Joss Whedon é o cara que tá mandando em tudo agora que ele fez de Os Vingadores um super sucesso, mas não foi sempre assim. Ele fez seu nome com Buffy e Angel, ficou super deprê quando a Fox cancelou Firefly e se questionou se não deveria fazer uma saída honrosa do showbiz depois que Dollhouse também foi por água abaixo. No entanto, tudo deu certo quando o seu tipo de escrita se encontrou perfeitamente com o fandom da Marvel — e a coisa toda tomou uma proporção gigante. O status de Whedon mudou dentro de Hollywood, mas ainda bem que foi só isso que mudou.

Agents of SHIELD pode estar ganhando destaque por ser um projeto da Marvel – mas acima disso, essa é uma série de Joss Whedon. Então pode se preparar pra tudo que tivemos nas suas criações anteriores: personagens femininas fortes, um ambiente em que nada é preto e branco (e se alguém começa a enxergar o mundo de forma muito organizada, pode saber que altos problemas vão surgir), referências culturais inseridas em diálogos casuais, inteligentes e bem humorados, personagens voltando da morte, personagens amados morrendo de vez, relações amorosas com resultados terríveis e, claro, aqueles rostos conhecidos do whedonverse. Porque Joss não deixa ninguém pra trás 🙂

Você já percebe a qualidade do roteiro nos três primeiros minutos do episódio piloto – nesse período é feita uma pequena retrospectiva do que aconteceu em Os Vingadores, como o mundo e as pessoas mudaram depois da Batalha de NY e do que a trama do episódio irá tratar. Depois de juntar a equipe – que parece dispersa e aleatória, mas que dará bem eventualmente – vem a parte da investigação do caso com a tecnologia mais avançada de qualquer série e a sua solução mostrando a ética da equipe.

Os Personagens

A história é bem desenvolvida, mas qualquer BOM roteirista consegue fazer isso. A maior diferença numa série Whedon é a criação de personagens e suas interações um com o outro. Começando com o Coulson, que já era um personagem muito amado dos filmes da Marvel, e que foi o escolhido pra sofrer uma das características de Joss em Os Vingadores: a morte. Felizmente, ele também é o cara que volta, e se mostra ainda mais carismático – e extremamente sério quando necessário. No entanto, ninguém volta à vida no whedonverse sem pagar um preço. Coulson ainda não sabe exatamente o preço que pagou, mas parece que Maria Hill sabe.

Foi uma jogada muito sábia trazer Cobie Smulders pra participações especiais na série – principalmente no episódio piloto. Como Whedon mesmo já falou, Hill é uma GRANDE parte da organização, e não faria sentido começar um novo grupo sem ela estar envolvida. Ela pode ser toda certinha e profissional, mas seu senso de humor sutil faz toda a diferença (tipo o comentário sobre o braço do Thor). Além disso, a personagem funciona muito bem com Coulson (ver a parte do “porco-espinho”).

Agents2

Quanto aos novos personagens, ainda não sabemos muito sobre eles, mas já é possível criar uma conexão com a maioria. Grant Ward é “o soldado”, e o mais difícil de gostar logo de início. Mas já dá pra notar uma diferença na sua personalidade no final do episódio, e ele com certeza vai virar aquele cara leal que todos podem contar pra qualquer situação. Melinda May é tão séria quanto Ward, e o interessante da personagem é que ela ARRASA nas artes marciais, mas tem algum grande trauma com a área de combate. A equipe precisava desses dois pilares consistentes, porque os outros três são um tanto… excêntricos.

Leo Fitz e Jemma Simmons são esses dois britânicos super inteligentes que possuem uma química fantástica como se fossem irmãos. Fitz é basicamente um Topher (Dollhouse) sociável e bem menos egocêntrico e Simmons uma mistura de Fred (Angel) e Willow (Buffy). Ou seja, uma vitória instantânea. Os dois funcionam tão bem que eu até consigo ver uma baita tragédia vindo na direção deles, porque esse é o whedon way. E, pra finalizar, temos Skye – outra vitória instantânea. Ela é o gênio de computador geek que provavelmente será responsável pela maior quota de citações pop-culturais – como já foi no piloto. E a atriz lembra a Summer Glau. Então, outra vantagem.

