Chega aos cinemas brasileiros Belle, realmente uma bela animação nipônica, que agrada aos olhos, com suas incríveis imagens surreais, e ao coração, com uma história absurdamente relevante para a nossa geração online. O filme se baseou no clássico conto de fadas francês do século XVIII A Bela e a Fera para criar uma fábula moderna que também versa sobre as aparências, mas inserida num contexto digital, composto por smartphones e redes sociais, com o qual hoje todos nós nos identificamos.
A jovem Suzu tem uma rotina estudantil normal, sempre se esquivando das aulas de canto por timidez, mas em seu íntimo ela sente que poderia fazer algo mais da vida. Um belo dia ela resolve mudar e cria para si um perfil na super-hiper-mega rede social da qual todo mundo fala, e para a qual recebeu um convite de um amigo, a tal rede se chama simplesmente “U”, que afinal se revela um mundo virtual com cerca de cinco bilhões de usuários.
Ela dá a seu avatar o nome de Bell (sino), e o aplicativo faz todo o resto. As sardas de seu rosto são convertidas em uma estilizada maquiagem que, juntamente com as demais alterações físicas e vestimentas a deixam com visual de Pop Star. Mas o melhor vem agora: lá dentro seus dons vocais surpreendentemente se soltam, a lá “Let It Go”, e ela extravasa todo o seu talento. Não demora muito, e ela se torna instantaneamente famosa, ganhando em questão de minutos milhares de seguidores e um engajamento monstruoso, e sendo carinhosamente apelidada pelos internautas de Belle.
Algum tempo depois, a Fera também aparecerá neste universo virtual, cujos desdobramentos se darão, também, no “mundo real”, tocando em mais um tema pertinente, o da violência infantil. A trama, permeada pelos mais variados anseios da juventude em idade escolar, fala, afinal, de autoestima, de aceitação, e de amizades autênticas, e o faz com aquela delicadeza típica da cultura japonesa, que nós, ocidentais, já nos acostumamos a acompanhar.
Belle foi escrito e dirigido pelo experiente animador Mamoru Hosoda. Ao longo de sua prolífica carreira, o cineasta já se envolveu com a produção de diversos animes, tendo, inclusive, dirigido vários longas para a série Digimon. E seu filme anterior, Mirai of The Future, de 2018, foi indicado ao Oscar de Melhor Longa Metragem de Animação! Mamoru Hosoda é mais um diretor da Terra do Sol Nascente que merece destaque pela inventividade e sensibilidade de seus trabalhos.
Com direito até a cena de dança no meio do salão com a “câmera” fazendo travelling circular, remetendo imediatamente à famosíssima animação da Disney (e a inspiração é válida), Belle, cuja tradução de seu título original japonês é: “O Dragão e a Princesa Sardenta”, é mais uma bela obra oriental que merece ser vista com os olhos e com o coração.
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