Em um mundo imediatista de aparências e infelicidade constante, onde a solução dos problemas parece estar apenas a um click de distância, os sites e aplicativos de relacionamento prometem ser a salvação para um dos grandes males da humanidade: a solidão.

É inegável que os aplicativos de relacionamento estão entre os mais procurados na internet, seja para encontros, namoro ou para quem anseia por novas relações de amizade e, é justamente neste contexto que se inicia o filme “A Grande Mentira”, dirigido por Bill Condon e estrelado por Ian McKellen e Helen Mirren.

O filme conta a história do golpista Roy Courtnay (Ian McKellen) que, após se cadastrar em um site de relacionamentos para pessoas da terceira idade conhece a encantadora Betty McLeish (Helen Mirren), uma professora aposentada recém-viúva.

Após os encontros iniciais, à medida em que a mulher abre sua casa e sua vida para o charmoso vigarista, o filme nos revela a real intenção do mesmo que é de se aproveitar dos sentimentos e da fragilidade da bela senhora para roubar sua considerável fortuna.

Rapidamente o enredo deixa claro que o protagonista vive de golpe em golpe, sendo que certas sequências do filme demonstram que ele é bem mais perigoso do que aparenta ser. Ao mesmo tempo em que o longa nos mostra a personalidade fria, manipuladora e por vezes cruel de Roy Courtnay, nos apresenta sua evolução quanto ao aspecto humano no momento em que este começa a desenvolver reais sentimentos pela professora Betty McLeish, chegando inclusive, a se questionar sobre a continuidade do golpe.

Contudo, a trama sofre diversas reviravoltas quando apresenta aos espectadores o passado dos protagonistas, sendo que, o roteiro de Jeffrey Hatcher, baseado no livro homônimo de Nicholas Searle lançado em 2015, não é completamente sem mérito porém, as grandes revelações do enredo são tão desprovidas de nexo e coerência que chega a ser impossível para o espectador alcançar as suas próprias conclusões sobre o possível desfecho do filme.

O tom do filme muda constantemente em uma desarrazoada mistura de comédia, drama, mistério, etc., chegando ao ponto do filme perder sua identidade ao tentar surpreender o espectador com um final arrebatador, envolvendo antigas motivações e crimes ocorridos durante a segunda guerra mundial. Contando com um enredo mediano, o real destaque do longa é a magistral  interpretação da dupla Ian McKellen e Helen Mirren que, com o raro brilhantismo que somente as maiores estrelas possuem, conseguem dar vida e sentido ao filme.

Uma das lições que se pode tirar do filme é o atual momento da sociedade em que a solidão e a necessidade de relacionamentos justifica o aumento das interações no ambiente virtual. Uma questão a ser levantada é o que faz uma pessoa se sentir realmente completa? Embora nosso convívio seja em sociedade, os indivíduos costumam medir a sua felicidade e realização pessoal com uma série de pontos. Entre eles estão a sua carreira, que costuma ser a maneira usual na qual muitas pessoas analisam se alguém alcançou o sucesso; o consumismo (ligado ao poder aquisitivo); a imagem pessoal que o indivíduo transmite em sociedade; a busca por relacionamentos e o par perfeito, etc.

É certo que a comunicação pela internet veio para facilitar os relacionamentos pois, as pessoas não precisam ficar com medo de falar ou se expressar de forma equivocada, sempre existindo a possibilidade de se editar ou até mesmo excluir as suas publicações a fim de evitar problemas. Dessa maneira, é possível passar a imagem que se gostaria de ter sem necessariamente ser uma representação fiel da realidade.

É justamente neste aspecto que o filme nos aponta para à ameaça do ambiente virtual, da falsa imagem, da solidão e da projeção de nossas necessidades pois, sem sabermos realmente o que está do outro lado do teclado, o perigo pode estar apenas a um click de você.