O fantasma de uma bruxa que morreu afogada toma posse de um pequeno barco de passeio e assombra seus tripulantes, carregando-os até o ponto do oceano onde seu corpo se encontra e os levando à loucura e à morte. O que parece uma boa premissa para um filme de terror, prometendo muitos momentos de tensão no confinado e claustrofóbico alto-mar, é, na verdade, um filme inconsistente e vazio de significado e propósito.

A Possessão de Mary é dirigido por Michael Goi e protagonizado por Gary Oldman e Emily Mortimer. A película é um desperdício de ótimos atores, colocados em papéis rasos e mal escritos. Na trama, David (Gary Oldman) compra com muita dificuldade um antigo veleiro para garantir sua própria fonte de renda e decide levar a esposa Sarah (Emily Mortimer) e a família numa pequena viagem para inaugurar a aquisição. O passeio se torna um grande drama familiar, com discussões de relacionamento, brigas e reconciliações, tudo em um nível superficial. Nesse ponto até esqueceríamos que se trata de um filme de terror se não fosse pelas tentativas frustradas em assustar o público com gritos e aparições repentinas do fantasma, sempre em momentos aleatórios e sem nenhuma construção de tensão.

A projeção passa a impressão de ser uma produção amadora e o espectro da bruxa parece tentar interagir mais com a própria audiência do filme do que com os heróis do enredo.

Uma boa ideia não necessariamente faz um bom filme. Acima de tudo, empatizar com os personagens e entender suas motivações são sempre essenciais para nos conectarmos com a obra em si. Criar conexões com outros seres humanos permite harmonizar os interesses individuais e coletivos, sendo um aspecto essencial para a convivência em sociedade. A ficção em muitos casos busca nos fazer sentir essa mesma conexão com seus personagens e tramas, abrindo espaço para questionamentos que nos tornam pessoas melhores, mais empáticas e compreensivas com o próximo.

Desta forma, um filme pode ter potencial para criar um mundo melhor, através do seu impacto no indivíduo e, consequentemente, na sociedade. O filme em questão falha em atingir essa conexão com o espectador e consequentemente, gerar reflexão, tratando-se de uma tentativa frustrada de mero entretenimento para um público bastante específico. Dessa forma, o filme conquista 1,5 cookies nada assustados.


Sobre o autor: Rodrigo Doze é formado em Artes Gráficas, faz vídeos e animações e é um grande entusiasta de filmes de terror e ficção científica. Amigo de robôs e monstros japoneses gigantes cujo hobby é chutar prédios. Dedica parte do seu tempo em sua busca pelo melhor lamen da cidade.