Em O Banquete de Platão, sete homens se sentam para discutir o que é o amor depois de uma longa festa regada a excessos. Em O Banquete de Daniela Thomas, os personagens fazem o mesmo durante o processo de chegar aos excessos. No entanto, como acontece frequentemente, o amor aqui é confundido com muitas outras ações e reações do ego, transformando um suposto jantar de celebração em um grande expurgo que se intensifica até chegar no completo caos. Não era Pausânias que alertava sobre a diferença entre Eros Celeste e Eros Vulgar?

As primeiras imagens do longa ditam o tom da trama: uma mosca pousa em uma planta, algo aparentemente normal e sem perigo. No entanto, a planta era carnívora, o ambiente era uma armadilha, e a mosca é devorada por seu arredor. As próximas cenas focam o grande espelho da sala de jantar que é o cenário principal da história. Sua superfície é toda fragmentada, distorcendo a imagem daqueles que se aproximam e revelando várias camadas da mesma pessoa.

A intenção parecia boa, um jantar para homenagear amigos. Nora, a anfitriã, assume inicialmente a visão de Fedro, de que o amor é beleza e tudo que há. Ela oferece a festa a Bia e Mauro, que estão completando 10 anos de casamento. É ao longo da noite dessa trama de diálogos que os outros convidados chegam aos poucos, revelando as conexões oficiais e sombrias entre eles. Junto com as taças de vinho sendo servidas uma atrás da outra, as visões dos filósofos de Platão vão implementando as falas cheias de palavrões e obscenidades dos personagens, que deixam sua inibição de lado e constroem um clima disfuncional intenso.

Todos os atores entregam suas falas de maneira orgânica e funcional, mas é para as personagens femininas que destino meus aplausos. Drica Moraes, Mariana Lima e Fabiana Gugli demonstram um trabalho sublime com suas expressões e linguagem corporal. Elas transitam de bela maneira entre a sobriedade e a loucura, do passivo ao agressivo, da vítima ao algoz. A sensualidade e a luta pelo poder é a temática desse encontro que forma alianças e inimigos diferentes a cada momento. Mesmo com um leve tropeço em certo momento na narrativa, somos hipnotizados pelos trocadilhos de palavras e conduzidos pelas emoções reprimidas até chegar no anseio descontrolado por controle do ego em todo o seu escopo e desejo; mascarado por ações e desculpas em nome do amor.

Daniela Thomas realiza uma produção intrigante como roterista e diretora. Em um momento crucial para repensar crenças, padrões e comportamentos que são reproduzidos há séculos, O Banquete chega aos cinemas para questionar e entreter com sua tragicomédia de costumes.