Dezembro chegou e, com ele, a temporada de filmes natalinos. Um deles é uma produção nacional. Embora saibamos que o momento para programas em família, infelizmente, ainda não esteja favorável, em defesa de 10 Horas Para o Natal está, justamente, o seu tema, a alegria da reunião familiar. Conhecemos, portanto, a história da família Silva (sobrenome mais brasileiro, impossível). Após os pais terem se separado, aquelas três crianças sabem que as festas de fim de ano nunca mais serão as mesmas. Então, os pequenos resolvem preparar, por conta própria, uma ceia de Natal surpresa, na esperança de unir novamente os pais naquela noite tão especial. Só tem um detalhe: já são 10 da manhã do dia 24 de Dezembro…

Assim, o longa remete ao tradicional hábito que o brasileiro tem de deixar tudo para a última hora, ao evocar a correria das compras de Natal… feitas na véspera. E o pior: em plena Rua 25 de Março lotada (o filme foi rodado em meados de 2019). A certa altura, Marcos, o pai (vivido por Luis Lobianco, cujos trejeitos o deixaram quase idêntico àquele Leandro Hassum dos velhos tempos), também vai embarcar nessa aventura pelo desesperador comercio de véspera de Natal, juntamente com os filhos Júlia (a carismática Giulia Benite, sim, a líder da Turma da Mônica – Laços, saiba mais sobre esse filme clicando aqui, e sobre a première em Curitiba clicando aqui), Miguel (Pedro Miranda) e a caçulinha Bia (Lorena Queiroz). Nas ruas, lojas, galerias, “peruarias” e mercados do centro de São Paulo, a poucas horas do Natal, esses quatro vão aprontar muitas confusões!
O expectador assíduo do cinema nacional vai se alegrar com easter eggs de Detetives do Prédio Azul, Minha Mãe É Uma Peça e, claro, Laços. Há também situações que você imediatamente irá reconhecer de Um Herói de Brinquedo e Esqueceram de Mim, entre outros! O roteiro se desenvolve de forma dinâmica, tal qual a rapidez de raciocínio dos filhos, que fazem jus ao comentário que se ouve em certo momento, entre adultos: “As crianças são mais espertas do que nós dois juntos!” Porém… Não podemos deixar de registrar aquele que talvez seja o maior defeito da produção, que pode chegar a causar um incômodo desconfortante: o choro em formato de grito da caçula Bia. Na tentativa de nos fazer rir com a situação, supostamente engraçada, o longa, nestes momentos (e sim, o choro/grito acontece mais de uma vez), só provoca uma agonia desconcertante. Imagine ouvir esse choro ensurdecedor (de dar inveja à Chiquinha) num som dolby surround do cinema…

Tirando esse deslize feio, muito feio, a obra, dirigida por Cris D’Amato, acerta na premissa básica que propõe, uma breve reflexão acerca do quão importante uma reunião em família pode ser. Também coloca em pauta as consequências de simples mentiras cotidianas, bem como a importância de um presente específico, desejado por uma criança que ainda está na fase da ingenuidade e acredita no poder mágico da carta que escreveu para o Papai Noel. O roteiro destaca ainda o trabalho em equipe dos filhos, que não se davam tão bem assim, mas que se prontificam a se ajudarem em prol de um objetivo comum, a união familiar.

O pai também desempenha um papel importante nessa missão, pois, embora atrapalhado, mostra poder de decisão em momentos-chave, como quando assume a liderança na sequência dos produtos a serem adquiridos no mercado. E a trama endossa que uma simples compra cotidiana pode, sim, ser uma atividade verdadeiramente alegre em família. Lembranças de ocasiões singelas como essa são importantes para as crianças, a ponto de serem lembradas por elas para sempre. Há um número musical no meio da projeção trazendo justamente essa mensagem: a de que o presente verdadeiro é ver a família reunida, pois “uma vez ao ano, o tempo para e a gente olha para trás pelo filtro do amor.” Veja o clipe da canção-tema do filme.
A esta altura da leitura do texto, você deve ter sentido falta de qualquer menção à mãe. Pois bem, vivida por Karina Ramil, Sônia trabalha como obstetra e foi chamada, justo na véspera de Natal, para realizar um parto de gêmeos. Enquanto trabalha, ela pensa que seus três filhos estão tranquilamente acomodados na casa do pai… Embora seu papel seja menor, é de fundamental importância para a mensagem maior da história, a união familiar. O longa é narrado por Julia que, desde o início da projeção, quebra a quarta parede, ou seja, olha para a câmera e fala diretamente com o expectador e, com isso, ganha pontos em simpatia, principalmente pelo sucesso do filme Laços, que ainda está na memória recente do público.

Àqueles que gostam de encontrar furos de roteiro, vão se esbaldar com as incoerências narrativas, e elas são muitas. Porém, trata-se de uma comédia infanto/juvenil natalina familiar! Além disso, um toque de fantasia, em clima de fábula, no desfecho, pode ajudar o filme a ficar com um saldo um pouco mais positivo. Se, por um lado, o misterioso personagem vivido por Arthur Khol não é assim nenhuma Brastemp (pegou a referência?), por outro, ele reforça as mensagens natalinas da produção. Entre elas, a de que, às vezes, a ajuda pode vir, inesperadamente, por parte de quem menos se imagina. Em tempos de pandemia e distanciamento social, as cenas de tanta gente aglomerada na 25 de Março e as reuniões familiares para a ceia de Natal podem até comover pela simples saudade que todos nós estamos tendo de poder fazer coisas simples da vida, como uma celebração em família, e é justamente o que torna o Natal tão especial, a confraternização.
Texto escrito por Roberto Oliveira e Lulu Gabriella
