Filme inspirado no livro de mesmo nome do autor Marcos Piangers traz uma história sensível sobre afeto, família, filhos e suas sutilezas e dificuldades que se desenrolam durante a primeira infância.

Adoção, abandono, perda por falecimento, ajuda da vó Gladis (maravilhosamente interpretada pela mãe de Lázaro, Elisa Lucinda), a exaustão da mãe Elisa (Paolla Oliveira) desde do se desdobrar ao voltar ao trabalho, a jornada do amadurecimento do pai Tom (Lázaro Ramos)… quantos destes assuntos corriqueiros e ao mesmo tempo delicados são tratados na obra.

Dos pensamos e desejos de serem os melhores pais, expectativas versus realidade aos sentimentos de medo, culpa, cobrança. Quantos não pensam sobre isso quando o assunto entra em pauta. Quantas famílias guerreiras passam por inúmeras dificuldades na criação destes pequenos seres humanos. Não há como romantizar certas batalhas e diversos sentimentos aparecem nos quais o filme consegue tratar com leveza.

Há inclusive o pensamento machista de que “mãe já vem com tudo de fábrica para cuidar do filho”. Será? Seria pelo fato de o diálogo de criação das mulheres perpetuarem por gerações a “obrigação” com a maternidade no sentido de ter que dar conta de tudo e senso de responsabilidade com a casa, a família? Além do abrir mão pelo outro e tarefas básicas que a gerações vem sido perpetuado desde as inocentes brincadeiras e brinquedos “de menina”?

No debate na conferência de imprensa com o elenco, após a cabine do filme, veio à tona outro ponto interessante. O fato de que a maioria dos meninos não tem diálogos com seus pais, sobre o que é ser homem e responsável. Do que é a construção deste ser perante responsabilidades básicas, amadurecimento e paternidade. Ainda é preciso a grande desconstrução de que “ser homem” é “beber não sei quanto”, bagunçar, delegar tarefas domésticas, prover e não presenciar. Há a necessidade de uma grande conscientização deste acordar para a paternidade, para fazer o que precisa ser feito. O saber observar e fluir com a criança, o aceitar-se imperfeito, mas disposto a melhorar e aprender a cada dia. A tarefa não é, e não deveria nunca ser considerado algo exclusivo da mãe.  O filme é muito eficiente e inteligente nestas questões e aos buracos em que muitas pessoas e relacionamentos familiares caem, por não terem as referências da busca desta bagagem para evoluir e buscar dentre muitas nuances o equilíbrio em casa e a mudança de padrão do “presente/não presente”. Dos quais o personagem Tom poderia ser apenas mais um na história da paternidade a repetir padrões e erros com raiz nos próprios traumas. E haja terapias com os filhos na vida adulta, eu pessoalmente que o diga!

E uma reflexão interessante trazido por Elisa Lucinda na coletiva de imprensa é quando ela menciona que criou Lázaro para aprender a amar a a nova mulher, que para ela foi de suma importância, tendo um filho homem, esta quebra de padrão. Realmente não poderiam ter escolhido melhores atores para representar estes personagens, além da dinâmica mãe e filho ser bastante rica dentro e fora das telas.

Segundo o autor do livro que deu origem ao filme, Marcos Piangers, há um estudo muito triste de que 2020 foi o ano em que foi registrado o maior número de crianças sendo registradas sem o nome do pai; 100% da responsabilidade caindo sobre a mãe. Isto é muito sério e urgente!

E devido a estas cargas reais pesadas que o Papai é Pop mais uma vez consegue com a arte trazer o expectador a reflexão. Este filme é um excelente exemplo da força do áudio visual tratar de assunto tão sensíveis que constroem o caráter uma pessoa, e ele o faz de forma leve e interessante proporcionando dentre risos e emoções aqueles “tapas na cara” tão necessários. É para inspirar a buscar dentro daqueles que são pais, sejam biológicos ou de coração, a força para lutar quando aparecerem os desafios, em vez de fugir. É aceitar as imperfeições sabendo que aprendemos a cada dia e podemos melhorar um pouco aqui e ali. Culpa e medo sempre aparecerão, a diferença é o se faz e como age a partir destas dificuldades e transformar, renovar, reaproximar, viver.

5 cookies pela obra que estreia muito apropriadamente no dia dos pais, 11 de agosto de 2022.

https://www.youtube.com/watch?v=KuGNCpBarzg