Esse post contém spoilers

“Quem liga para o perigo, quando se tem o amor?”. É com esta afirmação que temos um dos primeiros momentos do filme com as pequenas irmãs Ana e Elsa ao ouvir uma história contada pelo pai.

Frozen 1 veio como uma forma disruptiva de mudar a visão clássica de princesa Disney indefesa, frágil e dependente. A história de amor e coragem entre irmãs reverberou com força em telespectadores de todas as idades tornando-se um fenômeno e a animação mais bem-sucedida da Disney nos últimos anos. O roteiro trouxe personagens com pensamentos em diversos assuntos de forma diferente a que estávamos acostumados a ver nas obras do estúdio. Além de representar uma rainha nomeada ao trono sem a presença de rei, assumindo a liderança de um povo. Algo que até o momento só tínhamos visto com Mia Thermopolis (Anne Hathaway) na obra de Meg CabotO Diário da Princesa”.

Frozen 1
O Diário da Princesa

Outros assuntos igualmente disruptivos foram: o vilão é um príncipe de berço de ouro/riqueza, e o plebeu é quem conquista a personagem da realeza, sendo um menino ao invés do clichê de ser uma menina que na sequência vira uma princesa; e a quebra do padrão “final feliz”, que costuma ser de um casamento com beijos de amor verdadeiro do casal, representando o elemento que supera todas as dificuldades. Porém, em Frozen, este amor verdadeiro que superou os entraves é o amor familiar, da irmandade, sendo o relacionamento amoroso um assunto de segundo ou até terceiro plano.

#sisterhood

Como recordar é viver, bora relembrar a música mais tocada dos últimos anos antes de Shallow! Let It Go!

Let it gooo, let it goooo!

Frozen 2 traz um roteiro de mensagens ainda mais profundas, muita além de materialidade e tradições monárquicas. Muito mais que uma história de fantasia de princesas, ele traz no cerne da trama o propósito de vida e plano de alma de Elsa, que está diretamente ligada ao passado e futuro de Arandelle, e um destino condizente com a personalidade da personagem Anna. Mas o foco principal está em Elsa. A personagem por muito tempo se sentia deslocada, travada e com obrigações de ser o que esperavam dela, sendo a irmã mais velha e herdeira de um trono. No decorrer da trama de Frozen 2 ela encontra seu caminho e vemos uma Elsa mais destemida, determinada, leve e, principalmente, realizada consigo mesma.

Vamos à história de seu pai, o Rei Agnarr, mencionada no início deste texto. Há uma floresta encantada protegida pelos espíritos dos 4 elementos: água, terra, fogo e ar. Os habitantes do reino de Arandelle, da geração em que o vô das meninas, pai de Agnarr, convivia em harmonia com a floresta e com o povo nativo que a habitava. Até que em um determinado momento o rei oferece um presente em prol da paz, mas que gera desentendimento entre os povos. A briga faz com que os elementos da floresta se revoltem e bloqueiem a floresta com uma neblina impenetrável. Após os flashbacks da história, Agnarr é questionado pelas filhas sobre o que aconteceu com ele, que responde ter escutado uma voz misteriosa que o salvou, por algo ou alguém, tendo então retornado a Arandelle como rei, devido a morte de seu pai.

Voltando aos tempos atuais, a história segue com Elsa ouvindo uma voz misteriosa que só ela escuta. No começo, fica assustada e tenta ignorar, cantando que a escuta, mas que não irá ouvir porque está bem com o jeito em que a coisas andam. Porém, em um momento, Elsa lembra da canção de ninar que sua mãe cantava quando os 4 elementos se apresentam para ela, despertando em Elsa, assim, a missão de seguir a voz misteriosa, sentindo por sua magia que o chamado pode ser algo bom.

“Siga a sua intuição, para não perder a direção”.

Canção da mãe.

Ao acordar os elementos, e reconhecendo sua existência, eles tomam conta de Arandelle, obrigando todos a evacuarem em direção às terras onde ficam os sábios trolls do primeiro filme.

