Esse post contém spoilers.

De origem norte-americana, o filme mãe! (mother!) – escrito e dirigido por Darren Aronofsky, e estrelado em 2017 por Jennifer Lawrence, Javier Bardem, Michele Pfeiffer e Ed Harris – se mostrou ser mais um daqueles entretenimentos de suspense e terror psicológico que mais impactam de início pelas estranhezas de narrativa e visual, ao invés de suas mensagens, que custam uma dedicação extra para serem entendidos dado o alto nível de metáfora, e Mãe! é um filme bíblico-metafórico na maior parte do tempo. Por isso aconchegue-se melhor na sua cadeira que vamos clarear um pouco mais toda essa história.

Para adentrar nas explicações, facilita bastante começarmos com as identificações dos personagens feita nos créditos do filme, pois eles não são nomeados e identificados na trama e suas referências são bíblicas. Nos créditos, então, vemos Javier Bardem como Ele (Deus)Jennifer Lawrence como Mãe (Mãe Natureza), Ed Harris como Homem (Adão)Michele Pfeiffer como Mulher (Eva)Domhnall Gleeson como “O filho mais velho” (Caim), e Brian Glesson como “O irmão mais novo” (Abel). Assim, desse contexto, podemos concluir que a casa é o Mundo/Terra, casa em que se passa todo o filme.

E para facilitar ainda mais na compreensão, achamos interessante separar o filme em duas partes, devidamente identificadas a seguir.

Da esquerda: Abel, Eva, Caim, Adão, Deus e Mãe.

PARTE 1: Faça-se a… luz?

Essa parte, ao nosso ver, é dedica ao conto bíblico interpretado da Bíblia.

De início, o filme… aliás… espere um pouco! Meu caro leitor, o que havia no início de tudo? Bem, parece que “nada”, certo? É. Talvez. Teve que Deus, portanto, criá-lo, e no filme não é diferente. “A criação”/”o início de tudo” é demonstrada no iniciar do filme ao mostrar uma mulher incinerada junto ao seu ambiente em volta, com tudo sendo consumido pelas chamas – sendo, provavelmente, a destruição de outra realidade – com a sua consequente recomposição/renascimento em algo novo, com as chamas sendo magicamente condensadas, por Deus, em uma Joia cristalizada, transparente e linda, sendo colocada em um pedestal, fazendo dela começar um novo início: a casa/Mundo/Terra.

Após esse começo maluco pra quem não tinha a referência bíblica, o filme apresenta um homem e uma mulher, supostamente um casal, mas que são Deus e Mãe, vivendo em uma mansão vitoriana (o Mundo) em meio a um campo afastado da cidade urbana. O filme apresenta primeiro a Mãe, acordando assustada em sua cama e preocupada com seu suposto marido, pois ao acordar exclama: “Amor?!”, ao ver que ele não está deitado ao seu lado, saindo então em sua procura pela mansão.

Pouco tempo depois, quando Mãe se encosta na lateral da porta principal da casa, aberta, e logo sai para admirar a bela visão da natureza dali: céu azul, sol forte e pastos verdes, Deus aparece repentinamente, desconversando aos breves questionamentos de Mãe de onde esteve, ao responder que não estava mais conseguindo dormir por precisar de um tempo mais reservado.

Esse início já mostra de forma muito resumida o pensamento central desses protagonistas, que claro, só fica mais fácil de se identificar uma vez visto o filme, pois seus padrões comportamentais se repetem em ênfase de seus significados e mensagens.

Mãe é cuidadosa, organizada, devota aos cuidados e aperfeiçoamentos da casa, do lar, sempre cuidando de tudo, sendo esse seu traço mais forte, que por sua vez se estende ao marido, pois sempre corresponde as vontades dele, mesmo contra sua vontade interna, em evidente papel de submissão, se conformando e se bastando ao convívio daquela moradia conjunta, havendo, portanto, a mensagem da personagem pelas figuras do cuidado doméstico e da mulher dedicada às vontades do homem.

