Uma maravilhosa coprodução EUA, Espanha e México, falada em espanhol e lançada em 2006, escrita e dirigida pelo merecidamente prestigiado Guillermo del Toro, indicada a seis Oscars e vencedora de três: Melhor Fotografia, Melhor Direção de Arte e Melhor Maquiagem, além de outros mais de 60 prêmios ganhos pelo mundo, estamos falando de O Labirinto do Fauno, e este foi o destaque dado por Rafa Decks na 7ª edição do Chá Com Cookies, realizado no dia 06 de Junho em nosso Instagram, data em que também conversou conosco a psicóloga e apresentadora do programa Light News da Rádio Transamérica Light, Maria Rafart (clique aqui e veja como foi) e o casal formado por Lucio Jr. e Louize Fischer, responsáveis pelo Cubo de Ouro, premiação voltada exclusivamente para conteúdos geeks.

Rafa Decks é uma empreendedora, muito engajada em protagonismo feminino, e promove terapias com altas doses de espiritualidade, acrescidas de cosméticos naturais, um verdadeiro mergulho nas frequências da Mãe Natureza. Um de seus projetos é uma rede de apoio a mulheres, reforçando a importância da valorização de suas próprias jornadas, corpo e mente, sexualidade e maternidade, profissão e realização. Para saber mais sobre o engajamento e os trabalhos da Rafa, visite seu perfil no Instagram. Vale ressaltar que este trecho da Live, em que se deu o bate-papo da Rafa com a nossa anfitriã Lulu Gabriella, ocorreu em meio a uma paisagem que tem tudo a ver com a convidada, bem como com a obra comentada. Rafa escolheu dissertar sobre seu filme favorito em um cenário aberto, rodeada pelas árvores, pelo verde, pelo ar puro, pela natureza! Lulu A-D-O-R-O-U!!!

Agora vamos ao O Labirinto do Fauno. Este fantástico (nos dois sentidos) clássico moderno de del Toro trouxe muitos insights para a vida de Rafa, e tanto ela quanto nós do Serial Cookies recomendamos entusiasticamente que você veja, ou reveja, pois, assim como todo bom entretenimento consciente que sempre trazemos aqui, ele permite leituras diferenciadas a cada nova assistida. Como muito bem ressaltou Lulu: “É o poder que uma obra audiovisual tem de nos transmitir mensagens diferentes conforme os momentos da vida em que estamos, e que sempre podem nos trazer verdades reveladoras!”. E, caso você ainda não o tenha visto, pode continuar a ler este texto despreocupadamente, pois ele NÃO CONTÉM SPOILERS (a menos, é claro, que você seja extremamente sensível quanto ao nível mínimo de informação que queira receber de um filme antes de vê-lo).

Rafa Decks nos relembra a história do longa, que se passa na Espanha, em 1944. Acrescentamos aqui detalhes importantes à compreensão da trama: não bastasse a Segunda Guerra Mundial, em plena atividade, que rumaria para seu desfecho no ano seguinte, o contexto também inclui a Guerra Civil Espanhola, cujos destroços escondem, nas montanhas, seus últimos rebeldes, guerrilheiros remanescentes da resistência que é alvo de uma incansável perseguição por parte do exército espanhol, liderado pelo tirano, fascista e sádico Capitão Vidal (Sergi López), que acaba de se tornar o padrasto de Ophelia, pois a menina e sua mãe gestante estão de mudança para a casa dele, uma construção de visual nem um pouco acolhedor, e incrustada no intimidador acampamento militar situado no meio da floresta.  

Feita a contextualização, acompanhamos a jornada da menina Ophelia (vivida por Ivana Baquero, na época com apenas 11 anos), a princípio ingênua e sonhadora. Ela gosta da imersão que a lúdica leitura de histórias de contos de fadas lhe proporciona, enquanto lá fora predomina a brutalidade da guerra. Em dado momento, Ophelia conhece um fauno (Doug Jones, habitual colaborador de del Toro, e que também interpreta outra criatura neste mesmo filme…), um ser mítico que lhe faz uma surpreendente revelação, a de que, na verdade, ela é a princesa perdida de um reino distante, e que seu verdadeiro pai está à sua espera. Mas ela terá que passar por três desafios para se provar digna de voltar a seu reino. Conseguirá Ophelia chegar lá?

Nossa convidada Rafa Decks ressalta a riqueza de metáforas, alegorias e simbologias que esta obra traz, com seus diversos paradoxos: fantasia Vs. realidade, delicadeza Vs. truculência, encanto Vs. repúdio, a beleza da vida Vs. a dor da alma. Como podemos escapar de nossos labirintos internos? Somos capazes de vencer situações com a nossa intuição? E onde se encaixa nossa racionalidade? Elas podem coexistir sem se chocarem? Como já foi dito acima, esse filme se permite várias interpretações, podendo, inclusive, ser assistido sob perspectivas diferentes, da Ophelia, de sua mãe grávida, do padrasto ou, dependendo de sua imaginação, até mesmo do fauno.  

