Rainhas do Crime é um filme todo arquitetado para trazer uma mensagem de empoderamento feminista. Protagonizado por Melissa McCarthy, Tiffany Haddish e Elisabeth Moss, e com a direção de Andrea Berloff, a história se situa na Nova York de 1978. As três são casadas com mafiosos irlandeses em Hell’s Kitchen, e quando eles são presos, elas se veem obrigadas a assumir o controle dos negócios. Uma ótima trama de empoderamento, mas que não representa o feminismo. Precisamos conversar sobre polaridades e o equilíbrio das energias femininas e masculinas.

No momento, vivemos numa realidade tridimensional em que a dualidade é a regra. Por isso, a energia harmoniosa que rege a vida se separou em duas: a feminina e a masculina, cada uma com suas particularidades. A feminina possui qualidades da intuição, compaixão, emoção, criatividade, empatia, colaboração e pensamento holístico. A masculina traz o pensamento analítico e racional, competição, determinação, pensamento linear e ação.

Importante salientar que as energias do masculino e feminino não são atreladas aos corpos biológicos dos respectivos gêneros. Como já dito, as duas energias são polaridades de uma fonte única, que em equilíbrio geram corpos e mentes saudáveis. A energia feminina é representada pelo lado direito do cérebro, uma força elétrica. A energia masculina é o lado esquerdo do cérebro, uma força magnética. Imaginem o mundo que poderíamos construir se todos os seres humanos possuíssem essas duas energias alinhadas e em equilíbrio. O mundo em que vivemos é apenas a materialização do desequilíbrio que carregamos em nossos próprios corpos.

Quando a narrativa do filme pega essas personagens que possuem atributos de submissão e as transformam em mulheres que tomam conta dos negócios, matam, protegem seu território e que irão fazer qualquer coisa para manter seu poder, elas não estão buscando equilíbrio. Elas estão apenas fazendo uma inversão de papéis. Pega-se os corpos biológicos masculinos em desequilíbrio e troca-se por corpos biológicos femininos em desequilíbrio. De qualquer forma, temos aqui a energia masculina em distorção. Acabamos tendo personagens femininas perseguindo o poder apenas pelo poder egóico, assim como os personagens masculinos. Um não enxerga o outro.

Como resultado do desequilíbrio dessas energias com a exacerbação do masculino, desenvolveu-se um patriarcado envolvendo o poder do ego e o domínio da competição. Dessa maneira, Rainhas do Crime realmente traz uma mensagem poderosa, mesmo que não seja aquela que se pensaria: o patriarcado pode sim ser perpetuado por mulheres.

Tendo tudo isso em vista, vale também lembrar que o feminismo não visa trazer a mulher como superior ao homem. O objetivo do feminismo é chegar no equilíbrio dessas duas forças, num convívio harmonioso. No entanto, com tantos séculos da figura feminina sendo subjugada e inferiorizada, é necessário esse crescimento do empoderamento feminino em frente ao masculino, mas não para ser maior, e sim para que ambos sejam iguais.

Esse ano de 2019 está trazendo muito do crescimento da energia feminina, e isso fica bastante evidente nas narrativas de vários filmes lançados nos últimos meses. Isso é ótimo, pois finalmente estamos no caminho de curar nossa sociedade profundamente dividida. Porém, é muito necessário ter em vista os conceitos aqui trabalhados, senão podemos seguir o mesmo caminho retratado no filme, e continuar perpetuando o desequilíbrio da energia masculina apenas trocando um corpo biológico pelo outro.

Cabe finalizar o texto também evidenciando que o grande “problema” de Rainhas do Crime não é apenas seu equívoco ideológico, mas também de desenvolvimento de roteiro, que é previsível e nada original. Damos para a produção 2,5 cookies, que vão principalmente para a ambientação e a trilha sonora maravilhosa do filme – assim como para McCarthy, Haddish e Moss, que realmente deram o seu melhor dentro de um roteiro e direção que não ajudam.