Criado e desenvolvido originalmente pela empresa de jogos norte americana Bungie Software Products Corporation, na época uma subsidiária da empresa Microsoft[1] e, publicado pela Xbox Games Studios, Halo é uma série de jogos de tiro em primeira pessoa do gênero ficção científica onde a trama gira em torno de uma guerra interestelar entre a humanidade e uma aliança teocrática alienígena conhecida como Covenant.

A base da saga é centrada no personagem Master Chief (John-117), um humano geneticamente aperfeiçoado pertencente ao grupo de super-soldados chamado Spartans que, com o auxílio de uma inteligência artificial conhecia como Cortana, busca defender a humanidade de um possível extermínio.

Master Chief, o protagonista.

De acordo com números oficiais da X-Box [2][3], de 2001 à 2015, a franquia Halo chegou a incrível marca de mais de 65 milhões de unidades vendidas, o que levou a expansão da franquia para outras mídias, com diversos livros best-sellers, novelas gráficas, live-actions e outros tipos de produtos licenciados.

Atualmente, depois do lançamento dos jogos Halo: The Master Chief Collection (2014), Halo 5: Guardians (2015) e Halo Wars 2 (2017), estima-se que a franquia tenha vendido aproximadamente 80 milhões de cópias em todo o mundo[4], o que demonstra inequivocamente o sucesso e o carinho dos fãs com este vasto e complexo universo.

A título de comparação e para se ter uma ideia da grandiosidade desta franquia, outra franquia mundialmente famosa lançada no mesmo ano de Halo 1, em 2001, foi a série Devil May Cry, desenvolvida pela empresa Capcom e criada por Hideki Kamiya, vendeu aproximadamente 16 milhões de unidades[5], sendo que seu último título Devil May Cry 5, lançado em 2019, vendeu mais de 2 milhões de títulos[6].

Contudo, em que pese ambas as criações possuírem números impressionantes, Halo se consagrou como uma das maiores e mais bem sucedidas franquias do mundo dos games.

Qual seria o motivo do sucesso dos jogos da franquia Halo? O que faz com que os fãs da saga continuem a acompanhar os lançamentos depois de 18 anos? O que a torna tão especial?

Muitos mais do que mecânicas e gameplays, para além dos efeitos gráficos e trilhas sonoras, Halo possui um enredo que leva o fã a imergir em um mundo de imaginação, a franquia tem uma das histórias mais complexa do universo do games, com uma explicação própria para o surgimento da humanidade e da galáxia, apresentando conflitos e intrigas politico-religiosas entre diversas espécies alienígenas.

MAS COMO TUDO COMEÇOU?

Acredita-se que a mais de 1 milhão de anos antes da era atual, uma raça de seres poderosos e inteligentes chamada de Precursores começou a povoar a galáxia[7].

Possível imagem de um Precursor.

Originados de fora do que conhecemos por “Via Láctea”, os Precursores existiram em um nível inteligência e consciência muito além dos organismos biológicos convencionalmente sapientes, possuindo capacidade de viajar entre as galáxias com condições para acelerar a criação e a evolução da vida.

Sua avançada tecnologia permitiu que esta raça explorasse muitas galáxias as semeando com vida ao longo de bilhões de anos como parte de uma grande experiência.

As  conquistas tecnológicas e arquitetônicas dos Precursores permaneceram espalhadas não só por nossa galáxia, mas também fora dela, como na nomeada Grande Nuvem de Magalhães[8], sendo esta, de acordo com a NASA, “uma galáxia satélite da Via Láctea, que flutua no espaço, numa longa e lenta dança em torno da nossa galáxia[9].

Os Precursores não estavam ligados a nenhuma forma física específica, podendo assumir qualquer forma conforme considerassem conveniente, sendo capazes de morrerem e reencarnarem por diversas vezes, em formas materiais ou imateriais.

Descritos como sonhadores e criadores, cujas mentes transcenderam muitos reinos, tendo formas infinitas, diversas vozes e propósito singular, os Precursores viveram diversos estágios do desenvolvimento tecnológico e cultural, ora avançando a níveis intergalácticos, ora retrocedendo à níveis primitivos com o objetivo de aprimorar o conhecimento e evoluir como espécie, sendo impossível determinar sua idade, origem e limitações, às vezes sendo considerados tão antigos quanto o próprio universo.

Na sinopse do livro Halo: Cryptum – A Saga dos Forerunners[10] de Greg Bear, lançado em 4 de janeiro de 2011, o autor afirma que:

há 100.000 anos a galáxia era povoada por uma grande variedade de seres. Mas uma espécie, mais adiantada que todos as outras em tecnologia e conhecimentos, dominou assim as demais: os Precursores, guardadores do Manto, o próximo estágio da vida no universo. E então eles desapareceram. Essa é a sua história” [11].

Os Precursores baseavam sua ideologia em três pilares ou conceitos filosóficos: o Manto da Responsabilidade, o Tempo Vivo e em um Mecanismo Meta-tecnológico conhecido como física neural, que lhes permitia manipular o tecido do Universo.

Sobre o Manto da Responsabilidade, entendiam ser dever da raça mais avançada proteger e auxiliar no desenvolvimento da vida e da biodiversidade, tendo a espécie mais inteligente a obrigação moral de cuidar das outras a fim de manter a ordem da evolução.