Literalmente uma rainha na voz de Indina Menzel <3

Ao perceberem a situação os trolls profetizam uma missão: “Um erro foi feito e deve ser corrigido. Sempre tememos que os poderes de Elsa fossem demais para este mundo. Agora tememos que não sejam o suficiente. Os espíritos da floresta não são para serem enfrentados por corações fracos.”. Com isso, os trolls prometem cuidar do povo de Arandelle enquanto Elsa vai em busca da voz, com o apoio de Ana, Kristof, Olaf e Sven.

Durante o trajeto, Olaf, que mantém o papel de alívio cômico, conta várias curiosidades, algumas reflexões profundas e outras engraçadas. Mas mesmo que em tom de comédia, muito sábias. Como o de que aos poucos vamos evoluindo os pensamentos, para que seja cada vez mais fácil superar os problemas que nos assustam. Ainda durante o trajeto é engraçado ver a forma como Ana é ansiosa e o quanto isso interfere para que ela não veja e não perceba certas sutilezas em momentos com Kristof, fazendo-a criar histórias mirabolantes na cabeça que nada tinha a ver com o ponto em que a conversa deveria chegar.

Ao chegar na floresta dos elementos, o toque de Elsa abre a neblina, que volta a ser selada quando o grupo entra. Aos poucos entram em contato com os elementos, representados por arquétipos que desafiam cada um do grupo a lidar com algo; desafios que em um primeiro momento parecem assustadores, mas conforme são domados, vão mudando de aparência em forma de metáforas às provações sentimentais e morais dos personagens.

Em um de seus devaneios sábios com justificativas bio-químicas em tom cômico, Olaf diz que “a água tem memória”. Elsa canaliza com o poder de gelo momentos no tempo, trazendo a parte da memória do que ocorreu no dia do desentendimento naquele ponto da floresta. A memória apresentada é a cena do pai jovem, Agnarr, sendo salvo por uma garota. Com esta canalização aparecem soldados de Arandelle e o povo nativo da floresta que ficaram presos na neblina desde a briga. Os soldados em posição de defesa com o juramento em proteger Arandelle e os nativos, que são conhecidos como Nothaldra, em posição de desconfiança afirmando que só confiam na natureza e que o desentendimento não teria ocorrido se o rei de Arandelle não tivesse atirado primeiro.

O grupo fica assustado pois estão lá em busca de respostas, não de briga. As meninas, ao retirarem o xale da mãe da bolsa e o vestirem, como ato de defesa e conforto sentimental, chamam atenção do povo Nothaldra que reconhecem a peça como pertencente a uma de suas famílias mais antigas, chegando a conclusão de que a mãe de Ana e Elsa era Nothaldra, e que ela foi a jovem que salvou Agnnar. Isso também acalmou a tensão entre todos criando diálogos sobre o presente do reino de Arandell e a busca deles pela voz misteriosa.

Nothaldra Honeymaren conversa com Elsa sobre a existência de um quinto elemento que liga os humanos aos 4 básicos da natureza, dos espíritos protetores da floresta.

Neste momento é interessante perceber que alguns símbolos em forma de diamante, na produção visual do filme, estão presentes na iconografia de diversos materiais gráficos, assim como sutilmente nos trajes, mostrando a ligação de alguns personagens a determinados elementos que mais os representam. Em Elsa é o símbolo da água, que subliminarmente serve de ponto de partida para o ponto principal do filme que é a origem da magia dela. Assim como cada elemento também é representado como um espírito físico que são os arquétipos enfrentados pelos personagens. Ana tem grafismos de Arandelle, pois é isso que ela representa.

O fogo é representado com chamas rosa-arroxeadas em uma salamandra. A terra é representada por gigantes de pedra. O vento é representado por um fluxo de ar consciente chamado “Gale”, e a água é representada por um cavalo aquático místico chamado “Nokk”, inspirado em um folclore da mitologia nórdica, segundo explicado pela supervisora de animação da Disney, Svetla Radioveva.

