O que faz da pessoa um gênio ?

Inteligência, títulos, capacidade de raciocínio? Sucesso, poder, dinheiro? Fãs, seguidores, curtidas?

Criticado por suas brincadeiras de mau gosto, censurado pelas autoridades pela exposição do corpo feminino, apedrejado pelos intelectuais por sua linguagem chula e detonado por demonstrar em rede aberta de televisão uma cultura do humor, o renomado sociólogo francês Edgar Morin classificou Chacrinha como “um fenômeno de comunicação de massas só comparável a [John F.] Kennedy e [Charles] De Gaulle”.

Neste momento não cabiam mais dúvidas, Chacrinha era um gênio.

Chacrinha – Eu vim para confundir e não para explicar” traz as telas do cinema histórias pouco conhecidas do público sobre a vida do apresentador brasileiro Abelardo Barbosa, um dos principais comunicadores do país.

A riquíssima vida e carreira de Abelardo Barbosa já foi retratada em diferentes formatos pela indústria cultural brasileira contudo, estreia dia 28 de janeiro o documentário “Chacrinha – Eu Vim Para Confundir e Não Para Explicar”, que remonta o legado do velho guerreiro por meio der depoimentos de personalidades, imagens raras e antigas entrevistas do próprio apresentador.

Desde o início da carreira como locutor até sua chegada ao Rio de Janeiro quando começou a trabalhar na Rádio Tupi, o documentário revela como a genialidade de Abelardo Barbosa o destacou nos diversos meios de comunicação.

Visual engraçado, bordões até hoje repetidos, concursos inusitados, gigantesca presença de palco e shows de calouros que revolucionaram a TV, foram alguns dos elementos que consolidaram a carreira de sucesso de Chacrinha entre as décadas de 1950 e 1980.

Através de imagens de arquivos o documentário mostra a loucura que acontecia no palco durante as gravações dos programas comandados por Chacrinha, chegando a apresentar nuances dos famosos concursos que prometiam eleger desde a mulher mais “peituda” do Brasil até o cachorro com a maior contagem de pulgas.

Responsável pela criação do que hoje é conhecido como “TV Popular”, uma vez que seu programa buscava falar a linguagem do povo, o apresentador foi um dos pioneiros na arte da quebrar a quarta parede e se dirigir diretamente ao telespectador, toda hora colocando a mão na câmara e mostrando o que acontecia no estúdio de gravações.

Fazendo chacota e piadas com os convidados, as vezes humilhando os calouros, jogando frutas, verduras e “bacalhau” no auditório, mostrando mulheres em trajes mínimos e “bundas” rebolando, Chacrinha obrigou a televisão brasileira a sair da inércia, o povo era apaixonado por ele.

Muitos artistas tiveram seus primeiros passos na carreira nos palcos do “Cassino do Chacrinha”, sendo a benção do velho guerreiro quase como um sinal de futuro sucesso.

O documentário não faz uma apologia ao comunicador, mostrando facetas de uma personalidade difícil, marcante, polêmica e controversa, uma pessoa que não se deixava dirigir no ar e queria fazer o programa da forma como achava melhor, destacando que por traz do irreverente apresentador, existia um homem que vivia obcecado pelo trabalho e fazia de tudo para sempre estar em primeiro lugar na audiência.

Em determinado momento do documentário o jornalista Pedro Bial diz que a moral é como uma cerca, onde a classe alta passa por cima e a classe baixa por baixo e Chacrinha, com seu programa e irreverência, derrubou a barreira da moralidade falando direto com o telespectador.

O documentário ainda mostra curiosidades de sua vida pessoal com depoimentos dos filhos Jorge Barbosa e Leleco, da viúva Dona Florinda, além de personalidades como Pedro Bial, Luciano Huck, Rita Cadillac, Boni, Stepan Nercessian, Angélica, Wanderléa, Elke Maravilha, Chico Anysio, Gugu Liberato, entre muitos outros, os quais de forma saudosista e bem humorada, buscam lembrar os principais acontecimentos na vida do comunicador.

Durante as entrevistas, todas as personalidades e artistas concordaram que um programa como o que Chacrinha fazia, jamais poderia ir ao ar novamente, uma vez que tinha piadas politicamente incorretas e situações que, hoje em dia, seriam muito criticadas, contudo, com alegria e irreverência Chacrinha mexeu o coração do povo brasileiro com deixou seu legado ao mundo.

Em 1988 multidões choraram em seu velório e sua morte parou o Brasil mostrando que mesmo politicamente incorreto e com brincadeiras apelativas, Chacrinha era a voz da alegria nacional.  

Que sirva de lição as atuais gerações, não precisamos de textos complicados, de palavras rebuscadas, de intrincadas intepretações para atingirmos o coração das pessoas. As vezes o melhor é ser popular.

[FICHA TÉCNICA]
Nome Original: Chacrinha – Eu Vim Para Confundir e Não Para Explicar
Diretor: Claudio Manoel, Micael Langer
Distribuidora: Bretz Filmes
Ano: 2021