Quase dez anos após a criação do que viria a ser o maior mito da internet, Slender Man chega aos cinemas.

Criado por Victor Surge (nome fictício de Eric Knudsen) e inspirado por mestres como Stephen King e H.P. Lovecraft, o homem esguio, com a cabeça branca sem rosto, braços extremamente longos, uma altura anormal e trajado de um terno preto foi inserido em fotos antigas para um concurso de Photoshop no fórum de terror online Something Awful. Depois de se espalhar pela internet em Creepypastas, jogos, vídeos, montagens e etc, o misterioso homem passa a assombrar os jovens de uma pequena cidade de Massachusetts na vida real.

Em 2009, a criatura nascia em edição de fotos para mais tarde, no mesmo ano, se tornar uma websérie com dezenas de episódios em estilo Found Footage feitos pelo canal Marble Hornets e, em 2012, chegou aos games com o jogo indie “Slender Man: The Eight Pages”. No jogo, tendo em mãos apenas uma lanterna, o jogador deve encontrar oito páginas escondidas numa floresta escura enquanto é perseguido e aterrorizado por Slender Man durante todo o gameplay.

O que até então seria só uma lenda urbana moderna criada com apoiadores do mundo todo via internet, toma um rumo macabro em 31 de maio de 2014, quando um ciclista encontra Payton Leutner, de 12 anos, na calçada de uma praça, após ter sido esfaqueada 19 vezes. Mais tarde, Anissa Weier e Morgan Geyser, ambas também com 12 anos, foram presas e confessaram ter atacado a colega como um sacrifício para Slender Man. Payton sobreviveu ao ataque por muito pouco, já que uma das facadas passou a milímetros da veia Aorta. Já as garotas que a atacaram foram condenadas e cumprem pena em instituições psiquiátricas.

Este caso não só inspirou um documentário na HBO intitulado “Slender Suits: The Documentary of Slender Man”, como também inspirou levemente o filme que vimos hoje. Durante as gravações, o pai de Anissa, Bill Weier, deu uma declaração dizendo que a produtora estaria se aproveitando da tragédia e trazendo de volta a dor das famílias envolvidas. Mesmo assim, o filme está nas telonas a partir do dia 23 de agosto de 2018 e, infelizmente, é outra decepção do gênero.

Slender Man tinha um grande potencial, tanto explorando os fatos trágicos com as adolescentes americanas, quanto as inúmeras histórias que os fãs criaram. O visual, o tom misterioso da lenda, as habilidades da criatura (apagar a memória, causar paranóia, esticar os membros e se disfarçar), poderia ser um ótimo terror psicológico, trazendo o medo na sua forma mais crua. Mas, ao contrário disso, o filme nos deixa presos num roteiro falho. Tentativas frustradas de jump scare e a atuação nada convincente das atrizes principais. O que mais me assustou no filme foi a quantidade de gritos que essas meninas dão, que mais chega a ser mais incômodo do que os efeitos sonoros nada originais. Eu sempre me surpreendo como adolescentes americanas em filmes são muito corajosas e irritantemente medrosas ao mesmo tempo.

Sabemos que a lenda nasceu na internet, mas usar o clichê de: “Nossa amiguinha sumiu, vamos ver o último site que ela entrou… Oh! Nossa! Uma criatura maligna! E agora?”, vamos combinar que já deu, né!? Imagine fazer exatamente o contrário: pegar uma lenda da internet e torná-la real, como se ela sempre existisse, pegar o mito viral e complementá-lo. Ao invés de dar à Slender Man a profundidade que ele poderia ter, ele não chega nem perto de assustar e não é mais do que uma cópia mal feita de “O Chamado” com a historinha do “vídeo que mata”.

Confesso que alguns efeitos do filme são interessantes, mas as fotos no site e o próprio Slender Man que as meninas vêem são um insulto a um monstro que nasceu num concurso de Photoshop, salvo uma das edições originais de Victor Surge que aparece rapidamente numa cena na biblioteca.

No fim, “Slender Man: O Pesadelo Sem Rosto” é só mais um pra lista de filmes de terror ruins, previsíveis, que depreciam uma boa lenda e que não funcionam. Já estamos cansados de roteiros de terror preguiçosos.

Se você quer um conteúdo interessante de Slender, veja a websérie da Marble Hornets. Simples e conceitual do jeito certo.