Ao cuidar do Manto, a paz surgiria como um efeito natural através dos ensinamentos e da orientação da raça mais evoluída, culminando com o desenvolvimento das demais espécies, sendo assim tanto um direito quanto um dever da espécie para com a harmonia existencial. Pode-se dizer que existiria um verdadeiro dever de solidariedade entre a raça mais avançada e as demais no que consiste na condução do desenvolvimento e da evolução.

Segundo Bruna Lyra Duque e Adriano Sant’Ana Pedra[12] ,”a solidariedade é, na verdade, o outro lado de uma mesma moeda no jogo dos direitos e deveres” podendo esta ser compreendida “a partir de uma relação de reciprocidade: se existem direitos, em contrapartida, existe o dever de prestar solidariedade”, ou seja, os Precursores possuíam tanto o direito de conduzir os rumos da evolução por serem a raça mais desenvolvida tecnologicamente, quanto o dever de auxiliar as demais como uma manifestação da solidariedade.

Os autores prosseguem, afirmando que: “cada indivíduo determina os rumos da sua existência, de acordo com as suas preferências subjetivas e materiais, respeitando-se a sua liberdade de escolha” sendo certo que “compreender a solidariedade não é tarefa fácil. Intuitivamente, parece que a noção do ser solidário oferece aquela ideia automática do dever moral.”.

Segundo o renomado autor italiano Pietro Perlingieri[13], “a complexidade da vida social implica que a determinação da relevância e do significado da existência deve ser efetuada como existência no âmbito social, ou seja, como coexistência” de modo que, ao adaptamos a teoria do Manto da Responsabilidade criada pelos Precursores ao princípio da solidariedade, podemos afirmar que ao proteger e auxiliar no desenvolvimento da vida na galáxia, estes buscam uma forma de proceder seu próprio desenvolvimento em um cenário de coexistência.

Dentre todas as espécies que foram criadas ou desenvolvidas pelos Precursores duas se destacavam para serem possíveis herdeiras do Manto da Responsabilidade: os Humanos e a espécie humanoide nativa do mundo de Ghibalb, conhecida como Forerunners.

Em uma determinada passagem do livro Halo: Cryptum – A Saga dos Forerunners, o narrador, um personagem Forerunner conhecido como Bornstellar diz que: “devido às fortes semelhanças em nossa estrutura genética natural, alguns dos sábios Forerunners pensavam que os seres humanos poderiam ser uma espécie-irmã, também modelada e dotada de vida pelos Precursores”[14].

O próprio nome dado pelos Precursores à raça Forerunner indicava seu papel no Manto da Responsabilidade, tanto que Bornstellar assevera que o “nome Forerunner implicava um lugar efêmero e não permanente no Manto – aceitando que não éramos mais do que um estágio fugaz e impermanente na governança do Tempo da Vida”[15].

No referido livro, ao ser questionado por jovens humanóides sobre o motivo que levou o jovem Forerunner Bornstellar a sair de seu planeta e a viajar para a Terra – também chamada na obra de Erde-Tyrene -, este responde que: “estava naquele planeta para descobrir porque os Precursores foram embora” e, de “que forma eles poderiam lhes ter ofendido”[16].

Tão misteriosa quanto a origem foi o destino da raça dos Precursores.

Se eles acreditavam em um dever de guarda e proteção para com as espécies menos desenvolvidas como uma obrigação perante o Manto, por que a raça antiga deixou a Galáxia? Qual foi a decisão tomada por eles sobre o papel dos herdeiros do Manto da Responsabilidade? Como isso repercutiu na evolução das espécies?

Essas e muitas outras questões serão respondidas nos próximos textos sobre a Saga Halo.


Referências:
[1] Site Wikipédia.
[2] Site Xbox Wire.
[3] Site Jovem Nerd.
[4] Site Wikipédia.
[5] Site Wikipédia.
[6] Site The Enemy.
[7] Site Halo Project Brasil.
[8] Site Halo Project Brasil.
[9] Site NASA.
[10] BEAR, Greg. Halo Crytum. Tradução ANDRADE FILHO, Júlio de. 1ª Edição. São Paulo: Planeta. 2012.
[11] Em outra sinopse temos que: “há 100.000 anos a galáxia era povoada por uma grande variedade de seres. Mas uma espécie, mais adiantada que todos as outras em tecnologia e conhecimentos, conseguiu dominá-la. Eles governaram em paz, mas tiveram que enfrentar a oposição com eficácia rápida e brutal. Eles foram os Precursores – os guardiões do Manto, a forma de vida mais avançada no Universo. E então eles desapareceram. História que originou o game Halo.”.
[12] DUQUE, Bruna Lyra; PEDRA, Adriano Sant’Ana. Os deveres fundamentais e a solidariedade nas relações privadas. Revista de Direitos Fundamentais e Democracia. V. 14. Nº 14. P. 147/161. Curitiba. Julho/dezembro de 2013.
[13] PERLINGIERI, Pietro. Perfis do Direito Civil: Introdução ao Direito Civil Constitucional. Tradução Maria Cristina de Cicco. 3ª Edição. Rio de Janeiro: Renovar. 2002. P. 01.
[14] BEAR, Greg. Halo Crytum. Tradução ANDRADE FILHO, Júlio de. 1ª Edição. São Paulo: Planeta. 2012. P. 23.
[15] BEAR, Greg. Halo Crytum. Tradução ANDRADE FILHO, Júlio de. 1ª Edição. São Paulo: Planeta. 2012. P. 28.
[16] BEAR, Greg. Halo Crytum. Tradução ANDRADE FILHO, Júlio de. 1ª Edição. São Paulo: Planeta. 2012. P. 28.