Um blend entre documentário e narrativa artística, passeando pela vida obra do icônico e eterno David Bowie, como se a história fosse contada pelo próprio olhar dele. Ele, que mesmo não mais entre os encarnados não para de surpreender e lançar novidades dentre arquivos e materiais guardados e revelados.
Moonage Dream é um filme apoiado pelo Instituto oficial David Bowie, eles cuidar do legado do artista que se mantém atual e influencia a sociedade além do meio musical. O Instituto o responsável por conceder o portal de acesso a caixa de pandora das múltiplas possibilidades ao diretor Brett Morgen.
O resultado é fiel ao nome do longa. Devaneio Lunar, que também é o nome de uma música que fez parte de um dos primeiros álbuns de Bowie (“THE RISE AND FALL OF ZIGGY STARDUST” – 1972) não por acaso foi o álbum de um dos personagens mais marcantes e idealizado por Bowie: Ziggy Stardust.
A música, “Moonage Daydream”/”Devaneio Lunar”, traduz em sua letra sutilmente um pouco da caixa de pandora artística, confirmando que Bowie sempre foi e viria a surpreender. E o filme igualmente traduz toda esta essência com recursos de cores, edição, ilustrações, fotos, entrevistas e vídeos pessoais através de uma montagem brilhante que não deixa com aspecto de documentário tradicional, mas uma narrativa bem pessoal que se foi construindo a partir de materiais originais e recursos visuais dando a sensação de estarmos acompanhando o próprio Bowie e não uma seleção de arquivos.
“I’m an alligator
I’m a mama-papa coming for you
I’m a space invader
I’ll be a rock ‘n’ rollin’ bitch for you”“Eu sou um crocodilo
Moonage DayDream (1972)
Eu sou uma mamãe-papai que vem para você
Eu sou um invasor espacial
Serei uma vadia do rock’n rollin’ para você”
Interessante que ao pensar no arquétipo do crocodilo, é uma figura que transmite determinação, poder, e a energia da transformação. E o que seria de Bowie com todas as suas “estranhezas” sem a determinação de chegar onde chegou? O próprio alegou que desde seus 16 anos estava determinado e decidido a trilhar uma grande carreira, mas acima de tudo uma grande vida. Personagem após personagem, aos passos em que ele foi mergulhando em si mesmo e se encontrando, se conhecendo e vivendo.
“Desde os 16 anos, eu estava determinado a vivenciar a maior aventura que alguém pode ter”.
David Bowie
Bowie sempre me encantou por conseguir ser de tudo e ao mesmo tempo sem deixar de ser ele. De abraçar todas as vertentes artísticas e com maestria trazer tantas metáforas e pensamentos profundos e à frente de seu tempo. Uma pessoa que trazia ideias de ampliar horizontes por meio de viagens e enfrentamento de situações desconfortáveis; e expansão da mente criativa pelos mistérios e peculiaridades do cérebro humano, em um tempo em que não se falava disso de forma séria e que demais artistas buscavam “outros recursos não saudáveis”.
Ele respondia perguntas rasas com sensibilidade e profundidade filosófica que os jornalistas na época não compreendiam. Ele é o cara que mais deixou eater eggs seu último álbum (Black Star – 2016), quando nem sabíamos da produção, e com tudo que tem sido revelado pelo Instituto DB, há um caminho aberto para obras póstumas.
As formas como Bowie buscava inspirações e trabalhava a sua bagagem criativa para transpor linguagem sentimental, vivências e formas de olhar o mundo em música, cenário e clipes é uma miscelânea riquíssima de aprendizagem pra todas as áreas, não só a criativa. E a sabedoria por trás, como a consciência da impermanência, são diálogos presente do primeiro ao último momento de Bowie em vida. Assim como o seu olhar sobre às mudanças constantes (Ouça “Changes”), os questionamentos do seu lugar no mundo (Ouça “Sound and Vision”), o aprender com a solitude, e as lições do amor e relacionamento romântico são intensidades presentes na jornada e essência dele e refletidos em seu legado atemporal.
“Don’t you wonder sometimes?
Bout sound and vision.
I will sit right down,
Waiting for the gift of sound and vision
And I will sing,
Waiting for the gift of sound and vision
Drifting into my solitude, over my head”“Você não se questiona as vezes
Sound and Vision
Sobre o som e a visão?
Eu vou sentar bem aqui embaixo,
Esperando pela dádiva do som e visão
E eu vou cantar,
esperando pela dádiva do som e visão
Perambulando pela minha solidão, pela minha cabeça”
Me recordo quando o vi pela primeira vez na aula de Teoria do Design (obrigada Professora Landal), e fiquei impactante pensando “Quem é ele? Que música é esta? Que paradoxos existência são estes em suas letras?…Definitivamente eu quero saber mais!”. E me tornei uma admiradora desde exemplo de artista multifacetado, que me influenciou fortemente na busca da minha própria forma de me expressar nas múltiplas artes. O filme traz este estímulo ao olhar todos os caminhos possíveis de expressão áudio visual e os diversos caminhos artísticos que existem. Pois a arte… é a carne! É o expurgo dos sentimentos e do olhar de pessoas sensíveis e suscetíveis a olhar o mundo de forma que os outros não percebem.
“Você sabe que há uma existência mais profunda. Talvez uma confirmação provisória de que, de fato, não há começo nem fim”.
David Bowie
Para os que não conhecem Bowie, vão conhecer este ser tão único e tão todo! Para os já conhecem, não podem perder e manter acesa a luz da nave do Major Tom para as próximas gerações! Ele foi alguém mais sensível, otimista e sábio que as pessoas normalmente imaginam, e Moonage Daydream celebra isso.
“Eu amo a vida. Não desperdicem 1 minuto! Não desperdicem 1 dia”.
David Bowie
Há e haverá muito mais o que falar. Começa pelo fim, termina pelo começo sem deixar de seguir a linha temporal e mostrar a beleza do abstrato, simbólico e figurativo. Sempre terá o que falar e descobrir sobre David Bowie!!! Filme teve notas de excelência no famoso Festival de Cannes de 2022, 5 cookies!
“Se você precisar escolher entre uma coisa e outra, escolha as duas”.
David Bowie
BÔNUS: Um pequeno mergulho na obra e vida de Bowie, pela minha pessoa, disponível nas seguintes matérias já publicadas: