A BUSCA DE UM ADVOGADO CONTRA UM GIGANTE DA INDÚSTRIA

Não poderia haver momento mais oportuno para o lançamento do filme “O Preço da Verdade”. Depois que o mundo aplaudiu em pé o arrebatador discurso de Joaquin Phoenix na cerimônia do Óscar de 2020, as telas dos cinemas novamente nos levam a refletir sobre questões de suma importância para a sociedade, como a exploração irrefreada de nossos recursos naturais e a degradação humana em nome do desmedido lucro empresarial.

Em seu lindo discurso Joaquin Phoenix alertou:

“Entramos no mundo natural, roubamos seus recursos. Nos sentimos no direito de inseminar artificialmente uma vaca e então roubar seu bebê quando ele nasce, mesmo que seus gritos de angústia sejam perceptíveis. E então bebemos o leite que é destinado ao bezerro e colocamos em nosso café e cereal. Quando usamos amor e compaixão como nossos princípios, podemos criar, desenvolver e implementar sistemas de mudança que são benéficos para todos os seres e ao meio ambiente.”.

E é justamente neste contexto que devemos analisar o filme “O Preço da Verdade”, de Todd Haynes.

Interpretado por Mark Ruffalo, Robert Bilott é um advogado ambientalista que acaba de se tornar sócio de um conceituado escritório de advocacia norte americano especializado em atuar no setor empresarial.

Especialista em trabalhar junto a empresas do setor químico, ao ser procurado por dois agricultores da pequena cidade Parkersburg, ele inicia uma investigação particular sobre a possível causa da intoxicação do solo e do rio que passa por um sítio da região devido a dejetos tóxicos deixados pela empresa DuPont, uma das mais poderosas indústria química do mundo.

Após analisar toneladas de documentos e realizar diversas investigações, com a confirmação de que a empresa DuPont não só contaminou, mas também tinha conhecimento prévio das consequências nefastas que seus produtos poderiam trazer ao meio ambiente, a saúde de seus funcionários, da pequena cidade e de seus clientes, Robert Bilott dá início a um longo processo judicial nos tribunais americanos onde passa a lutar não apenas pelos seus ideais, mas também contra um sistema que favorece o corporativismo empresarial em nome do lucro.

No filme, Robert Bilott é uma espécie de cavaleiro solitário na luta pela Justiça, disposto a abrir mão de sua carreira, vida em família e até mesmo a sanidade a fim de provar o envenenamento intencional por parte da empresa DuPont quando do desenvolvimento e do descarte do produto químico utilizado para a fabricação do conhecidíssimo Teflon.

Ao contrário do que se possa pensar, a advocacia não é uma profissão como qualquer outra, isso não quer dizer que seja melhor ou pior, mas apenas, que é profundamente diferente das demais.

Por exemplo, no Brasil após concluir o curso de Bacharelado em Direito e ser aprovado em exame realizado pela OAB com índice de reprovação superior à 80%, para ingressar nas fileiras da advocacia o jovem profissional presta um juramento perante a sociedade no qual se compromete à:

Por exemplo, no Brasil após concluir o curso de Bacharelado em Direito e ser aprovado em exame realizado pela OAB com índice de reprovação superior à 80%, para ingressar nas fileiras da advocacia o jovem profissional presta um juramento perante a sociedade no qual se compromete à:

“Exercer a advocacia com dignidade e independência, observar a ética, os deveres e prerrogativas profissionais e defender a Constituição, a ordem jurídica do Estado Democrático, os direitos humanos, a justiça social, a boa aplicação das leis, a rápida administração da justiça e o aperfeiçoamento da cultura e das instituições jurídicas”.

Como escrito por Vanessa de Oliveira Paulo Eugênio, “a vida é o maior bem que possuímos e necessitamos de dignidade humana, pois sem ela fica impossível usufruir de uma sociedade saudável.”, e também que: “na busca por uma sociedade mais justa e fraterna, a atividade profissional do advogado assume papel decisivo.”.

Assim, muito mais do que defender interesses pessoais dos seus clientes, o advogado deve assumir um importante papel perante a sociedade, onde por meio da aplicação do Direito deve buscar a Justiça e o bem de todos.

Mais do que nos apresentar a caminhada jurídica percorrida pelo protagonista contra uma gigante empresa do ramo químico, o filme o “Preço da Verdade” no faz questionar até quando iremos tolerar que o setor empresarial continue a explorar tanto os recursos naturais quanto o ser humano em nome do lucro.

Quantos desastres ambientais como os ocorridos nas barragens de Mariana e Brumadinho serão necessários para que passemos a respeitar os recursos naturais?

Cidade de Brumadinho-MG, antes do desastre dos rejeitos de 25/01/2019.
Brumadinho-MG após o desastre. Tragédia ou crime?
Cidade de Mariana-MG, antes do desastre dos rejeitos de 05/11/2015.
Mariana-MG após o desastre.

Quantos casos de exploração e degradação humana serão necessários para que passemos a respeitas a dignidade das pessoas?

Quantos seres humanos precisaram morrer em jornadas de trabalho absurdas nome do lucro empresarial?

No filme o “Preço da Verdade”, o advogado Robert Bilott mostra que, independente dos sacrifícios necessários, passou da hora de gritar basta a exploração humana e ambiental.

O dinheiro não pode salvar o planeta e a alma das pessoas.

O filme conquista a nota de 4,5 cookies de baunilha injustiçados!

FICHA TÉCNICA:
Nome original: Dark Waters.
Diretor: Todd Haynes.
Distribuidora: Paris Filmes.
Ano: 2020.