A anciã fala sobre uma ilha mágica seguindo pela floresta dos elementos, após o mar nego, a ilha de Atonala. E o mistério que fica no ar… qual é o quinto elemento mencionado pela anciã? Seguindo a missão, a voz misteriosa as leva em diante e surpresas encontram o navio dos pais que segundo haviam lhe informado havia naufragado em alto mar. Elsa canaliza mais uma mensagem através da memória da água e percebe que a missão dos pais não era a negócios, mas para ir até a ilha mágica de Atomala para saber mais sobre as origens dos poderes da Elsa.

Elsa se sente culpada pela morte dos pais e Ana a conforta dizendo que ela não tem culpa da escolha deles. Ana sente o pesar dela e toda carga que carrega e diz que quer que a irmã seja quem ela nasceu pra ser, e não o que esperam que ela seja, a encorajando a seguir em frente com a missão, que Elsa segue sozinha enfrentando mais provações no Mar Sombrio para conseguir chegar a ilha mágica. E quando ela consegue… é realmente mágico!

Ela acessa uma grande memória histórica de pontos marcantes na vida dela e a respeito da criação e origens da vida e magia naquele lugar, assim como o que realmente aconteceu no desentendimento do reino com os Nothaldras. O erro começa com o vô que teve a ideia de dar a represa de água como um presente de paz aos nativos Nothaldras, mas na verdade era uma armadilha de medo que a água um dia pudesse alagar Arandelle. E a represa impedia que água seguisse o seu fluxo, e uma vez travada pela represa construída, as terras da floresta estavam ficando enfraquecidas. O vô também tinha medo que os Nothaldras usassem da magia da floresta dos elementos algum dia contra Arandelle, e cegamente atacou o líder, desencadeando o mal entendido que ficou na história. “Um erro foi cometido e deve ser consertado”, disse a profecias dos trolls. A represa e o medo foram o erro! O vô tomou uma postura contra tudo que Arandelle defendia com o plano da represa e do ataque. O nascimento de Elsa e a magia dentro dela é a chave para o conserto. Além da quebra da represa para que a água voltasse a alimentar as terras da floresta.

Mesmo com o risco de alagar Arandelle, e perder todo o material, Ana encabeça a missão de quebrar a represa e Elsa a guiar a onda formando um escudo em Arandelle. O reino não teria futuro de qualquer forma se elas não fizessem a coisa certa consertando o erro do passado.

Elsa passou por uma linda transformação em Atomala recebendo a mensagem e direção de sua missão de vida, pois o quinto elemento que une os 4 fundametais é ela mesm! Elsa é a ponte entre os humanos e os 4 elementos. Elsa e Ana ainda representam uma ponte, que tem dois lados. A mãe teve duas filhas, cada uma com uma missão e um lado a seguir. Ana se torna rainha para reinar e cuidar do povo de Arandelle e Elsa a fazer a proteção da magia dos 4 elementos na floresta mágica em um trabalho de luz.

“Terras e povos, todos conectados pelo amor.”.

Elsa

A missão da Elsa é muito maior do que a experiência humana, não é a toa que ela não se encaixava e se sentia “estranha”. E não ter um interesse amoroso para reinar Arandelle com ela, não é o seu destino, é o de Ana, mesmo sendo a irmã mais nova. Elsa foi além de tudo que isso representa, porque ela personifica o amor como um todo, a proteção de toda comunidade e das pessoas através do amor. Ao aceitar que ela nasceu para ser o chamado e quebrar a represa, as coisas fluíram e veio o final feliz.

