Para situar rapidamente, Animais Fantásticos e Onde Habitam conta o desenrolar de uma história mencionada durante os famosos 7 livros de Harry Potter: a 1ª Guerra Bruxa com a ascensão do bruxo das trevas Grindewald, e o período de estudos e publicação do livro “Animais Fantásticos e Onde Habitam”, do protagonista Newt Scamander. Relembre a nossa crítica do primeiro filme clicando no seguinte link.

Após os acontecimentos do primeiro filme de Animais Fantásticos, que encerrou com a revelação de Gellert Grindewald infiltrado no Congresso da Magia Americano (Macusa) e preso, além do mistério do Obscuro dentro do personagem Credence, temos o segundo filme da saga “Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald”.

As primeiras cenas já giram em torno de Grindelwald, preso e que na sequência realiza uma fuga roubando uma carruagem que é puxada por testrálios, cavalos alados de aparência trevosa, apresentados em HP 5. Uma fuga interessante, uma vez que animais mágicos só são visto por pessoas que presenciaram a morte e que animais do mundo bruxo não são rastreados pelos Ministérios Mágicos. Lembrando que já vimos na saga do mundo mágico de J.K. Rowling mais de uma fuga “magicamente animal”, como: o resgate do dragão Norberto por Carlinhos Weasley em HP 1, mencionado apenas no livro; de Sirius Black no hipogrifo Bicuço em HP 3; da Armada de Dumbledore indo ao Ministério da MAgia em HP 5; e o trio Harry, Rony e Hermione no dragão albino em HP 7.


Com o bruxo livre, ele vai para Paris espalhar seus ideais fascistas e recrutando membros para a causa da supremacia bruxa. Com um discurso sedutor e persuasivo, ele junta seguidores. Persuasivo a ponto de converter Abernathy, antigo supervisor de Tina e Queenie na Macusa. O que de fato e como acontece, vamos deixar de informar para a surpresa do expectador. Umas das suas principais seguidoras é Vinda Rosier. Lembram do sobrenome? Em sua família posterior, membros como Evan Rosier se tornaram comensais seguidores de Voldemort, visto pela primeira vez em HP 4, denunciado por Igor Karkaroff. Foi o comensal que arrancou um dos olhos do auror Alastor Moody. As ações lembram muito as questões ocorridas no início do nazismo, assim como a figura do bruxo que também remete muito ao Hitler. “Os fins não justificam os meios”, famosa frase de Nicolau Maquiavel, é citada por Newt, já questionando o sistema, mesmo antes de reencontrar Grindewald que discursa sobre “qualquer iniciativa é válida quando o objetivo é conquistar algo importante” na reunião de seguidores do personagem. Tudo em prol do “bem maior”. Motivos para refletir e questionamentos a fazer é o que não faltam nesse filme.




Perante aos acontecimentos e em um mundo bruxo cada vez mais dividido, o protagonista Newt é questionado sobre qual lado ele gostaria de seguir. Ele fala com toda sabedoria de um ser humano íntegro: “Eu não escolho lados”, mostrando sua filosofia, de que tudo é para todos e que não precisamos dividir a sociedade em lados.

Descobrimos que Newt foi para os Estados Unidos, a pedido de Alvo Dumbledore, para libertar o pássaro trovão. E mais uma vez, a pedido do bruxo, Newt é enviado para Paris, desta vez para localizar o jovem Credence, antes de Grindelwald, e o orienta a ficar hospedado na casa de um amigo dele que é ninguém menos que o alquimista Nicolau Flamel (e nos deparamos com a pedra filosofal! Ah, as referências!). Newt questiona porque ele é o escolhido para a missão e Alvo alega que ele é o único que não vai julgar as pessoas e que não vai querer matar o garoto.

Fazendo um paralelo à jornada de Harry, temos dois heróis muito diferentes, Harry e Newt, uma criança/adolescente e um adulto que compartilham as seguintes semelhanças: ambos já estamparam jornais bruxos acusados de serem maus elementos; os dois tiveram que enfrentar bruxos das Trevas contra sua vontade; além de guiados e orientados por Alvo Dumbledore. Porém sabemos que a batalha final será entre Dumbledore e Grindelwald. Relembrando que no doce bruxo “sapos de chocolate” que possuí figurinhas de bruxos famosos, na figurinha de Alvo é mencionada tal batalha.

