Se você, assim como eu, passou horas da sua infância assistindo Pokémon na Eliana, capturando os bichinhos no Game Boy ou emuladores, comprando e trocando figurinhas para completar o álbum e tomando muito Guaraná Caçulinha para adquirir as miniaturas, sua reação ao saber da versão live action da história deve ter sido essa: uma mistura de total animação e extremo medo. Antes de mais nada, já respondo o seguinte: Sim, queridos treinadores e mestres Pokémon, Detetive Pikachu é muito bom! E o mais legal é que ele funciona para o público antigo, o novo, e fecha com chave de ouro trazendo uma reflexão atual sobre a visão sistêmica da vida.
A trama do filme foca em Tim Goodman (Justice Smith), o filho de um grande detetive de Ryme City, Harry Goodman. Quando Tim é informado que seu pai morreu em um acidente, ele vai até seu apartamento, onde ele se depara com o pokémon parceiro de Harry: Pikachu (Ryan Reynolds). No entanto, Pikachu está com amnésia e, por alguma razão, Tim consegue entender o que ele fala. Com a suspeita de que Harry ainda possa estar vivo, Tim e Pikachu, com a ajuda da repórter Lucy Stevens (Kathryn Newton), se aventuram na cidade em que humanos e pokémons vivem lado a lado, tentando encontrar pistas sobre o que realmente aconteceu.
Para os fãs antigos, o universo Pokémon criado para as telonas é um espetáculo. Quem cresceu assistindo o anime e jogando as versões vermelha, azul, verde e amarela em 8-bit, vai ter seu coração aquecido por experienciar aquele mundo com toda a tecnologia que temos atualmente. A pequena cidade no início do filme nos traz conforto e a eminência de uma grande aventura. Ryme City é uma mistura de grandes cidades do mundo em que vários pokémons aparecem casualmente apenas vivendo suas vidas, já que a captura e batalhas são proibidas na cidade. As texturas aplicadas nas criaturas trazem um realismo imediato. Juntando a qualidade da produção com o fato que o filme é uma continuação daquele lançado em 1998, e com as referências e easter eggs incluídos, temos aqui muitos motivos para o agrado da velha guarda.
Para aqueles que estão apenas começando a conhecer esse universo, é dada uma pincelada básica de como ele funciona, de modo que o novo espectador consiga se localizar nesse meio e acompanhar a narrativa sem problemas. O roteiro segue certo padrão que víamos no desenho, o que significa que temos algumas situações exageradas, outras forçadas, e resoluções simplificadas e um tanto infantilizadas. Mas não vejo isso necessariamente como um empecilho para apreciar a história. Esse tipo de narrativa irá agradar o público mais jovem, e não deve incomodar muito o mais velho que decide ir assistir Pokémon nos cinemas. Querendo ou não, esse produto é mais voltado para uma faixa etária menor.
Agora, o crème de la crème da história, e a prova que o entretenimento – de um modo geral – está entendendo para onde a sociedade está caminhando, é a reflexão sutil, porém coerente, da visão sistêmica da vida. Ter essa visão é entender que tudo no planeta está interligado, e que a solução de problemas mundiais não se dão de maneira isolada umas das outras. Fritjof Capra dedica sua vida em pesquisas para melhor entender todo esse complexo ecossistema. No livro “A Visão Sistêmica da Vida”, ele afirma:
“A maioria das pessoas em nossa sociedade moderna, em especial nossas grandes instituições sociais, apoia os conceitos de uma visão de mundo obsoleta, uma percepção inadequada da realidade para lidar com nosso mundo superpovoado e globalmente interconectado.”.
E continua:
“A evolução não é mais considerada como uma luta competitiva pela existência, mas, em vez disso, é reconhecida como uma dança cooperativa na qual a criatividade e a constante emergência da novidade são as forças propulsoras.”.
Em seu íntimo, é sobre isso que Detetive Pikachu trata. De como nós, humanos, podemos e devemos coexistir tranquilamente com as outras milhões de formas de vida sencientes do planeta. Como precisamos entender que a nossa necessidade egóica por poder e controle sempre nos levou para um caminho de destruição e sofrimento, sendo que os mesmos avanços podem ser realizados de uma forma pacífica e de comum acordo. Pikachu afirma que os pokémons podem não entender o que os humanos dizem, mas eles sentem seu significado. Quando for de compreensão geral que, em termos quânticos, tudo na nossa realidade é feito da mesma substância, e que estamos eternamente conectados na mesma energia e vibração, poderemos viver no mundo próspero, abundante, justo e feliz que todos sonham. A evolução se revela ser proveniente de um estado mental – que apenas se manifesta, em consequência, no estado físico.
Com um visual incrível, Pokémons que dão vontade de apertar, uma narrativa acessível e uma reflexão positiva, damos 4 cookies para a obra. E lembrem: “Temos que pegar!”.