Após muita espera por parte dos fãs, Godzilla – o mais famoso dos kaijus (monstros gigantes, em japonês) criado pela produtora japonesa Toho, retorna na sequência de Godzilla (2014) no que pode ser considerado um evento importante para a franquia a nível ocidental: ainda que já houvesse investidas de popularizar o monstro gigante por aqui, com alguma tentativas não tão felizes, é a primeira vez que alguns de seus inimigos clássicos darão as caras em uma produção totalmente americana!

O roteiro gira em torno da família Russel, onde os pais escolheram pela separação. Após a perda do filho durante a aparição de Godzilla no primeiro filme, o pai Mark nutre ódio pelos monstros gigantes enquanto a mãe, Drª Emma, trabalha no rastreamento das criaturas. No meio está a jovem Madisson (Millie Bobby Brown) que ama os monstros tanto quanto ao pai. Quando um aparelho desenvolvido pela mãe – a fim de tornar a comunicação com as criaturas possível – cai em mãos erradas, isso leva ao ressurgimento do mais maligno dos monstros gigantes, Ghidorah. Cabe à Monarch, a instituição que estuda os monstros sob comando do Dr. Ishiro (Ken Watanabe), localizar Godzilla – acreditando ser ele nossa única esperança. Assim, o filme alterna entre o drama dos protagonistas e as lutas entre monstros.

Premissa estabelecida, vale ressaltar o elenco de monstros: Ghidorah, Mothra e Rodan. Além de populares, os monstros já travaram uma batalha em Ghidorah The Three Headed Monster (1964) e aparecem frequentemente na franquia japonesa desde então. A versão atualizada e ocidentalizada dos personagens respeita muito o material original e cada aparição dos monstros é grandiosa, especialmente o Rei dos Monstros que vem acompanhado de um tema musical digno da sua celebridade! E claro, as lutas são extremamente bem feitas e os fãs de kaiju podem caçar vários easter eggs. Ter visto o filme anterior não é indispensável e a diversão não acaba no começo dos créditos finais, recompensando aqueles que ficam até o fim. Claro, ainda temos a deixa para o próximo filme: Godzilla vs Kong!

Enquanto monstros gigantes lutam para defender seu território, o roteiro aborda linda e discretamente um importante tópico: a polarização de opiniões. Se a princípio temos as facções “do bem” e “do mal”, logo percebemos que as duas se declaram estarem certas e a medida que a história avança vemos opiniões pessoais diferentes dentro destes grupos que se identificam mais com o discurso da facção rival. Enquanto o mundo desaba pela guerra dos monstros, os humanos são forçados a refletir sobre a validade de suas opiniões, das consequências trazidas por elas e de que não existem apenas dois lados da moeda, a ponto de alguns finalmente cederem e aceitarem uma nova ideologia.

Aceitar a própria ignorância e perceber que o mundo tem muito a ser descoberto além do que sabemos – que afinal é o que guia nossa percepção da realidade – também faz parte da jornada dos protagonistas. Da mesma forma, ainda que não tão explícito no filme, vemos que muito das aparências enganam.

Em nosso dia a dia, cavaleiros de armadura brilhante escondem covardia e fraqueza, mas são condecorados enquanto desconhecemos humildes guerreiros com a bravura de reis. A sociedade tende a julgar os indivíduos se baseando em padrões que ela mesmo criou e os divide todos entre os “bons” e “ruins”, ignorando defeitos graves e subestimando qualidades.

Claro, existem casos realmente infelizes, mas sempre há o caminho da redenção, e o próprio Godzilla é um exemplo disso: criado como uma analogia aos terrores que assolaram o Japão durante a guerra, o monstro eventualmente se revela um nobre herói – o que já fez diversas vezes durante sua carreira de mais de 60 anos e 30 filmes, enquanto alguns lembram somente das suas poucas versões americanas. Acreditamos não só que todas essas lições são válidas, como é surpreendente encontrarmos essa fonte no que prometia ser pouco mais que uma luta livre de monstros.

Godzilla II: Rei dos Monstros, além de ser um presente para os fãs do gênero, entrega ao grande público uma história envolvente, lições profundas, atores carismáticos, música épica e monstros gigantes se digladiando. Não tem como ficar melhor! Longa vida ao rei, que merece todos os cookies que desejar, dos quais hoje ofertamos a nota máxima de 5 cookies!