Até que ponto este fardo estará nas mãos de Newt? Só de ir em busca de Credence já é uma missão e tanto. Em cenas finais, o filme deixou um ponto de dúvida de como Dumbledore poderá assumir tal tarefa. A dúvida paira no ar. Voltando ao Credence, o qual suspeitavam de estar morto, o mesmo foi para Paris para localizar a verdadeira mãe e a sua história, além de tentar entender mais sobre a magia dentro dele: o Obscuro.

Obscuro é um tipo de forma mágica etérea e sombria que é desenvolvido dentro alguns bruxos quando passam por traumas e têm sua magia suprimida. Traumas como a vergonha de tê-la, seja de forma física quanto psicológica e até inconscientemente. Transformando o bruxo em um “Obscurial”, que foi o caso de Credence, que apenas após anos de vida toma consciência do que tem e a busca pelo o que é, atrelados ao medo e às dúvidas. Aí vocês me perguntam: “e o Harry e o Voldemort, que também demoraram para serem inseridos no mundo bruxo de fato?”. Pois esta pergunta já foi feita à Rowling e ela contou o seguinte: apesar dos Dursleys terem medo da magia para informar ao Harry que ele era um bruxo, e da esperança de que sendo desagradáveis com o sobrinho, a magia se evaporaria, eles nunca o ensinaram a ter medo ou vergonha da magia. Mesmo nos momentos em que involuntariamente foram surpreendidos pelas habilidades mágicas de do nada “fazer coisas acontecerem”. Ninguém nunca suprimiu sua verdadeira natureza. Mesma coisa com o jovem Tom Riddle, que apesar de crescer com raiva, não temia e muito menos desprezava suas habilidades mágicas usando-as para intimidar outras crianças e se sentir poderoso.

Já Credence, foi forçado a trabalhar em causas anti-bruxos em uma época em que o ódio era muito fervoro o extermínio dos mesmos. E como se não fosse pouco, teve de seguir ordens de cabeça baixa e castigado todas as vezes que era conveniente para sua tutora nada humanitária. Uma mente perdida e reprimida que acaba sendo seduzido pelo discurso de Grindelwald, que no momento estava infiltrado na Macusa sob efeito da poção polissuco como Sr. Graves. A dor o fez buscar por alguém que aparentava demonstrar que se importava com ele, que na verdade só estava usando das necessidades de Credence, distorcendo a verdade para que ele fizesse coisas ao seu favor. Que no primeiro filme era a busca da criança que portava o Obscurus, que no fim era o próprio Credence, que muitos o julgavam como morto após a revelação de Mr. Graves como Grindelwald disfarçado.

Vivo, e em busca da verdade em Paris, Credence encontra o Circo Arcano, que cruelmente escravizava criaturas para o show. (Alou proteção e defesa dos animais! Mais uma questão importante nas entrelinhas para refletir). O garoto acaba com o circo quando resgata mini dragões presos e a uma criatura da espécie Maledictus, que é uma bruxa que carrega uma maldição de família que a transforma em um cobra. E o nome dela: Nagini! E aí começam a entrar grandes teorias, pois não pode ser por acaso que há na história uma cobra gigante com nome de Nagini. Há teorias de que ela será a futura horcrux e cobra de estimação de Voldemort. Mas o que será que a levou a tal destino? Pois neste filme nos deparamos com um ser recluso e com medo que foi escravizada por anos pelo dono do circo e que ao ser resgatada por Credence encontra-se em busca de uma verdade, e não cede à Grindelwald.



Aproveitando a falar sobre Paris, conhecida por ser berço de muitas artes, como a Torre Eiffel, e sediar o maior museu do mundo, o Louvre; o movimento artístico visto em algumas peças gráficas e arquitetônicas é a Art Nouveau. Suas características são muitas curvas e aço torcido apresentando motivos florais como a estátua de entrada para o Ministério da Magia Francês. No filme anterior, que se passava nos Estados Unidos o movimento artístico dominante era a Arte Deco, e é muito interessante com a produção têm todo um cuidado de inserir estas características nos cenários, pôsteres, peças gráficas e objetos. O designer de produção que acompanha Rowling desde Harry Potter, Stuart Craig, e os designers gráficos Eduardo Lima (brasileiro!!!!) e Mina realmente arrasam!