Deus, por outro lado, interpreta de forma cínica o Deus judaico-cristão, sendo uma figura de ambição e egocentrismo, evidenciado pelas reações misericordiosas com a humanidade que visam enaltecer a si mesmo. No decorrer do filme, ele se mostra como um Poeta – sendo chamado como tal a partir de determinado momento – em evidente crise criativa, daí o motivo de repentinamente querer se isolar e, mais tarde, querer conviver cada vez mais com pessoas, independentemente de suas personalidades e localidades, para tentar reacender sua inspiração criadora, o que confronta diretamente com as vontades de Mãe, que somente é pressionada com afazeres e cuidados para satisfazer tais pessoas. Deus precisa a todo momento ser adorado, sempre se curvando para esse objetivo pelos seus frequentes perdões, sejam por destruir sua casa ou por matar seu filho. Ele representa, portanto, não um ser piedoso, mas uma figura mimada.

Pôsteres oficiais que dão dicas das representações dos personagens.

Estabelecido assim o conflito da trama: a briga entre a paz do lar/casa (do Mundo com a Natureza) e as constantes interações pessoais indesejadas nele (a humanidade que a usa indiscriminadamente).

O início do conflito ocorre com a presença da humanidade, quando um homem, Adão, repentinamente chega na mansão, ao mundo, pelo final da tarde. Oras, é evidente, pois foi o exato momento de quando o Paraíso passou a ter quebra em seu equilíbrio, pois antes das interações pessoais seus campos permaneciam perfeitos e devidamente cuidados. Deus, então, recebe o senhor, que desde logo têm uma produtiva conversa na copa da sala, no que Mãe, relutantemente, segue o exemplo de seu marido, e a pedido dele, prontamente vai à cozinha fazer um belo chá de boas-vindas, onde então, sente uma forte tontura e ânsia de vômito. Sinais defensivos de, talvez, um quadro febril em sinal da doença e dos problemas advindos dela que ali se iniciava.

Deus e Adão.

Ao longo desse dia Mãe precisa a todo instante limpar e reorganizar a casa por onde os dois passam. As reações dela perante os dois é realmente desconfortante, pois Adão é muito inconveniente e Deus parece mal ligar por ter gostado tanto de sua companhia, já que Adão se diz ser muito fã de seu trabalho (lembrando que Deus é mostrado como um Poeta).

Então, para o começo do pesadelo de Mãe, quando já noite, Adão decide ir embora, mas Deus, em plena gentileza de um grande hóspede, o convida para ficar naquela noite, ao repudio imediato de Mãe, que reage com espanto lhe dizendo: “Como que um estranho ficará assim em nossa casa?!”, mas que acaba concordando com o marido com feição de desprezo instantes depois. Mas alto lá, nada é tão ruim que não possa piorar. Adão, naquela madrugada, parecia passar muito mal, no que Mãe acorda com barulhos estranhos, passando a procurá-los em sinal de preocupação, encontrando Adão ajoelhado no vaso sanitário, com uma ferida em sua costela, enquanto Deus o ajuda no procedimento. No dia seguinte, a campainha toca e Mãe atende, se deparando com uma mulher: Eva.

Adão e Eva. Bonitas as feições de quem não conhecemos.

Infortúnio pouco é bobagem, e agora Mãe tem mais uma pessoa para lidar. O filme passa, então, a mostrar mais desequilíbrios entre o bom momento de novas conversas produtivas e algazarras, de Deus e seus hóspedes, com a quantidade de gerenciamento e problemas que Mãe tem que lidar, os quais são constantes, instantâneos e quase que ao mesmo tempo. Mãe começa a se tornar cada vez mais frustrada com seus hóspedes, enquanto Deus implora para deixá-los ficar, argumentando que isso faz com que a casa se sinta viva com ele. Os desdobramentos disso recaem na Joia do começo do filme.

A Joia, segundo Deus, é de onde vem a sua fonte de inspiração, e que por isso ela fica em seu escritório. Porém, naquele momento, ela não tem mais gerado o mesmo efeito de antes. Deus a apresenta rapidamente a seus belos hóspedes quando estava mostrando sua casa até chegar em seu escritório, no que ficam fascinados com a beleza transparente da pedra, ainda que inerte. Contudo, Deus os proíbe de entrar em seu escritório sozinhos, mas Adão e Eva não levam muito a sério, em especial Eva, que pelos momentos seguintes do filme atenta Adão a pegá-la e vê-la novamente. Em um momento de distração, conseguem entrar no escritório sem que Deus perceba para assim usufruírem de cometer o ato proibido de ver e tocar a Joia, que faz alusão ao Fruto Proibido, e que causa a ira de Deus posteriormente, expulsando-os em fúria (banindo-os) de vez do Éden… quer dizer, de seu escritório.

