Vikings, guerreiros, artesãos, bruxas, celtas, curiosos, muito handmade e empreendedores foram vistos no Terra Média CWB que em sua 2ª edição ocorreu no Clube Dom Pedro II, em Curitiba.

O local, que foi decorado com bandeiras e artefatos, sediou uma celebração que foi muito além da cultura medieval, pois trouxe uma oportunidade de mostrar novos pensamentos em relação aos trabalhos. Achou confuso? Deixa que eu explico! =)

Ao conversar com alguns estandistas do evento percebi diversas coisas em comum entre eles: suas motivações, propósitos, desejo de trazer em seus negócios o resgate de valores que eram celebrados na cultura medieval. Entre alguns frequentadores também percebi o apreço pela conexão com a natureza e o ser humano. Fiquei muito surpresa e feliz com os depoimentos que ouvi. Deu para sentir o quanto a maioria está em uma vibração de seguir o coração alinhado com suas habilidades, e o desejo de mais humanização no trabalho, que por muitos anos têm se tornado nos mais variados problemas: insatisfação, maçante, estresse, desmotivação, desprazer, e sem maiores propósitos além da “simples moeda de troca da sobrevivência”.

Percebi que havia muito mais ali naquelas pessoas do que as impressões que tive no ano passado (confira cobertura da primeira edição no seguinte link), o que mostra que realmente a visão de mundo das pessoas estão mudando e está sendo refletido com força nos eventos, assim como nas outras mídias. Se você que está lendo este post já conferiu um pouco na aba “Sobre Nós” pode perceber que nós do Serial Cookies enxergamos o entretenimento como uma experiência real, e que os filmes, livros, séries, jogos, e demais entretenimentos, são meramente um reflexo da nossa sociedade. Pude perceber que isso também está sendo transmitido no meio dos eventos. Vamos conhecer algumas pessoas fantásticas e seus negócios!

Como visto em muitos filmes, livros e séries da temática haviam produtores de hidromel, uma das bebidas mais antigas do mundo feita a base de mel e água podendo conter especiarias para tonificar e acrescentar aromas. Aliás, além de uma bebida famosa é uma das favoritos de Horácio Slughorn, professor de poções da franquia Harry Potter.

Felipe Scoville do Mjolnir Meadery produz hidromel desde 2009 e a sua história é muito legal. Ele começou a produzir porque tinha curiosidade de provar a iguaria tão mencionada e apreciada pelas diversas civilizações dos livros que lia, além do incentivo dos amigos para que com suas habilidades tornasse a bebida real. Contudo, as referências escritas sobre os detalhes da receita eram muito escassas e houve muitos aprendizados com as experiências que não foram tão bem-sucedidas. Assim, com a sede de criá-la, em torno de 2010, Felipe precisou de 2 anos para chegar a uma receita que lhe fosse satisfatória, lançando oficialmente sua marca em 2012.

A arte da logomarca e o conceito foram desenvolvidos por ele e pela irmã, baseados no processo de arrolhamento das garrafas com um martelo, conectados com nada mais do que o Mjörnir, o martelo do deus do trovão Thor. Os irmãos continuaram a testar receitas e criaram combinações únicas com o objetivo de fazer uma ponte entre o passado e a América Latina, agregando frutas brasileiras e da Mata Atlântica às receitas. Alguns exemplos são pitanga, cereja do rio grande e maracujá.

É lindo ver irmãos trabalhando juntos!

Eles também possuem uma segunda linha de receitas inspiradas no México que levam cacau, pimenta e pitaia. E não para por aí, eles estão estudando formas de desenvolver um meliponário de abelhas sem ferrão e que as receitam sejam sempre a base de abelhas nacionais.