Falando em obras de Craig, vamos aproveitar para mencionar as cenas externas e internas que mostram Hogwarts! A mistura das tomadas abertas que vão aproximando no nosso castelo favorito, associados a trechos musicais icônicos de John Williams (responsáveis pelas trilhas sonoras de HP 1, 2 e 3) são maravilhosas e nostálgicas. É como “voltar para casa” e o momento dos fãs darem pulinhos na cadeira. Tanto no presente ponto em que se passa a trama, quanto quando visitamos cenas da infância de Newt. Além de vermos um Dumbledore jovem dando aulas de Defesa contra as artes das trevas (depois ele se torna professor de Transfiguração na era Riddle), vemos também uma jovem Minerva McGonagall, com suas chamadas de atenção que na verdade soam com música para os nossos corações nostálgicos! Toda passagem pelo castelo dão certo alívio de tensão ao restante do filme que apresenta palheta de cores mais escuras e sombrias, pois em Hogwarts a maioria das cenas ocorrem durante o dia e todos ensolarados e iluminados.


E voltando a falar em Grindelwald e “o bem maior” não posso deixar de mencionar as discussões que têm ocorrido no fandom sobre a participação de Johnny Depp na saga. Muitos alegam que é inaceitável que Rowling, que já sofreu em sua vida pessoal agressões físicas e psicológicas, como a ex-mulher de Depp, admitir em sua saga um ator que atualmente está envolvido neste tipo de escândalo. Não sabemos ao certo se há alguma pressão contratual, ou se há algo muito maior por trás nos bastidores. Até o presente momento, nada que veio a público de Rowling foi sem algum motivo, que ao final não nos surpreendesse com alguma mensagem. Como por exemplo, a história do personagem Serverus Snape. Odiado por quase todo desenrolar da trama na era Potter, e amado quando têm sua história revelada no último livro. Não sabemos ao certo que tipo de impacto ela quer causar; só o tempo poderá realmente nos dizer a resposta desta tensão, pois pode não ser à toa que o ator tenha sido contratado para fazer um bruxo das trevas tão horrível quanto Voldemort. Será que ela está tendo uma segunda chance de mudar? O ser humano erra, mas será que condenar para sempre é a reposta? Deixando claro que não aprovo de jeito nenhum as atitudes dele, mas confio na Rowling e no que ela quer nos passar. Nunca nos decepcionou e sempre plantou a semente do questionamento. Em suas linhas e entrelinhas sempre há algo muito maior com um propósito.

Dentre estes questionamentos, já tivemos a História de Voldemort e agora conhecemos seu percussor, com este desejo da supremacia bruxa de puro sangue. É um super tapa na cara, da mesma forma, dos moldes do nazismo. Os acontecimentos movem os personagens a enfrentar perigos que testam suas lealdades, como no caso de Queenie, apaixonada pelo não-maj Jacob Kowalski, que está perturbada e aflita perante a lei bruxa americana que impede de bruxos se casarem com não-majs. Kowalski com medo de prejudicar Queenie tenta alertá-la que por mais que a ame, não podem ficar juntos, pois ela poderia ir presa. Porém, ela cega pela ilusão de que o bem maior de Grindelwald ajudará ela a ficar com Jacob, acaba cada vez mais perturbada.

E temos o primeiro caso nos filmes de um casal que, pela lei bruxa da época, não podem ficar juntos. O que é um absurdo uma vez que a escola mágica dos Estados Unidos teve como um dos seus fundadores um ser humano não mágico (há curiosidades sobre Ilvemorny no Pottermore no seguinte link https://www.pottermore.com/writing-by-jk-rowling/ilvermorny-br). Em paralelo podemos citar que na era Harry Potter, as leis sobre os trouxas já superaram estes preconceitos, como a presença da disciplina “Estudo dos trouxas” em Hogwarts e um departamento no Ministério da magia voltado ao “Estudo dos artefatos trouxas”. Mas, mesmo assim, ainda ocorre a 2ª. Guerra Bruxa e a era Voldemort com preconceitos de uns e outros com seres não mágicos. Como ocorreu com Hermione, que mesmo sendo uma bruxa de sangue “não puro” é a pessoa mais inteligente da época, tendo uma contribuição nada modesta para derrota de Voldemort e ainda se torna Ministra da Magia. Mais um exemplo de que preconceito não leva a nada!

