Em tempos de turbulência social e política pelo mundo, somos forçados a refletir como chegamos aqui. Como fatos e informações podem ser absolutamente manipulados e distorcidos por uma face com carisma, e como é fácil romantizar e celebrar uma personalidade que parece de boa índole. Acima de tudo, nos faz pensar como os padrões sociais nos deixaram fracos e confusos perante nosso alinhamento interior e nossa bússola moral. Ted Bundy: A Irresistível Face do Mal nos ajuda a navegar nessa rede de reflexões, enquanto apresenta o lado humano de uma situação extremamente perversa, chocantemente maligna e vil.

A história de Theodore Robert Bundy já gerou muitos estudos, escritas de livros e produção de documentários. Ele é um dos mais famosos serial killers conhecidos, que na década de 70 aterrorizou os Estados Unidos assassinando possivelmente mais de 30 jovens mulheres. Embora suas ações tenham sido brutais, o mais chocante é saber que ele conseguiu esconder por muito tempo esses atos daqueles mais próximos em sua vida e, pior, o frenesi de celebridade que conseguiu gerar em seu julgamento.

O enredo teria tudo para se transformar numa narrativa cinematográfica violenta e cheia de sangue. No entanto, o filme de Joe Berlinger, diretor conhecido por sua temática de histórias de crimes reais, traz uma vertente muito mais assustadora: o lado humano do criminoso em questão e daqueles ao seu redor. Quando nos é mostrado o quão devastador é aceitar que a pessoa que você dividiu uma vida por anos é um monstro capaz dos atos mais terríveis; o quão triste é ter sua autoconfiança quebrada ao ponto de se aliar cegamente a alguém com um grande poder manipulador; o tamanho da possibilidade de desconexão da nossa essência, quando alguém é capaz de cometer atos impensáveis contra os outros e continuar seu dia como se nada tivesse acontecido, e mentir sistematicamente sobre isso.

Zac Efron é o ator certeiro para trazer a personalidade cativante e sedutora de Bundy. Sua face angelical é capaz de ganhar qualquer pessoa à primeira vista, expandindo território por sua eloquência oral. Mesmo o espectador que conhece tudo sobre o histórico do personagem precisa ser convencido de sua culpa. Lilly Collins consegue demonstrar a dualidade daquele que conhece o empoderamento do amor e a tragédia da quebra de confiança. John Malkovich é o único ator capaz de trazer as camadas de seriedade e deboche do juiz da Flórida Edward Cowart, quem pronunciou as palavras que dão o nome do filme em inglês (Extremely Wicked, Shockingly Evil and Vile). 

Com uma narrativa assertiva e um olhar solidário, porém firme, Ted Bundy: A Irresistível Face do Mal mostra o espectro infinito da área cinza que o ser humanos pode percorrer. Ficamos o tempo inteiro imersos nesse recorte temporal, ludibriados por aquela presença, e levamos para casa um mundo de reflexões. Que essa história possa nos dar a oportunidade de olhar mais atentamente para nosso interior, e como interagimos com o exterior.

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