Queria saber quem foi o gênio que teve a idéia de juntar o mestre Stephen King com o roteirista de cinema Richard Chizmar. E não, eu não estou sendo sarcástica!

A Pequena Caixa de Gwendy, em inglês “Gwendy’s Button Box”, literalmente traduzido seria “Caixa de Botões da Gwendy”. Aí vocês me perguntam “Pra quê essa explicação toda?”, e eu lhes digo: realmente é uma caixa de botões, e em vários momentos durante a leitura a minha sensação foi de que ela não é pequena, não! Longe de mim querer criticar os tradutores, mas é aquela dúvida de fã chato e não vou me prolongar em torno disso. Mas o importante é que a trama toda gira em volta dessa bendita (ou maldita) caixa.

Gwendy Peterson é uma garota de 12 anos que mora na cidade de Castle Rock, no Maine. Todos (isso mesmo, todos) os dias ela sobe os 305 degraus da escadaria suicida para tentar perder uns quilinhos depois de passar o ano sendo chamada de “Goodyear” (sabem? O dirigível!) pelos colegas de escola, principalmente pelo babaca do Frankie Stone. Essa “escadaria suicida” tem esse apelido porque além do seu péssimo estado de conservação, um homem se matou lá em 1934. Não seria uma surpresa imaginar que um homem estranho, que mais tarde se apresentaria como Richard Farris, encontraria Gwendy nessa mesma escadaria para lhe entregar um saco de lona com uma caixa de mogno que mudaria sua vida.

Quando eu li “caixa de botões”, imaginei que seria uma caixinha de guardar botões, mas não, é uma caixa COM botões nela. E esses oito botões, além de ter oito cores diferentes, cada um é responsável por uma função que pode ser literalmente catastrófica, sendo agora responsabilidade total de uma menina de 12 anos. Além disso, ela também tem alavancas, uma delas que libera moedas raras, extremamente bem conservadas e valiosas, já a outra, libera um chocolate em formato de animal. Mas, claro, esse não é um chocolate qualquer, é o mais delicioso chocolate que você vai comer, capaz de resolver seu problema de peso, concertar sua visão ou melhorar seu desempenho atlético. Seu formato é tão detalhado que se pode ver toda a pelagem do coelhinho, a escama da tartaruga, penas do papagaio, de qualquer animal, já que nunca vinha o mesmo animal, nunca.

Como estamos falando de uma obra do mestre King, é obvio que nem tudo são flores: ao mesmo tempo em que esse “presente” parece maravilhoso, ele também te traz uma responsabilidade enorme. Dentre as coisas que acontecem em função dessa caixa estão: um assassinato, um acidente de carro, um ser humano “apodrecer vivo”, uma tentativa de estupro e até [SPOILER] o suicídio em massa de 900 seguidores do reverendo Jim Jones na Guiana. Um acontecimento real que foi causado pela caixa, já que sua história se passa na década de 70 e essa tragédia aconteceu em Novembro de 1978. [SPOILER]

Eu sou uma fã assumida do King (o nome do fandom seria “Kingers”, “Kinglovers” ou “Stephenatics”? hehehe), e esse livro realmente tem a carinha dele; mas eu tenho também a sensação de estar lendo o romance de um roteiro de filme, que provavelmente é o toque do seu parceiro de obra Chizmar. Eu li o livro todo em pouco mais de uma hora e me senti muito satisfeita com a história, mesmo tendo coisas que não são explicadas, ele é redondo. Nem sempre tudo PRECISA ser explicado pra ser bom, e esse mistério funciona muito bem.

As artes do livro, bem como sua capa, traduzem bem o clima da leitura: hora agradável, hora tensa, e os momentos para serem ilustrados foram muito bem escolhidos, ficam os parabéns aos artistas: Ben Baldwin e Keith Minnion (que além de ilustradora, também é escritora de ficção).

Em resumo, não vou dizer que é tão incrível quando “It – A Coisa”, não é um livro que mudou minha vida, algumas coisas poderiam ser mais exploradas, mas é bom sim. É curto e direto na medida certa, seus floreios são necessários para o suspense da história e uma ótima pedida pra quem quer um livro novo, nada cansativo e que pode levar tranquilamente na bolsa por aí.

Sendo o lançamento de Halloween da Editora Suma, do grupo Companhia das Letras, ele foi um presentinho lindo que o Serial Cookies recebeu com muita gratidão, e fica a dica de um ótimo presente de Natal praquele seu amigo que curte um suspense de qualidade sem firulas!

Curiosidades:

Sabiam que Castle Rock é cenário de várias outras histórias de Stephen King? Dentre elas estão “Cujo” e “A Zona Morta”. Também por isso foi feita uma série televisiva chamada “Castle Rock” para o Hulu, mostrando a cidade fictícia e seus mistérios. Na vida real, King realmente mora no Maine.

Richard Chizmar recebeu prêmios por seu livro “A Long December” e também edita e publica a revista “Cemetery Dance” com vários contos de terror de vários autores que lhe rendeu várias indicações para prêmios desse segmento, incluído curtas de King em uma das edições.