E daí você fica triste porque nenhum desses atores fizeram parte das séries antigas de Whedon. Mas calma, tem gente conhecida no episódio sim, eles só não estão no elenco principal. Lembram do Gunn de Angel (J. August Richards)? Ele é “o caso” da semana. E o Book de Firefly (Ron Glass)? Agora ele é o Dr. Streiten. 😀

As Peculiaridades Whedon

Como eu disse no começo, existem aqueles tópicos comuns em todas as séries de Whedon. Em termos de escrita de roteiro, as que eu acho mais brilhantes são as referências culturais e a autoconsciência que os personagens têm da trama. De referência você vai dar logo de cara com O Exterminador do Futuro e Harry Potter – além que uma quase citação de O Homem-Aranha (quase porque ela é modificada de uma ótima maneira) e uma lembrança do final de De Volta para o Futuro.

Já a autoconsciência pode ser demonstrada por meio dos personagens ou até da própria trama. Existem coisas que ficam muito bem em tela – como a revelação de um personagem saindo das sombras. Mas vamos concordar que isso é um GRANDE clichê. Muitos diretores e roteiristas fazem de tudo pra fugir desses clichês, mas Whedon resolve abraçar a causa e fazer piadas sobre isso. Assim ele pode usar esses elementos que dão destaque pra cena e meio que inventar uma desculpa pra estar fazendo isso. Por isso que a entrada triunfal de Coulson fica ainda mais legal – e também tem a história do nome SHIELD. Porque é como se alguém REALMENTE quisesse que a organização se chamasse SHIELD (e nós sabemos que foi assim, né?) 🙂

A autoconsciência vinda da trama é basicamente um plot twist, mas com mais comédia. É quando o roteirista começa a criar um elemento que parece que irá crescer e ser um ponto enorme dentro da história – como uma certa organização clandestina que quer descobrir a verdade e derrubar o SHIELD – e daí destrói essa promessa em segundos. Já vimos isso em Buffy, Angel, Firefly, Dollhouse e agora em Agents of SHIELD. Adoro.

The Whedon Way

Eu falo bastante no “jeito Whedon”, nas “séries Whedon”. Joss Whedon definitivamente é a mente por trás dessas criações e características, mas a gente sempre tem que lembrar que não é só UMA pessoa que faz uma produção. No caso de Agents of SHIELD, quem está trabalhando bem de perto com Joss é seu irmão Jed Whedon e esposa Maurissa Tancharoen. Foram os 3 que criaram a história da série, que fazem parte da produção executiva e que estão roteirizando os episódios. Jed e Maurissa já trabalharam em outros projetos de Joss, por isso a linguagem fica bastante homogênea. Além disso, os outros dois produtores executivos, Jeffrey Jackson Bell e Jeph Loeb também trabalharam com Joss em Angel e nos quadrinhos de Buffy e Astonishing X-Men, respectivamente.

E ainda tem o Bear McCreary compondo a música da série. Ele não tem relação com Whedon, mas o cara é super conhecido no meio sci-fi. O trabalho dele envolve as músicas de Battlestar Galactica, Eureka, Terminator: The Sarah Connor Chronicles, Caprica, The Walking Dead, Defiance e algumas outras. Achei válido mencionar. 🙂

Lola

O que o Futuro Reserva?

Algumas vezes você assiste ao episódio piloto de alguma série e, no final, não sabe como a temporada vai conseguir se desenvolver. Esse NÃO é o caso de Agents of SHIELD. Você termina o piloto com bastante expectativa pros próximos episódios, isso porque a premissa em si já garante infinitas histórias – cada semana teremos um caso diferente ligado à tecnologias super avançadas e até alienígenas. Esse é um fator. O outro é querer saber mais sobre os personagens. Foram apresentados mistérios do passado pra todos da equipe: Coulson não esteve no Taiti, Ward tem um certo problema de família, May tem trauma de campo de batalha, Skye apagou seu passado e Fitz e Simmons… vai ser interessante saber como eles se conheceram e desenvolveram esse laço afetivo.

Quanto ao arco maior da temporada, Whedon normalmente gosta de colocar uma organização governamental ou algo do gênero como o grande malvado da história – e terminar a série com o “fim do mundo”. Só que essa série começa logo depois de um “fim do mundo” e a grande agência são os mocinhos. Isso quer dizer que estamos a salvo? Óbvio que não! Isso quer dizer que teremos uma organização AINDA MAIOR e um “fim do mundo” AINDA MAIOR. Afinal de contas, alguém é responsável pelo projeto Centopéia…

Então é isso, caros leitores. Temos mais uma série de Joss Whedon novamente no ar. O mundo acabou de ficar um pouco mais bonito. 🙂