Anos 80 e 90, aquela nostálgica época pré-internet e pré-smartphones que nos fazia acompanhar atentamente o que a TV aberta tinha a nos oferecer. Em meio a tantos programas de gosto duvidoso, e dependendo também do grau de interesse do espectador, sempre era possível achar opções diferenciadas, de mais conteúdo e qualidade. E a TV Cultura, emissora educativa paulistana da Fundação Padre Anchieta (que em nosso Estado é retransmitida pela E-Paraná), certamente tem um lugarzinho especial no coração de quem foi criança naquele período, pois trazia como proposta, além de divertir, também ensinar e educar. Na vasta gama de opções em sua generosa grade infantil, com muitos desenhos animados cult, entre eles As Aventuras de Tintim e Doug, havia também os programas Mundo da Lua, Glub Glub, Bambalalão, além, é claro, do clássico Castelo Rá-Tim-Bum, todos hoje lembrados com muito carinho por quem outrora os assistia diariamente após voltar da escola. Nesta extensa galeria de atrações marcantes da emissora, sem dúvida, também está O Mundo de Beakman!

Com base em uma tirinha de quadrinhos surgida em 1991 e publicada em diversos jornais dos EUA e mundo afora, You Can With Beakman and Jax, na qual os personagens-título respondiam a questões “enviadas” por leitores, sobre ciência e tecnologia, surgiu a ideia de um programa infantil educativo nos mesmos moldes, o Beakman’s World, que foi viabilizado pela Columbia Pictures e exibido com sucesso pela CBS, tendo rendido 91 episódios ao longo de quatro temporadas, de Setembro 1992 a Janeiro de 1998. Este êxito transcendeu a América, cruzou oceanos e se espalhou por cerca de noventa países! No Brasil, O Mundo de Beakman foi transmitido pela TV Cultura entre 1994 e 2002. Após esse período, a série passou brevemente por outras emissoras, mas retornou à TV Cultura em 2011 onde permaneceu no ar até o ano seguinte.

Beakman’s World revelou ao público a versatilidade e o carisma de Paul Zaloom no papel do cientista “meio maluco”, de visual inconfundível, com seu exótico e estiloso cabelo pra cima, terno verde, olhos esbugalhados e sempre fazendo muito uso de expressões faciais e corporais ao expor seus amplos conhecimentos científicos, tudo para atrair e manter a atenção de seu público-alvo, as crianças, curiosas por natureza. Afinal, quem, na infância, nunca se perguntou algo do tipo: “Por que os pernilongos zoam justo no ouvido da gente?”, ou “Por que a Lua não cai de lá de cima?”, ou “Lagartixas são filhotes de jacarés?”, ou ainda: “O que tem no fim do arco-íris?”, e por aí vai…

A dinâmica do programa, portanto, consistia em Beakman (na versão brasileira, dublado por Flávio Dias), em seu colorido e espalhafatoso escritório/laboratório, respondendo na prática às perguntas dos espectadores, explicando e exemplificando como e porque esse ou aquele evento acontecia, e o fazia sempre de uma maneira divertida e bem-humorada, mas sem perder o caráter educativo. Para a realização de suas experiências, ele contava com a ajuda de suas assistentes Josie, Liza e Phoebe, cada uma a seu tempo, ao longo das temporadas, que interagiam com ele e liam as cartinhas. O “ratinho” Lester completava o trio de agentes da ciência a serviço da educação e do conhecimento. Não nos esqueçamos, porém, do cameraman Nay, cuja mão aparecia na tela para segurar coisas, colaborando com as performances. Havia ainda, no início, no final e, eventualmente, durante a exibição, a curiosa aparição dos pinguins Don e Léo que, do Pólo Sul, assistiam ao programa pela TV e faziam comentários relevantes sobre os temas tratados.

Dá para se ter uma noção do sucesso que Beakman’s World fez nos EUA pela quantidade de cartas que recebia, mais de mil por semana, tanto de crianças quanto de adultos, inclusive professores. Vale lembrar que e-mails, chats, redes sociais, mensagens instantâneas, hashtags e todo tipo de interação digital que temos hoje, naquela época sequer existiam ou, no máximo, ainda germinavam… Nestas cartas enviadas pelo público mirim, quantas dúvidas orbitavam e quantos sonhos habitavam? Certamente, muitas crianças da época, motivadas pela insaciável curiosidade acerca do porquê dos acontecimentos, e incentivadas pelo programa, se tornaram hoje profissionais de algum ramo relacionado. O Mundo de Beakman pode ter mudado, obviamente, para melhor, muitas vidas, e dado a tantas crianças que o assistiam, o empurrão de que elas precisavam para irem atrás de seus sonhos e torná-los realidade! O tempo passou e… 20 anos após o encerramento do programa, Zaloom voltou a interpretar, em 2018, seu marcante personagem em três vídeos do Youtube que fazem parte do Projeto Cabum!


Sobre o autor: Formado em Comunicação Social – Jornalismo, Roberto Oliveira desde sempre vem exercendo a escrita em sites nerds/geeks e contribuindo para a semeadura da Cultura Pop. Cinéfilo inveterado, também é radialista e colaborou com a galera do Serial Cookies em várias ocasiões, inclusive nas Lives do Oscar, que já estão se tornando tradição! Defende a paz entre marvetes e decenautas e curte quase todas as ramificações da produção audiovisual, com destaque para ficção científica, fantasia e, claro, os super-heróis, e “viaja” com histórias que envolvam viagens no tempo!