Ao lado do Mjönir estava o Jonas, do Empório Stonehenge, especializado também em hidromel e artigos medievais. Jonas sempre gostou de confeccionar coisas com as mãos, pois é a habilidade que ele explora desde pequeno. Dentre os artefatos do Empório encontramos jóias, espadas e artigos de madeira, os quais a produção é feita o máximo possível de forma manual, evitando ferramentas de apoio elétrico. A produção de hidromel veio da curiosidade em provar a bebida a partir do seriado Vikins. Na época em que ele assistiu não tinham muitas receitas disponíveis, assim como para Felipe, e então iniciaram as experiências para chegar na receita que é hoje. O objetivo dele no Empório Stonehenge é deixar a bebida o mais rústica possível para manter a raiz medieval.

O que encanta Jonas na cultura medieval é o contato com a natureza e entre as pessoas, pois havia muita vivência e trabalho manual em equipe, além de morarem sempre próximos em vilas. Estas são coisas que ele admira e aspira em seu negócio. Ele quer poder viver do trabalho que está alinhado com o seu talento, de forma saudável.

Falando do desejo de entrar em contato com produtos únicos que não existem e torná-los reais fazendo-os com as próprias mãos, temos a Ana Paula Borelli, da Sedma Craft, uma lojinha de produtos artesanais místicos. A mais de 5 anos Ana cria artefatos motivada pelo amor que cultiva desde a infância aos encantos dos mundos mágicos e das criaturas elementais, como bruxinhas e gnomos que preenchiam sua casa e quintal.

Até o cartão de visitas é handmade!

Motivada em resgatar raízes de lendas e contos mágicos que são abordados em livros e filmes com seus mistérios que vão além do que os olhos vêem, mas que possamos sentir, Ana resgata estes conceitos em suas criações. Ela incentiva crianças a amarem e a respeitarem a magia e a natureza, pois segundo ela, quando nos sentimos a sós o que podemos fazer para preencher e entender este vazio é criar um momento de conexão com a natureza. É tudo que precisamos para colocar as ideias no lugar. Eu mesma adquiri no ano passado alguns chaveirinhos fofos de abóbora e este ano um porta incenso e um colar com a runa “Laguz“, cujo um dos seus significados é nos lembrar da importância de nos conhecer e saber o que queremos.

Outra mulher empreendedora conectada com a natureza é a Mari Cardoso
da Árvore Oca Boutique. A Mari é ilustradora e escultora de pequenos adornos e jóias com inspiração em cogumelos e natureza, um encanto como ela. Um dos seus propósitos em seus produtos é convidar para sair do caos de morar em cidade – concreto, prédios, asfalto e fumaça – e fazer uma conexão com a terra e com o natural. A ideia de trazer cogumelos em peso é pela lenda de que é perto deles que encontramos os elementais da terra, como gnomos, fadas e o místico da floresta. Além disso, ainda traz um lembrete de que somos todos parte do planeta.

A história da Mari é instigante, pois ela teve no passado uma depressão justamente pela falta de conexão com o natural. Tinha uma rotina de trabalho de 12 horas por dia em um escritório fechado que tirava todo seu ânimo e tempo livre, até que chegou a um ponto que sua saúde gritou e ela não aguentou mais. Teve o despertar de que não dava mais para viver daquele jeito apenas pela “moeda de troca financeira” e foi atrás de buscar o que realmente importava e a movia de verdade, percebendo o quanto sentia falta de estar em contato com a natureza.

Desde a apreciação visual até a falta de sentir a sensação de colocar os pés na grama, ela sentia falta de se expressar e ser parte de um “todo”. Sair do automático e relembrar do que fazemos parte como seres humanos, algo essencial que muitas vezes é ignorado. Após sair do trabalho que não lhe trazia alegria ela começou um processo de reconexão com a natureza e com ela mesma, e passou a confeccionar as peças. A vida dela virou de cabeça para baixo – no bom sentido – e mudou para melhor, pois viver com saúde, não só física, mas mental e emocional, em equilíbrio são bases para uma rotina saudável.