Deus vigia tudo de cima.

As interações expondo os conflitos entre esses personagens é fluída e intrigante. Sem o conhecimento prévio da identidades desses personagens, a trama passa de forma genuína o confronto entre as personalidades do “casal marido e mulher” (Deus e Mãe). O desgaste de Mãe é tormentoso nos cuidados da casa e de servidão com Deus e seus hóspedes (humanidade). Enquanto eles se deleitam em conversas e consumos de bebidas e fumos, Mãe é acionada a todo momento parar limpar sujeiras, desfazer desordens e estragos não intencionais na casa, mas que de pronto já nos causam desânimo como expectador em visualizar esses estragos, pois tais limpezas e concertos demandam tempo e empenho que uma simples passada de pano não resolve. O mal-estar fica generalizado e impregnado, em flagrante contraste na paz que supostamente a Mãe estava habituada a viver.

Após o incidente com a Joia (Fruto Proibido) tudo piora ainda mais. Adão e Eva passam a se sentir cada vez mais em casa, e portanto mais invasivos, em frontal desrespeito com Mãe, a anfitriã, com o seu pico acontecendo enquanto são flagrados em um momento íntimo por Mãe, que sequer reagem em espanto quando flagrados.

Confortável, né? #ironia

É a legítima briga da Mãe Natureza contra as atitudes desregradas daqueles que nela vivem (humanidade), tendo em vista que quanto maior o seu tormento, maior a quantidade de hóspedes indesejados, independente de quem sejam, os quais são cada vez mais invasivos.

O estopim acontece quando os irmãos Caim e Abel chegam na casa, já irritados, e passam a brigar pelo testamento de seu pai – em crítica a típica briga familiar por herança -, pois o irmão mais velho (Caim) não ficará com nada, resultando, é claro, na morte de um dos dois pelo outro. Abel é fatalmente atingido por uma maçaneta de porta na cabeça, desferida por Caim. Esse evento desestabiliza ainda mais o humor da casa, pois agora temos a presença da morte na casa. Na noite desse mesmo dia, dezenas de pessoas chegam de repente na casa, todas bem vestidas e em cor predominantemente preta, evidenciando assim o cenário de luto que estava para acontecer na casa, a convite de Deus, que quando havia levado naquela tarde Abel ao hospital, convidou sua família por suas únicas razões em “pleno gesto de compaixão” com os familiares.

Se para Mãe, 3 pessoas (Deus incluso) já era difícil de lidar, agora, com cerca de 30, tudo fica ainda mais caótico aos olhos dela. São incômodos de todos os lados: pessoas pintando a parede da casa em “agradecimento” pela hospitalidade; casal de jovens querendo um momento íntimo, ainda que nesse momento fúnebre; dentre as mais diversas ações de pessoas em uma “festa”, cada qual com seus interesses daquele momento, seja um momento a sós, uma bebida, ou um local para simplesmente ficar e conversar.

Novamente, o filme quer dizer que a humanidade é invasiva e incômoda demais. Ninguém ouve a Mãe que sempre pede educadamente para não fazer algo, o que resulta, é claro, em objetos quebrados e problemas logísticos pra casa. Outra intenção do filme com esses exageros é passar o sentimento de impotência contra certos eventos ou grandes massas, em que por vezes o único o jeito é esperar o fenômeno acontecer por não ter o que fazer, para só então, depois de cessado, fazer algo a respeito, tal qual a calmaria que procede uma forte tempestade.

Quando acontece a gota d’água, literalmente, com um casal de jovens que insistia em sentar encima da pia não chumbada, que cede após desobedecerem os inúmeros avisos de Mãe, quebrando toda a parede e fazendo jorrar água pra tudo que é lado. Mãe surta e grita para que todos desapareçam de sua casa! É a alusão ao dilúvio, em que a Natureza, em um gesto de ira, pede pela limpeza daquele mal que a assolava, e que Deus enfim atende!

Após um momento de paz pela ausência de indesejados, Mãe repreende Deus e então, em reconciliação, têm um momento íntimo e verdadeiro.

Na manhã seguinte, Mãe acorda dizendo a Deus que está gravida, que reage com um sorriso feliz e sincero, e com isso sai correndo para seu escritório escrever ideias para seu poema em sinal de inspiração. Ele diz que a ama. Ela passa a ler o poema, visualizando uma cena da casa deles toda queimada e ambos segurando as mãos e fazendo todas as chamas sumirem e rejuvenescerem a casa e o lugar em volta novamente. Ela chega a chorar, dizendo que é lindo, mas muito pesado.