Falando um pouco das técnicas do filme, a parte musical não traz “letras chicletes” como no primeiro filme, não que isso seja ruim. Elas são belíssimas e muito ricas na parte instrumental; trazem letras profundas que conversam muito harmonicamente com o filme. Em um dos números musicais há a inversão de papéis no momento em que ocorre uma canção apaixonada que demonstra forte apego emocional. Número solo executada por um personagem masculino, no caso o Kristof cantando pensando em Ana. A sequência traz nos acordes uma pegada mais rock e com cenas que homenageia artistas como Queen e Bon Jovi. Ainda falando em números solos, é hilário o resumo que Olaf faz do primeiro filme para atualizar os soldados de Arandelle e o povo Nothaldra, atualizando-os sobre os acontecimentos dos últimos anos.

Sintam o ciello que m-a-r-a!

Imprescindível deixar de falar da beleza dos CGs (computação gráfica). Elementos fotográficos tratados com muito realismo que em uma experiência IMAX dá para notas desde as gotas de água do mar negro, as lantejoulas aplicadas no vestido da Elsa, e o brilho dos flocos de neve que compõem Olaf, além dos belos materiais gráficos lançados do filme. A Disney tem fama pela competência técnica em seu currículo, e Frozen 2 apresenta muito bem a riqueza e beleza em cada parte envolvida.

Os cenários foram inspirados na Islândia e podemos ver algumas comparações de locações reais na fotos abaixo:

Às vezes uma mudança bate a nossa porta e não queremos ouvir pois estamos na ilusão de uma falsa zona de conforto e não queremos enfrentar as catarses que uma mudança traz. Escolher o que parece certo em vez de arriscar com algo que a intuição está chamando. Evitando lidar com desafios e ouvindo a voz que chama. Mergulhando nisso pode-se experenciar uma mudança que literalmente transforma sua vida trazendo-o para um caminho inimaginável que se alinhe com a missão humana na terra e que conversa diretamente com a alma e com o que viemos viver. E como foi para Elsa, pode ser algo bem diferente dos velhos padrões e clichês da sociedade e até familiares. Pode ser algo que nunca imaginamos, mas algo que é honesto com o que está dentro de nossa missão e plano de alma. Trazendo uma leveza inexplicável e muita alegria.

Muitos pais colocam grandes expectativas e planejam o destino dos filhos conforme o que eles acreditam, ou que a sociedade impõem, e não ao que o filho deseja. Às vezes planejam uma carreira, um estilo de vida ou se obrigam a “passar o bastão” do que construíram atrelando ao outro algo que pode não ter nada a ver com ele. Mas pode combinar com outra pessoa, outro ser que levaria com prazer determinada tarefa, e com naturalidade lideraria tal legado, que foi o caso da Ana por exemplo. Monarquicamente a irmã mais velha que deveria seguir com o reinado, mas Elsa não se encaixava com o padrão de vida regrado que exigiriam dela. Ela é um espírito livre cuja vida foi abençoada com magia para seguir seu propósito de vida com algo muito maior que o mundo material real e as obrigações políticas. Ela serviu para ser a ponte que equilibra as forças da natureza com o lado humano para fazer o melhor que pode com a sua magia em vez de reprimi-la. Um trabalho de luz.

“Nosso mundo e nossas vidas estão mudando muito rapidamente, trazendo muitas oportunidades novas para mudar nossa perspectiva, curar nossas principais feridas e liberar velhas e rígidas crenças. À medida que avançamos nesses tempos de poderosas mudanças energéticas, todas as ilusões, bloqueios e obstáculos são removidos e liberados de nossas vidas. Como resultado, nossa vida interior está sendo eletrificada, despertando-nos para a verdade de quem realmente somos.”.

Via Homeiax

Quando se abraça um propósito e se sente feliz por isso, a área que a pessoa emite se torna diferente, iluminada. Tipo quando Kristof pergunta a nova Elsa: “Você está diferente. Cortou o cabelo ou algo assim?”, e ela alegremente responde “É… tipo isso!”.

Plena!

5 cookies chocomenta para mais uma grande produção da Disney! Tem cena pós crédito e não deixem de apreciar a trilha sonora que está disponível no Spotify. https://open.spotify.com/album/3cae1QEOydCgab8AEbV8ew