Fritjof Capra é Doutor em Física, cientista, ambientalista, educador e ativista. O foco de suas pesquisas e, consequentemente, seus livros, é compreender o complexo sistema no qual o ser humano está inserido no planeta Terra. Em Conexões Ocultas (2002), o autor explora como a natureza não está separada da vivência humana, e que adquirir uma “alfabetização ecológica” é fundamental para resolver os problemas da atualidade.
Todas as coisas relativas à uma nova compreensão da vida estão ligadas de forma orgânica na Teoria dos Sistemas – tradição filosófica que defende a ideia de que a ecologia não separa os seres humanos da natureza e reconhece o valor de todos os seres vivos. A visão de Capra no livro está focada, principalmente, nos processos e padrões de organização dos sistemas vivos, nas conexões ocultas.
Colocando sob uma abordagem sistêmica ao domínio social, o tema que ele desenvolve é a mudança de padrões, ou melhor, a mudança de visão de mundo que está ocorrendo nas ciências e na sociedade, a qual foca na própria vida. Com o objetivo de apresentar uma estrutura que integra as dimensões biológicas, cognitivas e sociais, Capra oferece uma perspectiva unificada da sociedade e desenvolve uma maneira coerente e sistêmica de encarar algumas questões mais críticas da nossa época.
Na primeira parte do livro, Capra levanta a seguinte questão: Em que medida uma organização humana pode ser considerada um sistema vivo? Com a intenção de contribuir para essa questão, ele apresenta uma estrutura teórica que trata respectivamente da natureza da vida, da natureza da mente e consciência, e a natureza da nossa realidade.
A primeira definição é em relação às características que identificam um sistema vivo. Citando vários cientistas, ele conclui que o padrão de organização em redes é comum a todas as formas de vida. As interações de um organismo vivo com seu ambiente são interações cognitivas.
A atividade organizadora dos sistemas vivos, em todos os níveis de vida, é uma atividade mental, o que quer dizer que a vida e o conhecimento estão inseparavelmente ligados. O autor ainda aponta que as mudanças estruturais provocadas pelo contato com o ambiente, seguidas de uma adaptação, um aprendizado e um desenvolvimento, é outra característica fundamental de todos os seres vivos.
Podemos concluir que, além de os sistemas vivos se interligarem estruturalmente ao seu ambiente, eles desencadeiam mudanças estruturais. Nesse contexto de mudanças, uma rede de processos metabólicos é auto geradora. As organizações humanas são sistemas vivos na medida em que estão organizadas em redes, se auto reproduzem e respondem as mudanças estruturais.
Na segunda parte, Capra fala sobre os desafios do século XXI, e vê a necessidade urgente das organizações humanas de passarem por uma mudança fundamental, tanto para adaptar-se ao novo ambiente quanto para tornar-se sustentável do ponto de vista ecológico. Segundo ele, a cultura nasce de uma rede de comunicação entre os indivíduos, e a cultura que criamos e sustentamos com nossas redes globais de comunicação determinam valores, crenças e regras de conduta.
Nas últimas décadas do século XX, cresceu a percepção de que um novo mundo estava surgindo, devido as novas tecnologias, novas estruturas sociais, por uma nova rede de comunicação e por uma nova economia global. Também surgiu uma consciência de que a maioria dos nossos problemas ambientais e sociais tem suas raízes profundas em nosso sistema econômico, com sua visão que ignora os padrões e interconexões ecológicas, e busca a todo custo submeter à natureza ao controle humano.
Concluímos então que a forma atual do capitalismo global é insustentável do ponto de vista social e ecológico, por isso é politicamente inviável a longo prazo. Precisamos de uma mudança sistêmica profunda. A maneira concreta para fazer isso é mudar o princípio básico da programação do sistema global das redes financeiras e os valores que exaltam o consumo material. Esse é sem dúvida o maior desafio do nosso tempo. Realizar uma mudança de modo a tornar o sistema compatível com as exigências da dignidade humana e da sustentabilidade ecológica.
Como as normas e regras de convivência são constantes, com contato entre diferentes grupos humanos, temos a combinação e a síntese de diversos sistemas de valores. Os valores passam por um processo de construção e são portadores de uma objetividade social. Mas, como não são leis naturais, os valores humanos podem mudar.
O primeiro passo em direção ao esforço de construção de novos valores e de uma sociedade sustentável é a alfabetização ecológica, ou seja, compreender que a solução dos nossos problemas não será feita de maneira compartimentalizada, mas enxergando-os dentro de um ambiente unificado em que todos os níveis de vida devem ser levados em consideração.
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Autor: Alberto Jorge Sartori Gomes