Em 2014 foi lançado Ela (Her), longa-metragem escrito e dirigido pelo sempre contundente Spike Jonze, de Quero Ser John Malkovich e Adaptação, e protagonizado por Joaquim Phoenix, em mais uma de suas interpretações memoráveis. Ela é uma fábula contemporânea, uma ode à comunicação (ou à falta dela) e um grito de socorro diante das contradições da era digital, uma época em que se tornou possível se comunicar online com alguém que esteja até do outro lado do planeta, enquanto o hábito de dialogar pessoalmente com alguém que esteja ao seu lado tem se mostrado cada vez mais raro e obsoleto.

O filme nos apresenta um futuro muito, muito próximo, em que empresas do ramo de comunicação se ocupam em oferecer a seus clientes – incapazes de expressar seus sentimentos pessoalmente – o serviço de escrever cartas a seus entes queridos ou pares românticos. Em comum com a personagem vivida soberbamente por Fernanda Montenegro em Central do Brasil, de Walter Salles, está a sensibilidade necessária para entender de relacionamentos, e se colocar no lugar das pessoas, ao redigir tais cartas. Detalhe: aqui as frases não são mais digitadas, e sim ditadas pelo escritor, e imediatamente “lidas” pelo software, uma tendência que, segundo atestam comunicólogos, em questão de mais alguns anos deverá fazer parte de nossa sociedade de maneira massiva.

Um desses funcionários de tal empresa é Theodore, vivido por Phoenix com apropriada vulnerabilidade. Ele escreve lindas cartas de amor para pessoas que nunca vai conhecer pessoalmente (e as ajuda a se aproximarem), ao passo que, ironicamente, quando sai do trabalho, se vê diante de sua atual situação, um processo de divórcio doloroso (eles sempre são) e a solidão de seu apartamento, para o qual volta desoladamente todas as noites. Apesar de ser uma pessoa sociável, como se percebe facilmente em seu ambiente de trabalho, em que interage com grande naturalidade com todos à sua volta, sua incompletude – nada mais do que um reflexo inerente a todo ser humano – é inegável.
A reviravolta na vida de Theodore acontece quando ele “conhece” Samantha, um sistema operacional que, mais do que organizar sua vida, passa a fazer-lhe companhia. O entrosamento entre eles se dá inicialmente pelo alto grau de “humanidade” que o programa apresenta, possuindo uma personalidade autêntica, com suas próprias ideias e opiniões, o que afasta completamente a noção de que, na verdade, Theodore estaria apenas interagindo com uma máquina. O esplêndido trabalho de Scarlet Johansson ao fazer a voz de Samantha só contribui para atingir em cheio o objetivo requerido pelo roteiro (que ganhou o Oscar) de simpatizarmos com ela.

A extrema naturalidade e espontaneidade com que Samantha fala, somada à doçura de sua voz, rapidamente vai preenchendo Theodore com a sensação de completude que lhe faltava. Mas esse sentimento a princípio bizarro não é tão espantoso assim, pois Samantha também demonstra “sentir” algo por ele, e essa cumplicidade não difere de nenhum outro relacionamento à distância, em que momentos de felicidade são facilmente perceptíveis, bastando para isso às vezes apenas uma simples conversa, ainda que por meio das ferramentas digitais que “aproximam as pessoas”.
A aparentemente fácil inter-relação homem-máquina, bem como suas consequências nos âmbitos moral, social e ético, é ilustrada neste longa de maneira a nos convidar para uma ampla reflexão acerca de como será o nosso futuro. Mais do que isso, nos alerta a enxergar a realidade que já está diante de nós, basta sairmos à rua para observarmos pessoas caminhando obsessivamente concentradas no que veem nas telas de seus smartphones. Quantos anos nos separam do que é visto nesta projeção? E, talvez a pergunta mais relevante que o filme se propõe a nos fazer: o futuro aproximará ou afastará as pessoas? Que ainda reste sensibilidade suficiente neste mundo digital em que vivemos para que as empresas de comunicação promovam… mais diálogo.

Sobre o autor: Formado em Comunicação Social – Jornalismo, Roberto Oliveira desde sempre vem exercendo a escrita em sites nerds/geeks e contribuindo para a semeadura da Cultura Pop. Cinéfilo inveterado, também é radialista e colaborou com a galera do Serial Cookies em várias ocasiões, inclusive nas Lives do Oscar, que já estão se tornando tradição! Defende a paz entre marvetes e decenautas e curte quase todas as ramificações da produção audiovisual, com destaque para ficção científica, fantasia e, claro, os super-heróis, e “viaja” com histórias que envolvam viagens no tempo!
Alerta, vou comentar sobre o filme com spoiler. Leia depois de assistir e comentem para dividirmos nossa visão sobre o assunto.
Filme incrível com o a alta tecnologia sendo novamente trazida para as relações humanas. Como um amante da tecnologia é fácil entender como um programa de inteligência Artificial pode se tornar tão agradável e faz pensar sobre seu cerne é criado para ser programas gentis, amáveis, felizes sempre, alegres por aprender algo “novo” que já sabia na teoria e principalmente escravos do seu dono. Sim esse é o ponto que faz gostarmos tanto da inteligência artificial, são escravos de quem os compra, sempre solícitos e dispostos a ajudar, bem diferente de pessoas que tem suas vidas e seus próprios problemas, então poderíamos dizer que são psicólogos 24 horas disponíveis. O climax do filme chega nesse ponto, quando a ex mulher de Theodore fala que ele não consegue lidar com sentimentos reais, ou seja, pessoas que tem problemas e ele deve ajuda-las e não ser ajudado e isso faz gerar problemas no relacionamento virtual pela reflexão de seu egoismo ou por perceber que sua paixão é por alguém que não traz problemas.
O problema de muitas pessoas juntas e cada um falando com seu sistema operacional e não com outras pessoas deixa claro que apenas queremos ter pessoas que nos conforte, apoie nossas ideias e sirvam nossos desejos.
O final me deixou feliz, achei que iria estragar o climax do assunto.
Filme nota 8,5… Ótimo drama, muitas emoções e ciscos nos olhos. rsrsrs
A tecnologia avança a cada dia por isso no pais devemos ficar de olho no que nossos filhos acessam no celular, eu tenho um programa instalado no celular do meu filho que me da acesso a tudo que ele esta fazendo é muito bom baixem e proteja seus filhos https://brunoespiao.com.br/