O som é cru, de puro metal se retorcendo, chacoalhando, e com a impressão que em breve tudo irá se soltar e explodir. A visão é extremamente trêmula e o ambiente é claustrofóbico. Depois, silêncio. Uma nova perspectiva; todo o barulho parece estar tão distante, tão insignificante. Mas, logo após, o caos retorna, e é necessária uma mente equilibrada e inabalável para evitar um desastre. Começamos assim nossa jornada em O Primeiro Homem, a qual não é apenas a história sobre a trajetória de Neil Armstrong até a Lua. A experiência sensorial nos leva junto também.

Filmes biográficos são sempre um desafio, pois muitas pessoas já conhecem a trama sendo contada e, inclusive, seu final. O truque é levar essas pessoas por um passeio na narrativa pela emoção, não pela razão. É fazê-las acreditar que algo realmente não vai dar certo, mesmo que elas saibam que tudo vai acabar bem. É trazer curiosidades e fatores pessoais para a trama e – acima de tudo – é colocar em evidência a mensagem da essência maior dessa vivência. É dessa maneira que o filme prende nossa atenção, além de contar o tempo inteiro com efeitos sonoros e movimento de câmera que fazem uma imersão do espectador para dentro da tela.

A narrativa cobre oito anos da vida do primeiro homem que conseguiu chegar e pisar na Lua, Neil Armstrong. Em 1961, Armstrong trabalha como piloto de testes, e é motivado a seguir carreira na NASA após uma tragédia familiar. Entre seu primeiro treinamento na agência espacial e o icônico momento transmitido em 1969, conhecemos mais profundamente como era o relacionamento do protagonista com sua família, como ele encarava e solucionava problemas, como a sociedade da época reagia ao audacioso projeto e quem foram os outros grandes nomes que fizeram parte desse desafio.

Embora tenha ficado triste que não foi feita nenhuma menção às mulheres que conhecemos em Estrelas Além do Tempo, gostei do zelo e da honra que foi dada àqueles que trabalharam arduamente nesse processo, alguns dos quais deram suas próprias vidas. Ryan Gosling, como em vários outros papéis, mantém as emoções de seu personagem sempre sob controle, dando algumas demonstrações sentimentais pontuais durante a narrativa. Mesmo sendo uma característica de sua atuação, ela é bem empregada na história, que tem como contraponto o trêmulo da câmera representando seu estresse mental. Claire Foy, quem interpreta Janet Shearon, a esposa do astronauta, é o coração da trama.

Quando Armstrong está fazendo a entrevista para entrar na NASA, ele afirma que o projeto Apollo não é sobre explorar um território desconhecido. É sobre mudar nossa percepção sobre a vida. Enxergar coisas que antes não conseguíamos ver ao ir além do barulho metafórico da vida e contemplar a imagem maior que se forma quando a Terra é apenas um ponto azul. O contraste entre o barulho e o silêncio, e o ser pequeno (o ponto azul) e ser grande (olha tudo que foi desenvolvido e vivenciado nesse ponto azul) é a parte mais legal dessa reflexão.

A parte negativa do filme é que ele segue um tom bastante estável, tornando-o em vários momentos monótono. O silêncio da parte final do filme não é um que prende a atenção, como em Gravidade, mas um que – infelizmente – dá sono. Por isso é interessante assistir essa nova parceria de Gosling com o diretor Damien Chazelle numa tela de IMAX e afins. Esse tipo de sala de cinema lhe proporcionará a experiência sensorial impactante, diminuindo o risco de você perder o foco e dar umas pescadas.