O filme (Des)Encontros, de direção do francês Cédric Klapischi e distribuição no Brasil pela Imovision, tem como objetivo principal incentivar as pessoas a largarem a interação virtual para tirar um dia e se encontrarem de verdade. Marcar um encontro real e curtir estar perto de verdade das pessoas que nos fazem bem. Tamanha é a intensidade desse objetivo que, ao longo de sua divulgação, percebeu-se que o título remetia a conceitos bem diferentes da sua proposta original, pois passa a impressão de um filme a respeito da ausência de encontros. Dessa forma, a equipe de marketing alterou o seu nome para Encontros. Legal, não é mesmo?!

Nas palavras do poeta brasileiro Vinicius de Moraes:

A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida.

O filme retrata uma história que se passa na França, mas poderia estar acontecendo aqui, alí, ou em qualquer parte do mundo. Como o título sugere, uma série de encontros e desencontros são mostrados constantemente no enredo. E não apenas fisicamente, mas também subjetivamente: no particular, no interior do ser humano consigo mesmo, com suas alegrias, tristezas, preocupações e especialmente vazios da solidão.

Começamos vendo o reflexo dos comportamentos depressivos dos protagonistas Mélanie (Ana Girardot) e Rémy (François Civil). Dois jovens de cerca de 30 anos vivendo de forma pacata: acordando, trabalhando, e voltando para casa. Um reinicio constante desse ciclo. Acompanhamos da perspectiva dos dois personagens suas dificuldades em levar a vida dessa forma moderada, “ok”, sem algo a mais que lhes façam acordar motivados, ou dormir bem e felizes.

Ambos apresentam sintomas psicossomático, ou seja: alterações no sistema nervoso causado por estresse mental involuntário e inconsciente. Assim, além de seus problemas com o sono (ou a falta de), outros assuntos que mexem com o psicológico e emocional deles são abordados, como cargas e amarras de situações do passado que trazem sofrimentos e resultam em conversas difíceis. Ambos cuja raiz do sofrimento é algo relacionado às suas famílias. Cargas emocionais que refletem em crenças limitantes fazendo com que os dois achem que não merecem ser felizes ou estarem vivos. Cada um lidando à sua maneira, mas tendo em comum a terapia psicológica.

Rémy se fecha em sua própria “bolha”, enquanto Mélanie parte para algumas atividades “mundanas” momentâneas, assim como aplicativos de relacionamento, mas sente falta das profundidades que o sentimento de um relacionamento profundo traz; além de experienciar algumas “aventuras não saudáveis”, passa fisicamente mal um dia antes de uma importante apresentação no trabalho.

Agora vamos falar da internet. É inegável que ela é uma força muito grande e que pode tender para os dois lados, o bom e o ruim. Assim como para ficar na própria “bolha individual” quanto para ajudar a conectar positivamente ou negativamente. Contudo, nada se compara ao real encontro pessoal e as profundidades que uma conversa pode tomar e nos transformar…se, estivermos abertos para isso.

De outro lado, temos a internet. É inegável que ela é uma força muito grande que pode tender para os dois lados: o bom, ao ajudar a conectar as pessoas, e o ruim, ao manter a pessoa na própria “bolha individual”. Contudo, ainda que nos comuniquemos muito através da vasta acessibilidade da internet, nada se compara ao encontro real, pessoal, e as profundidades que uma conversa assim pode gerar e nos transformar… se estivermos abertos para isso.

Logo nos primeiros minutos do filme percebemos que para resolverem os seus problemas, ambos optaram por remédios para dormir, sendo incentivados na sequência a recorrer a médicos profissionais ao invés da automedicação. O que é interessante, pois a partir deste momento é que as coisas realmente começam a se desenrolar, pois remédios só tratam resultados fisiólogos. A crise interna precisa ser olhada com consciência, paciência e tempo. Uma ajuda ao expor seus pensamentos e sentimentos aos poucos ajuda os personagens a construírem uma forma de ver as coisas por outra perspectiva. Como disse a terapeuta de Mélanie: “fragilidade às vezes pode ser uma força”. E também é preciso abrir-se para saber dar e receber ajuda e reconhecer-se dentro deste sistema para compor um equilíbrio universal para trabalhar os altos e baixos.