Mãe então joga fora toda a droga amarela que tomava no banheiro de tempos em tempos para se acalmar. Aqui reside um mistério que o diretor afirmou que jamais contará. Pensamos, então, que talvez sejam doses de tolerância ou válvulas de escape para ajudar a manter a calma em momentos difíceis. Por uma análise ambiental, pode ser a magia encantadora e revigorante dos raios do Sol em um belo dia de céu aberto. Por uma análise mais factual, um remédio contra crise aguda de infarto. De toda forma, agora com a felicidade plena que Mãe sempre quis ter e agora visualizada no futuro próximo, tal droga parecia desnecessária.

PARTE 2: Nada é permanente, exceto a transformação.

Essa parte, ao nosso ver, é focada em desdobramentos, críticas sociais e alegorias religiosas.

O tempo passa e Mãe está com barrigão. Ela está elegante enquanto prepara uma janta farta em comemoração da venda de todas as cópias do poema, que nesse momentos podemos concluir que é a própria Bíblia já passada à humanidade. Afinal, a Bíblia são as palavras de Deus, não é?

A partir desse momento, pensamos que o filme passa a criticar a forma com que a Bíblia é interpretada, assim como, os vários desentendimentos da humanidade acerca de suas visões de mundo, sejam religiosas ou não. Essa ideia é demonstrada com várias cenas ocorrendo uma atrás da outra, o que causa muita estranheza no expectador ao ver tanta coisa estranha e bizarra acontecendo ao mesmo tempo e de repente. Havendo, inclusive, transições de épocas diferentes da humanidade, o que fortalece a ideia dos “desentendimentos da humanidade”, como talvez a mais forte delas: a guerra.

Tudo começa quando um grupo de cerca de 5 fãs chega na casa, sendo recepcionados por Deus, surpreso por nem ele ou Mãe terem convidado ninguém. Em segundos, todo aquele tormento envolvendo pessoas se reinicia, pois mais fãs chegam e começam a entrar na casa para usar o banheiro. Mais fãs chegam, a ponto de parecer um estádio de futebol, repleto de gente se espremendo pelos corredores, que passam a possuir comportamentos hostis, quebrando a casa e roubando seus pertences. Embora aparentemente repentino, essa conduta hostil com as estruturas da casa reflete aqueles que frequentam templos e demais lugares tidos como sacros e querem pegar um “pedacinho” de lá pra levar embora, quando a ideia do templo é louvá-lo ou adquirir seu conhecimento. Certamente “um pedacinho” não faz falta, mas some isso com a imensa quantidade de fiéis do local e temos um problema real e difícil de ser contornado.

Mãe, grávida e cada vez mais desorientada, passa a andar pela casa em constante preocupação pela mesma, vendo vários cenários de caos em cada cômodo, os quais correspondem aos problemas históricos causados pela humanidade. Vejamos:

1) Brigas de milícias, com vítimas sendo executadas com tiro na cabeça enquanto estão deitadas no chão, amarradas e com saco na cabeça;

2) Multidão descontrolada sendo contida por militares e policiais;

3) Cultos religiosos ou ideologias que mal interpretaram suas mensagens e que brigam ferozmente entre si por elas, ou falsos profetas, tal qual falsos pastores, que usam da religião para fins econômicos próprios por promessas impossíveis, sob o manto de que nada é impossível pelo milagre, pela venda de um pedaço no paraíso ou pela cura de doenças atualmente incuráveis, desde que haja contribuição do dízimo;

E por último a mais impactante:
4) Guerras, representadas por um trágico momento histórico: a bomba atômica de Hiroshima,
com Mãe engatinhando sobre pessoas mortas e encobertas das cinzas resultantes da explosão da bomba.

Tais cenas mostram de forma impactante a destruição do universo pela humanidade, seja com guerras, exploração social e ambiental, o que agrega à mensagem do filme. As pessoas destroem o mundo por um amor a algo de maneira incompreensível, ainda que resulte em condutas totalmente destruidoras. Porém, dificulta na absorção do filme como um todo, soando mais estranho e confuso do que inovador num primeiro momento.