Voltando a Queenie, a personagem que apresentava um humor alegre e sorridente, está completamente perturbada, o que reflete inclusive em seu figurino, que, apesar de elegante, como sempre, mostra tons mais escuros, diferente dos trajes anteriores com cores alegres e vibrantes. Relembrando que Collen Atwood, responsável pelo figurino do filme (que inclusive ganhou o Oscar em Animais Fantásticos 1), já disse que em suas criações que ela têm todo um cuidado especial para representar os sentimentos dos personagens envolvidos.

Em paralelo temos Tina, uma auror que “saiu da linha” em busca da verdade, foi demitida por acreditar e agir conforme sua ideologia e foi uma das principais responsáveis por ajudar Newt a capturar Grindelwald. Firme de seus ideias, têm uma participação muito expressiva na trama.

Dois lados se enfrentam, à medida que o amor e a lealdade são postos à prova, até mesmo entre amigos e famílias, em um mundo de bruxaria, como já mencionado, cada vez mais dividido. E vêm os questionamento! Até que ponto a sede de poder corrompe uma pessoa? Até que ponto as pessoas ficam cegas e são manipuladas por um governo ou por um líder que se diz “apoiador de um bem maior”?

Quantas vezes em Harry Potter Dumbledore foi afrontado pela ganância dos bruxos menos esclarecidos e questionado pelos mais individualistas? Não foi diferente durante esta fase da história. Um grande bruxo, cujas escolhas pessoais que podem gerar preconceito, não interferem em absolutamente nada no quão excelente profissional ele é! Até que ponto a inteligência, calma e sabedoria incomoda os que possuem grande poder por conta de um cargo pouco igualitário? Para Dumbledore, conhecimento, respeito, busca pela igualdade e empatia pelo próximo são as ferramentas mais sábia para mudar o mundo. Dumbledore sempre abraçou e acolheu a todos, independe de raça ou origem. Quantas vezes na saga as ações deles, como conselhos e direcionamentos, foram divisores de águas? Vemos neste personagem muito do impacto que a própria Rowling quer causar no mundo.

Alvo sempre teve muito poder em suas mãos (varinha das varinhas, pedra filosofal, espada de Grifinória, pedra da ressureição) e nunca usou nada que fosse para o mau ou prejudicar alguém. Vejo toda a saga mágica muito além de magia, bruxos e feitiços. É uma mensagem sobre união, acolhimento, e um NÃO gigantesco às guerras, preconceitos e opressões governamentais. Por mais Rowlings, Newts e Dumbledores no mundo!

Vamos agora a alguns detalhes técnicos! O filme novamente é dirigido por David Yates, a partir de um roteiro de J.K. Rowling; produzido por David Heyman, J.K. Rowling, Steve Kloves e Lionel Wigram. Time Wizard World novamente em ação. Estrelado por Eddie Redmayne como Newt Scamander, Katherine Waterston como Tina, Dan Fogler como Kowalski, Alison Sudol como Queenie como principais. Ezra Miller como Credence, Jude Law como Dumbledore e Johnny Depp como Grindelwald. O elenco ainda inclui Zoë Kravitz como Leta Lestrange, Callum Turner como Teseu Scamander e Claudia Kim como Nagini.

4 cookies e meio, de 5, pela obra. O filme estreia no Brasil em 15 de novembro. O foco da trama desta vez não são exatamente os animais. Apesar deles estarem muito presentes e serem coletados e resgatados por Newt, que continua suas pesquisas para o seu livro. É um “filmão”, toda saga possui embates políticos bem fortes. Mas, como é uma obra de transição, muitos questionamentos e informações foram apresentadas e não saberemos das respostas agora! Como nomes, personagens e fatos.

 

 

E para finalizar fica a convite a todos (confiram informações neste Link) para uma pré-pré-estreia especial em Curitiba. Antes mesmo da própria pré-estréia, o evento será dia 13 de novembro e é um evento do Serial Cookies em parceria com o Cinemark Barigui e o fã clube Ministério da Magia.