergência de um ano cheio de mudanças de paradigmas, e a Unicult é mais uma surpresa disruptiva para a lista. O evento é a Primeira Mostra de Produção Cultural do UNICURITIBA, o qual ocorreu durante os 12 primeiros dias desse mês. Gratuita e aberta ao público, a mostra concentrou atividades de produção audiovisual, animação, jogos digitais, aceleração de projetos e palestras. Contando com 42 atrações interativas, a Unicult revelou os produtos finais de um ambiente acadêmico diferenciado – e muito necessário.


Há três séculos, o homem denominado como pai da economia moderna, Adam Smith, contemplou a sociedade e viu que ela era constituída por pessoas essencialmente egoístas. Ele acreditava que essa característica não poderia ser mudada, e para tentar tirar algum proveito de um ambiente ruim, ele chegou à conclusão que a solução era criar um contexto onde esse egoísmo compensasse. Como Joan Melé nos conta no livro Dinheiro e Consciência, esse contexto foi chamado de “mercado”, e o egoísmo de “competitividade”. Melé afirma: “Esta é a realidade ensinada nas escolas, em que se equipara o ser humano aos animais em luta pela sobrevivência. Isto é o que nos ensinam: somos assim, e dessa maneira vamos competir num mercado que se chama “oferta-e-procura””.

Animação “Gárgula e o Anjo”

Esse modelo perverso baseado no medo não funciona mais. Se a solução de Smith era que cada um cuidasse do que era seu e que a “mão invisível do mercado” regularia tudo, vimos apenas que essa mão não trabalha em prol do todo, e que o “cuidar do que é seu” é consequência de uma mentalidade arcaica que só levou à destruição. Chegamos na era da cooperação e colaboração; da consciência de nossa autoresponsabilidade visto que todos moramos no mesmo lugar e estamos em busca das mesmas coisas. Queremos viver num mundo diferente, mas para isso, precisamos pensar e agir de maneira diferente.

Animação “Memórias”

Melé está certo quando fala da propagação de ideias opressivas em gerações futuras por meio do ambiente acadêmico. É por isso que é tão importante que esse meio se atualize e repense a forma do ensinar e aprender. O que a Unicult nos mostrou foi exatamente essa mudança de pensamento, que resulta em aulas dialogadas com o professor num papel diferente. Ele não é o detentor de todo o conhecimento, e assim se inicia um processo em que todos aprendem numa comunidade de aprendizado.

Animação “Cupcake Boy”

Quem conversou com a gente sobre a maneira inovadora do curso foi a coordenadora do Curso de Design de Animação e do Curso de Jogos Digitais, Lucina Viana. Orgulhosa, ela afirmou que esse é um evento do corpo discente – foram os alunos que organizaram a exposição, com os professores ajudando na organização. Ambos os cursos são novos na Unicuritiba, sendo que a primeira turma de Animação está se formando (2 anos) e a primeira turma de Jogos Digitais está na metade do curso (1 ano). O resultado da metodologia já é notado nos 42 filmes e 7 jogos produzidos nesse período. No processo do curso, os alunos passam os dois primeiros semestres focados na pesquisa e no projeto, para que quando forem aprovados, não haja desperdício de tempo na produção do produto e que a atuação esteja alinhada.

O raciocínio do aluno é sempre estimulado. O curso de Design de Animação cobre todas as técnicas, passando por stop-motion, 2D, 3D e instalações artísticas. Na Unicult, haviam 16 instalações interativas, em que os alunos foram levados a pensar além da tela como suporte. As animações “Sombras da Guerra” e “Projeção” já foram premiadas em festivais. Há intertextualidades entre os projetos, criando filmes diferentes que se passam no mesmo universo. No curso de Jogos Digitais, não são ensinados softwares para a realização do jogo, mas sim a lógica de detectar quais são os problemas e quais as soluções possíveis.

Instalação Artística de “Cupcake Boy”

Instalação Artística de “I’m Fine”

Instalação Artística de “Max”

Viana afirma que, no futuro, o objetivo é possuir um atelier aberto com estações de produção. Mas, enquanto o número de alunos ainda não é grande o suficiente, são utilizadas salas próprias para a ação que o aluno está fazendo (criação, projeção, projeto). A forma de ensino inovadora gerou uma mostra inovadora, que além das exibições dos filmes, contou com a discussão de trabalhos na área da Economia Criativa, palestras com temática de carreiras com propósito e produção de conteúdo criativo e o desenvolvimento de um fórum integrado de ideias e roteiro. Também tinha muita pipoca, brigadeiro, água e refrigerante para a experiência cinematográfica ser ainda melhor.

Percebemos nos filmes que assistimos uma angústia com o padrão dos sistemas vigentes e a procura da conscientização desses problemas por meio das animações, esperando gerar mudanças. Temas como vidas robotizadas, busca pelo autoconhecimento, abandono de animais, depressão, o impacto de suas palavras sobre o outro e a separação em decorrência de crenças limitantes estavam presentes.

Animação “Projeção”

Animação “Welcome” e “Julia”

Animação “Max”

A mudança chega devagar, como resultado de pequenas ações no cotidiano. Ficamos muito felizes em poder testemunhar e compartilhar as ações dessa instituição, coordenação e de seus alunos. Que o evento de 2019 seja ainda maior e cheio de novidades. Parabéns a todos os envolvidos.