Mãe, enfim, entra em trabalho de parto após conseguir fugir do tumulto com a ajuda de Deus, se fechando em um quarto, e que lá passa a segurar seu filho, Jesus Cristo, firme em seus braços, não deixando sequer Deus segurá-lo – pois ele quer satisfazer a vontade das pessoas de “apenas” vê-lo – em medo do que possa acontecer com seu filho tendo em vista tudo que enfrentou até agora. Deus permanece sentado em uma cadeira em frente dela, que aos poucos vai ficando cansada de cuidar, alimentar e proteger seu filho. Mãe, então, quando pisca por 1 segundo em sinal de cansaço, tem seu filho retirado de seu colo por Deus, que passa a mostrá-lo à humanidade.

A humanidade em contato com o divino, Jesus Cristo, não sabe lidar com suas mensagens, passando-o de braço em braço em profundo sinal de “toque de devoção”, até que em certo momento, quebram seu pescoço. Quer dizer, em análise mais concreta, a humanidade briga de forma voraz pelas interpretações religiosas, o também fazendo por suas visões de mundo, suas ideologias, o que não raras as vezes desencadeia episódios radicais de violência.

Devastada, a Mãe se dirige para a frente da multidão, onde ela vê o cadáver vilipendiado de seu filho e testemunha a multidão comer sua carne, o que é uma referência ao ritual da hóstia. Mostrado dessa forma, tão crua, o ritual remete as suas origens mais bárbaras e impactantes, tamanha a brutalidade do ato junto ao sobrepesamento do “ato do ritual”. A reação de um estranho ao culto é de automática repulsa, que no caso, é a Mãe com as atitudes da humanidade.

O corpo de cristo.
Ritual da hóstia.

Furiosa com eles, ela os chama de assassinos e começa a esfaqueá-los com um pedaço de vidro quebrado. Eles a imobilizam para em seguida espancá-la , começam a agredi-la e se atiram nela com socos, chutes e demais ataques, até que Ele intervem e interrompe a briga.

As cenas de violência não são nada confortáveis, e a intenção é essa mesmo, vez que são muito convincentes em questão de sangue, víscera e desconforto gerado. A mensagem desse desconforto, segundo o diretor, é para não nos conformarmos com a violência, dado seu caráter terrível, devendo ser evitada a todo custo. Somente quem passa por ela sabe o quão tenebrosa ela é e o quanto ela demanda de esforços futuros à saúde.

Mãe escapa do alcance da multidão e dispara em direção da parte inferior e central da casa, onde está o tanque de óleo do forno. Apesar dos apelos de seu marido, Mãe incendia o tanque, causando uma imensa explosão e destruindo tudo: a multidão, a casa e alguns dos jardins e árvores circundantes, em referência ao Apocalipse/”fim dos tempos”.

Reparou que a mulher do começo não é a Jennifer Lawrance? Volta lá e confere! Ou seja: o ciclo se renova.

Depois da destruição, tanto Mãe quanto Deus sobrevivem. Ela horrivelmente queimada. Ele ileso. Ainda nessa situação, ela lamenta pelo ocorrido, pois sempre quis fazer o melhor para o seu amor, Deus. Nisso Mãe pergunta quem ele é, que responde com o famoso “Eu sou o que sou”, uma resposta bíblica de Deus para Adão na sarça ardente (1º testamento, livro 2, capítulo 3, versículo 14. O que nos lembra de outra frase famosa: “uno, dos, tres, catorce!” – te lembra alguma música?). Ele a pede, então, um último desejo: o amor que ela deixou para ele, no que ela concorda. Deus então abre o peito de Mãe e arranca seu coração no processo. Ao esmagar o coração com as mãos, um grande objeto cristalizado é revelado. Uma joia. Ele coloca a joia em um pedestal. Mais uma vez, a casa muda de uma casa queimada para uma casa recém-renovada. Uma nova Mãe se forma em uma cama e acorda, perguntando em voz alta onde Ele está, terminando o filme com a alusão da renovação dos ciclos, da vida e dos mundos.

Por fim, temos um filme que trata de diversas mensagens. Crítica ambiental, conflito social, relacionamento abusivo, submissão, violência social e relacionamental, dentre outras. O leque é vasto se tivermos a atenção necessária. Porém, é notório que ao se tentar juntar tantas mensagens profundas o filme passa a sensação de correr demais, em especial na 2ª parte, fato esse que gerou repetidas críticas ao filme. Ainda assim, gostamos do conjunto da obra e recomendamos para uma sessão pipoca mais cult!