Você aceita ajuda? Você pode se amar o suficiente para pedir ajuda se precisar? Você pratica bem o autocuidado? Você vê suas necessidades como igualmente importantes como as de todos os outros? Você pode aceitar um elogio? Você reconhece sua própria bondade inata? Você se inclui em seu amor incondicional? Você pode se permitir mudar do antigo paradigma do serviço martirizado, para o novo paradigma do serviço alegre e apoiado?

Via site Sementes das Estrelas, do post Dar e Receber.

As situações que ocorrem na sequência junto a desabafos das faltas que eles sentem de acontecimentos simples, mas belos da vida, nos faz pensar no quanto parte da sociedade faz de tudo para nos sentirmos quem não somos realmente. Criamos alguém que não somos para ter uma experiência superficial e que ao acabar nos vemos presos no mesmo ciclo de sentimento de culpa, vazio e não merecimento. Recusamos ajuda e brigamos com fardos que poderiam ser soltos.

Outro momento interessante do filme é a rápida passagem do gatinho branco de nome Nuggets, que passa na vida de Rémy e depois na de Mélanie, trazendo uma curta alegria a eles, mas significativas. Gatos são considerados em alguns ensinamentos como guardiões espirituais. Eles chegam na vida da pessoa quando ela precisa de uma proteção e as deixam quando seu trabalho acabou e segue para a próxima missão, ou seja: outra pessoa. Esta parte profunda não é explorada no filme e nos faz pensar que o gatinho será a conexão entre os dois protagonistas vizinhos. Porém, a primeira coisa que me veio à cabeça quando vi essa cena, foi uma conversa recente com a Camila Picheth a respeito desses ensinamentos, dizendo o quão boas energias que os gatinhos trazem. Sempre interessante observar as sincronicidades das nossas vidas com os filmes.

Perceba que o curioso é que o tempo todo estes personagens moram próximos. Frequentam a mesma mercearia e recebe as mesmas dicas, os mesmos sinais, e apenas quando realmente olham para as situações e com coragem de “jogar para o alto” medos, autojulgamento e máscaras, é que se encontraram “de verdade” para quem sabe viver uma história. Ou apenas uma amizade, por que não? Como diz, novamente a sábia terapeuta do filme: “um encontro é achar alguém que faz sentido para você”. Momentos espontâneos conversam diretamente com o que o nosso ser realmente é. Tudo funciona na base de uma faísca, metaforicamente falando, como um motor que transforma energia mecânica em elétrica.

Quando você se permite receber, você deixa os outros experimentarem a alegria que vem do serviço e doação. Você os deixa que se conduzam pelo coração e que se conectem com você de uma maneira amorosa. Dessa perspectiva, você pode ver que receber é tanto um ato de serviço, quanto de doação. (…). Abrace a alegria de dar e receber e você estará trabalhando com as energias que são projetadas para elevar a todos, das formas mais maravilhosas.

Via site Sementes das Estrelas, do post Dar e Receber.

O filme deixa um convite ao expectador, que se estiver se sentindo “um vazio que não se sabe de onde vem”, como Melánie ou Rémy, abrir-se mais para as possibilidades. Abrir-se para, por exemplo, dar e receber, confiar e viver. Vibrar-se de forma mais leve e fluída, pois muitas vezes nos surpreendemos de formas inimagináveis. Aquela sugestão mais aleatória que você recebeu pode ser algo que te traga algo único e especial. Aquela ligação para chamar alguém a algo que ficou martelando na sua cabeça pode ser algo bom. Todos merecemos ser felizes e viver plenamente ao permitir-se experienciar o acaso, o inesperado, sem roteiros ou filtros. Permitir-se confiar mais na vida!

Sua estreia no Brasil será em 03/10/2019, ganhando a nota de 3 cookies.