O primeiro desafio de Ophelia envolve uma árvore, cujo formato lembra muito o de um útero, criando imediatamente associação com a gestação, a ancestralidade, e a importância da vida que ainda nem nasceu, assunto sempre polêmico e que pode gerar horas e horas de debates. O segundo desafio envolve uma adaga que ela precisa recuperar, e para isso terá que vencer a tentação de, diante de uma imensa mesa farta de guloseimas, não tocar em nada, alegoria, obviamente, à gula, mas também ao sentimento de pertencimento, ou até mesmo ao capitalismo, em uma análise mais extensa e, conforme o transcorrer das cenas, é notória também uma alusão à perseguição cega contra as minorias. O terceiro desafio envolve o irmão de Ophelia, que ainda se encontra no ventre de sua mãe, podendo representar um novo mundo de esperança, pós Guerra Civil, pós Segunda Guerra e, porque não, pós pandemia?

Lulu faz uma oportuna relação de O Labirinto do Fauno com Labirinto, clássico oitentista protagonizado por ninguém menos do que um dos musical heroes favoritos dos cookies, David Bowie, no qual a mocinha, vivida por Jennifer Connelly, na época com apenas 15 aninhos, precisa resgatar seu irmão, ainda bebê, que foi levado para o labirinto. Analogia pertinente e muito válida! Ambos tratam de desafios em mundos estranhos a serem superados por suas protagonistas que ainda não chegaram à idade adulta e precisam salvar seus irmãozinhos, sendo que, ao fim da jornada, muitos conhecimentos foram adquiridos, acerca da vida, e de como lidar com seus problemas, atravessar seus labirintos e achar suas saídas!

Rafa Decks trouxe para o Chá Com Cookies reflexões muito relevantes sobre O Labirinto do Fauno e sua aplicação temática para nossas vidas. O filme nos traz Ophelia enfrentando as mais diversas situações para encontrar o seu autoconhecimento, com o agravante de estar em um cenário nada favorável a ela. Em contrapartida, o Capitão Vidal só quer poder, em sua incessante caça aos rebeldes, que se dá em seu incendiário cenário natural, a guerra. Ophelia: busca interna. Capitão Vidal: busca externa. Qual é a sua busca? Outra interessante observação feita por Rafa é que a personagem Ophelia NÃO está envolvida diretamente com a guerra e, em sua fuga pessoal da realidade, olhando para si mesma, quase sem querer ela acaba se tornando peça fundamental para o desenvolvimento do contexto da guerra na história!

Lulu Gabriella ficou maravilhada com toda a narrativa feita por Rafa Decks sobre este longa-metragem tão especial para sua vida, pois, como empreendedora do protagonismo feminino, ela conseguiu traduzir toda a gama de expressivas mensagens que este profundo conto de fadas adulto do cineasta mexicano nos traz. E não é de hoje que Guillermo del Toro nos espanta e nos encanta. Entre tantas criações memoráveis, em 2013 ele presenteou o mundo com Círculo de Fogo, que é muito, muito mais do que uma história sobre monstros e robôs gigantes (veja aqui a nossa análise desta obra). E o Oscar 2018 se rendeu à mais uma fantasia mórbida de sua autoria, A Forma da Água, lhe premiando com quatro estatuetas, Melhor Trilha Sonora, Melhor Direção de Arte, Melhor Diretor e Melhor Filme! A carreira de Guillermo del Toro nas telonas é mesmo de causar deslumbramento, pela qualidade de suas imagens, criaturas, mensagens e leituras para a vida!

Este foi, portanto, o trecho do Chá Com Cookies no qual Rafa Decks declarou todo o seu amor à O Labirinto do Fauno, esta realização cinematográfica tão surpreendente que, como se não bastasse tudo o que já foi dito até aqui, ainda reserva um final… de explodir mentes, lhe permitindo interpretar o desfecho como melhor lhe convier, de acordo com a leitura que você fez da narrativa. Recado final da Rafa: “Se você ainda não viu, veja e se entregue à história, como entretenimento, mas veja de novo, com um olhar mais apurado e crítico sobre toda essa profundidade psicológica que o longa traz.” Rafa se despede agradecendo a oportunidade e elogiando o empoderamento feminino sempre promovido também pelo Serial Cookies e suas frontwomen Lulu Gabriella e Camila Pichet. Lulu agradece à Rafa por ter aceito o convite e destaca a importância do trabalho ao qual ela tem se dedicado, de valorizar e incentivar as Mulheres-Maravilha e as Capitãs Marvel da vida real! Você pode conferir como foi a Live, na íntegra, clicando aqui.

Acompanhe o Chá Com Cookies, esse bate-papo super gostoso que o Serial Cookies tem promovido regularmente com os mais diversos convidados, sempre trazendo dicas culturais para nos incentivar a renovar o ânimo durante esse período de quarentena. Saiba quando acontecerá o próximo acessando o nosso perfil no Instagram! E participe conosco do movimento #entretenimentoconsciente, compartilhe o nosso perfil nas redes com alguém que quer ver muito além do que os olhos podem ver, e pensar em profundidade sobre tudo que os filmes, séries e livros têm a nos proporcionar.

Visite o Instagram de Rafa Decks e conheça seus trabalhos voltados para o protagonismo feminino.

Conheça também o nosso livro: Serial Cookies no Multiverso do Entretenimento.

Serial Cookies no Multiverso do Entretenimento

Bônus: Foi lançada em 2019 a versão literária do longa-metragem. Escrito por del Toro em parceria com a escritora alemã de literatura infanto-juvenil Cornelia Funke, o livro O Labirinto do Fauno foi publicado no Brasil pela Editora Intrínseca em uma edição caprichada, com capa dura, fita, pintura trilateral, belas ilustrações e contos extras, que expandem o universo da história vista no cinema. 

Texto by Roberto Oliveira