O Escândalo, do diretor Jay Roach, é um filme baseados em fatos reais. O tema principal gira em torno da queda do magnata Roger Ailes (John Lithgow), presidente do canal FOX News, quando a jornalista Gretchen Carlson (Nicole Kidman) o denuncia por abuso e assédio para com as funcionárias da empresa, para na sequências demais mulheres também se manifestarem como testemunhas de situações desconfortáveis perante Rogers. As revelações se tornam um escândalo, que dá título ao filme, no qual alguns nomes foram alterados.

Por ser baseado em fatos reais, é possível fazer uma associação com outros fatos polêmicos que ocorreram no Brasil e no mundo. Como por exemplo o debate e o período eletivo do presidente americano Donald Tramp versus o brasileiro Jair Bolsonaro, em que ambos usaram em suas campanhas um certo apelo contra as mulheres, algumas divergências com a imprensa, dentre outros assuntos em comum. E ambos foram eleitos.

Em O Escândalo, vemos uma cultura retrógrada, machista e tóxica. O assunto e os padrões não mudam muito quando se trata de assédio às mulheres nas empresas de comunicação e de outros ramos. Aparecem com frequência assédios não só nos jornais, mas na classe artística dos Estados Unidos, no Brasil e no mundo. Também na área esportiva, e por aí vai. Mas uma das piores e mais competitivas ainda é a indústria da televisão e cinema, como retratado no filme. Quem nunca ouviu falar do tal “teste do sofá”? Esta podridão moral de quem detém o poder é um assunto muito sério. O não a objetificação feminina é um tema que precisa vir a tona sim! Até porque, infelizmente, o caso é presente inclusive nas igrejas, como retratado no filme vencedor do Oscar 2016 Spotligh: Segredos Revelados.

Spotlight: Segredos Revelados – Filme vencedor do Oscar 2016 em que um jornal descobre e divulga cados de assédio sexual nas igrejas ao redor do mundo.

O filme O Escândalo vai instigando a nossa mente a fazer estes vários links dentro de um mesmo assunto, e que é mundial. Assunto que necessita urgente de mudanças, e que só haverá se a sociedade como um todo – mas claro, que neste caso em especial o lado feminino – se tornar cada dia mais unida e forte. Não é fácil, muitas pessoas se sentem vulneráveis e com muito medo, gerando reclusão. As mulheres precisam segurar nas mãos e fechar o cerco contra essa situação. Muito triste que ainda vemos tantos homens, e até mulheres, como a personagem e esposa de Roger Ailes, Beth Ailes (Connie Britton), que fecham sua visão ao assunto, mesmo quando as provas estão à disposição. Ou pior ainda, quando apoiam os assediadores, e acham que o assunto está em excesso e que ninguém deve ser punido. Outro link que veio à mente foi da personagem ficticía, Patsy/Trish Walker (Rachel Taylor) do seriado Jessica Jones, em que a jornalista âncora a longo prazo, por diversos motivos, é prejudicada psicologicamente, e em alguns momentos vindo a ceder a abusos sexuais e psicológicos em determinados momentos de sua carreira.

Kayla Pospisil (Margot Robbie), outra vítima de Roger Ailes, é uma personagem que representa a história de muitas mulheres que por terem assinado contratos de confidencialidade sob pena judicial, ficam impedidas de falar sobre o assunto na justiça, além de sofrerem em silêncio. A atriz, Margot Robbie, em entrevista a revista CLAUDIA, contou surpresas ao ler as definições de assédio no roteiro pela primeira vez, sobre como não percebia em profundidade o assunto. Descobrindo que qualquer tipo de atenção sexual indesejada fazia parte da acusação, e que sob esta perspetiva, ela não conhecia nenhuma mulher que não tivesse sofrido esse tipo de assédio.

Na mesma entrevista, Charlize Theron alega que “ninguém processa as emoções ou age da mesma forma”, justificando que é importante a quebra do estigma sobre a aparência e o comportamento, seja da vítima ou do agressor. Segundo a atriz, o filme também traz a reflexão a respeito de que devemos ouvir a vítima mesmo que não gostemos dela. Isso inclui não questionar casos em que mulheres procuram seus agressores e até se relacionam com eles. “Como sociedade, estamos começando a compreender melhor a psicologia em torno disso.”, conclui.

Há cenas que provocam o espectador, porque sabemos o quanto aquilo pode ser real e ter realmente acontecido. No ar, um jornalista fala em reportagem como se os homens estivessem fazendo um favor abrindo espaço para as mulheres no esporte. É tão pejorativo e ridículo a forma como é falado que parece que está retratando a mulher como uma pessoa selvagem que não merece se destacar. Passa a imagem de uma masculinidade tão besta, um ar de superioridade tão desnecessário, como se homens e mulheres não fossem da mesma espécie. E para certas coisas é um mundo tão fechado que as mulheres precisam exaustivamente provar que merecem um cargo. Que às vezes para os homens basta uma indicação ou apenas ser do sexo masculino, não precisando fazer praticamente nada, estando no cargo por status e não por realmente realizar um bom trabalho. 

É preciso entender que o valor feminino retratado no filme não visa punir homens ou mulheres, e sim agressores. Os movimentos e manifestações estão aí para chamar a atenção para trazer a perspectiva certa de visão às pessoas. O lado agredido é muito sofrido, e “O Escândalo” reforça esta mensagem. As pessoas precisam mudar suas atitudes para o bem, independente de que lado político ou religioso siga. O que realmente se trata, é que estamos falando de humanos, de seres vivos. As pessoas precisam se manifestar, se enfurecer, e principalmente se unir.

As mulheres que tiveram suas carreiras prejudicadas e se uniram para contribuir, testemunhando para o caso, foram as primeiras a mexer drasticamente na estrutura de uma empresa tradicionalista “do passado”. Mas com as perspectivas que filmes como este traz, com certeza não serão as últimas. A família Murdoch, donos da Fox e acima de Roger Ailes, colocaram os direitos das mulheres acima dos lucros. Com certeza eles irão prosperar de forma diferente e enriquecedora. A atual CEO da FOX é Suzanne Scott, a primeira mulher no cargo de CEO da empresa, que é uma das maiores emissoras dos EUA.

Assim, damos 4 cookies pela importância do assunto. O quinto cookie fica em aberto para homens que sentirem empatia pela situação. Como disse Charlize na entrevista à revista Cláudia: “A transformação só vai ocorrer de verdade se os homens forem incluídos nessa conversa. A mudança está ocorrendo, mas não podemos achar que o jogo está vencido.”.