Bombardeamentos, ataques terroristas, corrupção na política, crimes raciais, violência de gênero, morte em massa de imigrantes, crise econômica – é manipulação do que comemos e de onde vivemos daqui, é direito político-social sendo retirado dalí, é desemprego descontrolado, é falta de dinheiro para necessidades básicas, é gente louca comandando países e gente inocente morrendo na angústia. É medo. É raiva. É ódio. É frustração. Nesse jeito como as coisas estão – como as coisas estão sendo tratadas – é possível visualizar um mundo pacífico e próspero? Uma vivência alegre e cheia de amor? Há séculos somos envolvidos no ciclo da violência e da vingança. Tem jeito de sair desse ciclo vicioso? A trama de A Cabana diz que tem.
O personagem principal da história é Mack Phillips (Sam Worthington), o qual teve uma infância problemática e traumática, mas que mesmo assim conseguiu cultivar uma bela família própria, formada por uma esposa e três filhos. Desde criança, sua experiência de vida colocava a fé cristã e a concepção de Deus em termos contraditórios, e essa situação é exacerbada criticamente quando sua filha mais jovem é sequestrada durante uma viagem de férias. Tudo que é deixado pelo serial killer que a raptou é seu sangue e seu vestido, destruindo completamente Mack e a dinâmica da família. Algum tempo depois, Mack recebe um bilhete misterioso o convidando para ir até a cabana em que os últimos vestígios de sua filha foram encontrados e, mesmo relutante, ele vai. E esse é o começo do fim de semana que Mack passa com três figuras divinas (Octavia Spencer, Aviv Alush e Sumire – além de uma quarta, momentaneamente, retratada pela brasileira Alice Braga)
Quem ou o que é Deus? Com todo o poder atribuído a Ele, como Ele pode deixar que tantas atrocidades aconteçam? Ele realmente é um ser com uma face de ira e punição? Capaz de abandonar seu filho na cruz e usar pessoas inocentes para punir aqueles que pecaram? Mas será que, pra início de conversa, Ele é ele? E será que a concepção que se tem sobre divindades e “A” divindade está correta? Não é possível que tenha acontecido uma interpretação ruim disso tudo no meio do caminho? Quem sabe estejamos focando na coisa errada? É esse tipo de discussão que o fim de semana extraordinário trará. Longe de ser um filme religioso, a trama nos traz diálogos necessários e urgentes sobre conceitos, padrões e crenças, deixando a possibilidade de uma nova maneira de viver. Um novo paradigma para combater toda a dor deixada por tudo aquilo descrito no começo do texto. E, o mais importante, conseguir ainda florescer.
A grande batalha travada no filme é interna, então não há grandes explosões e efeitos especiais. Os poucos efeitos que possui, não é dos melhores, mas esse também não é o ponto. O que importa nessa obra são os diálogos e as emoções expressas pelos atores, e nisso todos ganham nota 10. Todos contribuem para tornar a história verossímil e envolvente, criando um ambiente harmonioso que permite questionar a perspectiva que se tem sobre os fatores que formam o cotidiano.
Tenho a leve impressão que nós, como sociedade, não estamos lidando direito com o caos que tem sido nossa realidade há tempos. O filme de Stuart Hazeldine, baseado no livro de William P. Young, mostra um outro caminho que pode ser trilhado. Quem sabe o que pode acontecer? A Cabana estreia no Brasil dia 6 de Abril.
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