Em Hebe – A Estrela do Brasil vemos a biografia de Hebe Maria Monteiro de Camargo Ravagnani – ou simplesmente Hebe Camargo -, um ícone da televisão brasileira, que construiu seu legado falando sua verdade, aquilo que reverberava em seu coração. Defendia os excluídos, era polêmica, se posicionou positivamente em um período que fazê-lo era difícil e perigoso. Com certeza teve suas falhas, as quais trazem ainda mais aprendizados e reflexões sobre a condição humana. O filme traz todas essas questões, aliadas a uma qualidade técnica de produção muito bela, resultando numa obra que, além de ser uma “gracinha”, é muito atual e necessária.
A minha referência pessoal da Hebe sempre foi a de uma apresentadora eterna na televisão. A de uma pessoa carismática que todos amavam, inclusive a minha avó que assistia a todos os programas, mas não passava muito disso. Redescobrir a importância histórica que ela teve com certeza é o melhor aspecto do filme, que certamente tem esse objetivo. A trama tem o potencial de emocionar aqueles que acompanharam sua trajetória, assim como causar esse mesmo impacto positivo naqueles que, como eu, não conheciam muitos aspectos de sua vida.
O roteiro foca no período da vida da Hebe em que ela está deixando a TV Bandeirantes e entrando na SBT em meados dos anos 80. Começamos com uma questão aguda sobre a censura, explorando ao longo do filme outras situações inconvenientes daqueles que não concordam com uma política excludente do “diferente”. Com seu carisma, Hebe criou uma base sólida de fãs desde o início da transmissão televisiva brasileira, o que a permitiu resistir enquanto falava o que pensava. Assuntos complicados, como alcoolismo e problemas com seu marido por conta de ciúmes, também são trazidos, dando mais complexidade à história.
Tecnicamente, a produção do filme é incrível. O figurino, a estética, a mixagem de som, são muito bem calculados e desenvolvidos. O produto final que vemos na tela é de alta qualidade. As atuações estão ótimas – principalmente se tratando do fato que personalidades ainda vivas são trazidas em suas versões mais jovens, como Silvio Santos e Roberto Carlos. Andréa Beltrão, a atriz que interpreta nossa digníssima em pauta, faz um trabalho espetacular.
Como uma obra baseada na vida de uma pessoa real, há de estar presente um perspectivismo e uma licença poética envolvendo a personagem. Como citei, não conheci a trajetória de Hebe, mas faz parte do meu caráter as coisas que a minha avó me ensinou: que nossa palavra é a coisa mais preciosa que temos; que devemos sempre falar nossa verdade e ponderar perante novos fatos; que o trabalho honesto levanta alicerces impossíveis de serem quebrados; que devemos respeitar a todos como iguais e que, como mulheres, a melhor coisa que podemos fazer é criar uma estrutura que não precisemos depender dos outros – as amizades são por afinidade e casamento por amor. Minha avó nunca se declarou feminista, de esquerda, de direita ou qualquer outra coisa. Ela apenas trazia o que achava certo. Ela era influenciada por personalidades como a Hebe, então o que posso afirmar é que a mensagem que o filme passa é exatamente esse bloco que chegou até mim, por isso faz muito sentido.
Hebe – A Estrela do Brasil nos apresenta alguém que podemos ter como um ícone norteador nacional, que atuou em um período histórico também complicado. Que possamos trazer para nossas próprias vidas a doçura dessa personagem, juntamente com uma postura de comprometimento e palavras de discernimento. Damos para a produção a nota de 4,5 cookies!

Amei, quero muito ver! <3
Bem legal né!