O estúdio norte americano de animação Laika tem algumas características marcantes: suas produções em stop motion carregam personagens complexos normalmente envolvidos em um clima sombrio e meio gótico. Coraline (2009), ParaNorman (2012), Boxtrolls (2014) e Kubo e as Cordas Magicas (2016) não só são exemplos como constituem todo o portfólio de longa metragens da empresa até a estreia de seu novo filme: Link Perdido! Fará este jus ao legado dos grandes sucessos que o precederam?

Em Link Perdido acompanhamos o aristocrata Sir. Lionel Frost, um explorador da era vitoriana que tenta provar seu valor à nata da sociedade que apenas o desacredita. Felizmente uma oportunidade de ouro se apresenta e logo o lendário pé grande – o elo evolutivo entre o “homem e o macaco” – é encontrado, batizado como Sr. Link, e se inicia uma jornada para descobrir o lar dos Yetis, os “pé grandes das neves”. Para tanto se faz necessário o auxílio da viúva Adeline, herdeira da essencial pesquisa que indica a localização do local mítico. Temos aqui uma premissa digna de Julio Verne, que facilmente evoca A Volta ao Mundo em 80 dias.

A comédia é constante, com expressões exageradas, situações absurdas e a dinâmica entre os personagens – especialmente com o inocente Link que não tem conhecimento do mundo civilizado. Além da comédia ainda temos muita ação em diferentes cenários, digna de aventuras de Indiana Jones!

Não bastasse a comédia e aventura, ainda temos a jornada emocional do nosso protagonista: como herói ele é um exímio explorador pronto para enfrentar qualquer perigo, mas ele também se mostra egocêntrico e se importa somente com a sua descoberta, ignorando as necessidades e limitações dos seus parceiros, tratando-os como simples ajudantes prontos para cumprirem seus caprichos. Felizmente temos uma mulher no grupo que serve como a voz da razão e não hesita em perder a calma e apontar os defeitos do líder da expedição. Sim, esta estrutura lembra os gibis do Tio Patinhas…

Ao contrário de Coraline ou ParaNorman, o estilo sombrio desses clássicos não está presente em Link Perdido. Pelo contrário, o que reina é um colorido intenso e deslumbrante! E claro, a animação está melhor do que nunca, deixando a parte visual do filme realmente impressionante! Até os créditos finais dão continuidade ao deslumbre da produção, com a música divertida, piadas adicionais e até um micro “making of” mostrando como uma das cenas foi animada. Finalmente, no último instante, temos a logo do estúdio Laika fazendo referência a todas as suas produções – de forma simples e especificamente para quem se lembra desses filmes – atestando que sim, Link Perdido tem toda a qualidade que se espera do estúdio. E se em diversos momentos o roteiro evoca outras obras, neste caso, apenas mostra respeito e homenagem à alicerces do gênero de aventura!

Claro, não podíamos deixar de apontar a seriedade que o história carrega: ainda que o filme explicitamente coloque o colonialismo britânico como vilão, e a prática de subjulgar culturas “selvagens” em nome da coroa, também fica claro que o maior defeito da vilania é não aceitar a vinda de um novo tempo, de uma nova cultura, um novo mundo mais esclarecido que não precisa se dedicar à valores retrógrados e obsoletos. Entretanto, em  mundo onde a maioria das animações do cinema são por Computação Gráfica, Link Perdido se utiliza da antiga técnica de Stop Motion – prova de que conceitos antigos podem sim ser bem vindos na atualidade e que não precisam ser abandonados.

Não podemos deixar de recomendar Link Perdido e a oportunidade de aproveitar a sua exibição nos cinemas brasileiros – com a distribuição de ninguém menos que a célebre Buena Vista. A produção não só merece vários cookies como de fato, em dado momento da aventura podemos conferir os heróis degustando cookies ingleses! Assim, oferecemos 4,5 cookies para a Laika repor os seus estoques!