Ao trazer novamente às telonas a trama do ser egípcio que é ressuscitado milênios mais tarde com grandes poderes, a Universal Studios não só condenou a alma do personagem de Tom Cruise no novo filme, mas também a da franquia de 1999. Se Brendan Fraser, Rachel Weisz e John Hannah nos trouxeram personagens carismáticos para lidar com um mal inesperado, Tom Cruise falhou em tentar condensar as características dos três no personagem irritante de Nick Morton. Aliás, a palavra “irritante” pode ser usada para descrever grande parte dos personagens e suas ações. É dessa forma que somos apresentado ao Dark Universe.
Muitos não sabem que essa nova trama não é apenas um reboot de A Múmia, mas sim do início de um universo compartilhado em que teremos outros personagens do terror clássico como O Homem Invisível, Frankenstein, Conde Drácula e Lobisomem sendo apresentados em filmes diferentes. Quase como um Vingadores do Terror. O filme conta com essa falta de conhecimento do público e apresenta na primeira parte da trama uma narrativa que realmente parece um reboot do original – um túmulo antigo é descoberto e, acidentalmente, o ser antigo que alí foi condenado é acordado. Somente na segunda parte ficamos sabendo da corporativa que visa lidar com os males sobrenaturais que tentam tomar controle da realidade. Dessa maneira, uma trama que já não estava sendo muito bem construída, desaba. A situação que estava sendo trabalhada com uma inocência de personagens pegos de surpresa com o que acontece já não faz mais sentido. E se a sociedade secreta que protegia a múmia do filme dos anos 90 parecia um tanto incompetente, a nova corporativa leva essa incompetência a um nível totalmente superior.
Com a temática mais sombria que esse universo prevê, o protagonista é construído como um anti-herói. No entanto, diferente de personagens como Hannibal Lecter ou Travis Bickle, nós não somos apresentados às complexidades de caráter de Morton. A atriz Annabelle Wallace é Jenny Halsey, a qual demonstra seus conhecimentos arqueológicos no início do filme e depois serve para dar um objetivo a Nick, perdendo o seu próprio. Talvez seu outro objetivo seja convencer o público que ele é um bom homem em seu interior. Mas ela parece falhar nisso também. A personagem melhor desenvolvida e mais carismática acaba sendo a vilã do filme, a Princesa Ahmanet (Sofia Boutella). Porém, ao tratar de sua história com uma narrativa demonstrativa óbvia, o seu amor negado – o qual sempre é a parte mais importante da revolta e renascimento dos vilões da franquia – não convence. Suas ações são desproporcionais com as situações. Uma narrativa com a sua perspetiva teria sido muito melhor aplicada.
A Múmia fica perdida entre ser um reboot e o início de uma nova saga, acabando por ser ruim em ambos quesitos. Os efeitos especiais trouxeram uma múmia realmente assustadora para os tempos modernos; é uma pena que o roteiro não tenha sido tão bem atualizado. Com uma ideia já batida no universo cinematográfico da Marvel e DC, a Universal tenta emplacar o seu conjunto de anti-heróis. Eles querem lidar com um grande mal que assola o mundo, mas esqueceram que o único jeito de combater esse terror é com o amor. E esse tipo de amor não pode ser apenas dito, ele tem que ser demonstrado. No final das contas, esse é o maior problema do filme: sua falta de essência.
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