O encanto de alguns visitantes do evento, pela cultura medieval, são em especial pelos trajes da época, como: a Tânia, de Santos, que se interessa por eventos culturais e foi ao Terra Média por curiosidade, hobby e lazer; e a Aline e a Rosalinda Correia. Rosa também admira alguns costumes tradicionais da época, como a valorização da família, que traziam o conceito de compartilhamento com essência na bondade. Aline confeccionou para o evento um traje inspirado no século 13 em uma releitura de vestidos utilizados pelas mulheres da classe mais popular da região da França.

Do ramo místico + handmande conversamos com Katiuscia & Gabriela, mãe e filha, respectivamente, dividindo o stand com dois empreendimentos: Orgonites Energia, da mãe, e Saboaria da Raiz, da filha. As Orgonites são espécies de cristais em formato de pirâmide. Dispositivos energéticos catalizadores de energia, cujo objetivo principal é neutralizar efeitos negativos de radiações eletromagnéticas de aparelhos eletrônicos. Ainda, além de manter o ambiente harmonizado e com energias positivas, possui outras funções, como proteger de mau olhado, inveja e negatividade emocional. Já a Saboaria realiza sabonetes artesanais e naturais com nada de origem animal. Usam óleos vegetais para composição, óleos essenciais para aroma e infusão de sementes com argila e carvão para a coloração. Eu trouxe para casa um sabonete que também serve de shampoo sólido com um delicioso cheirinho de canela!

Mãe e filha juntas, cada uma com o seu talento!

As duas gostam de frequentar eventos de temática medieval por apreciarem a vibe das pessoas que os frequentam, pois buscam resgates culturais. Apreciarem também os trajes da época e a forma como elas se portavam, a forte conexão com a espiritualidade e a natureza, que são os objetivos que elas procuram com os seus produtos.

No ramo musical Carlos Simas estava presente com uma exposição de diversos instrumentos exóticos. O músico, que toca temática Celta a mais de 20 anos, começou com violão e aos poucos foi se aperfeiçoando tanto a outros instrumentos quanto estilos que são abrangidos na música celta . Ele sempre foi ligado a cultura medieval através não só da música, mas também de leituras, conversas e estudos sobre cavaleiros, guerreiros e  povos antigos.

Ao lado de sua coleção de instrumentos Carlos deu várias palhinhas durante o evento e trocou ideias sobre a trajetória da música medieval e de sua carreira.

E falando em exótico, para finalizar, conheci o trabalho da Antonella Vacicchioto. Ela trabalha com artigos em madeira, osso, couro, pele, e é uma das poucas taxidermistas no país.

Taxidermia é o processo de empalhamento de animais que prepara a pele para em seguida ser costurada de modo que o animal pareça vivo, mas ela trabalha apenas com os que morreram de forma natural. Sua motivação com este trabalho é dar a resignificação da morte do animal. Fazer com que os corpos destes, que poderia estar se deteriorando no solo ou sendo descartados, durem a vida inteira para a posterioridade. Seja para estudos, como para muitas faculdades, ou para continuarem sendo amados mesmo após a morte.

Antonella é formada em História com pós-graduação em História Cultura e Antropologia. Em todo o seu processo de estudos esteve envolvida com a história da morte, desde a mumificação egípcia à conservação pré-histórica e século 19, que é o seu favorito. Século 19 a encanta por conta da literatura gótica e demais fases que surgiram a seguir com tema um pouco mais dark.

Um das coisas interessantes de ir a eventos como este e trocar ideias com as pessoas é que relembramos do quanto é importante de vez em quando voltarmos nossos olhares para o passado para entender o que era bom, o que não era para não estarmos fadados a repetir erros no futuro, e para também resgatar valores que valham a pena.

Eu também quero dizer que esta matéria em especial seguiu um pouco de todos os conceitos mais apreciados pelos amantes da Cultura Medieval, como o contato entre as pessoas e a coletividade! Digo isso porque algumas pessoas queridas se voluntariaram para me auxiliar durante e na pós-produção do evento, como na transcrição dos áudios coletados no dia em texto, para que pudesse ocorrer a metamorfose e ser transformado em cobertura! Gratidão à Pati, Cris e Djonatan. O simples fato de estenderem a mão aqueceu meu coração!