Um dos personagens mais conhecidos da história dos quadrinhos e da marca DC Comics, ganha uma nova versão nos cinemas. Do diretor Matt Reeves a nova versão traz Robert Pattinson papel principal como Batman/Bruce Wayne e Zoë Kravitz, Mulher Gato/Selina, Andy Serkis como Alfred e Paul Dano como Charada.
Muito diferente das últimas produções do herói como em Batman vs Superman: A Origem da justiça (confira nosso post neste link e uma matéria especial sobre o Perspectivismo em Batman vs Superman no seguinte link, e Sobre Liga da Justiça no seguinte link) que trazia uma trama mais apoteótica, em The Batman acompanhamos um clima mais sombrio como na trilogia de Christopher Nolan. A trama foca no clima de história de detetive, o mistério e o caso a ser resolvido é cheio de pistas e charadas, literalmente, a serem seguidas e resolvidas até chegar no então vilão principal da história: o Charada.
E um dos pontos interessantes é que no desenrolar, é no olhar do Batman/Bruce como um detetive, como um Sherlock. Quieto, observador, muita expressão pelo olhar. Menos tecnologia da bat-caverna e mais investigação pessoal, de literalmente observar de perto, entrar nos locais a serem analisados.
A trama vai trazendo não só a trajetória entre o encontro do herói com o cara malvado, mas também o encontro de outros vilões do dia a dia que perpetuam corrupção e esquemas mafiosos dentro da doente cidade de Gothan. Ou seja, o chamado “colarinho branco”, políticos, candidatos, membros da polícia que posam de bons moços que estão em cargos elevados, mas que estão com medo ou sendo manipulados por algo maior. Dentre eles, alguns outros personagens do hall de vilões da saga.
Senti que o filme como um todo complementa a série televisiva que leva o nome da cidade (Gothan – 2014-2019) e traz a origem de diversos personagem e como eles se tornaram que são. Muito pelos seus traumas, dores, perdas e cicatrizes e muito do que a própria cidade influencia. Um lugar violento, sombrio onde poucos realmente trabalham e se esforçam para fazer a diferença significativa e limpa que leve seus moradores a um outro patamar.
“Eu quero dizer que estou fazendo a diferença, mas eu não tenho certeza”
>> Batman
Bruce/Batman, Selina/Mulher Gato, Gordon, o policial que acredita no protagonista e é um dos poucos cidadãos realmente corretos, a futura candidata a prefeitura; fazem cada um à sua maneira algo para transforarem seus futuros e renovarem a cidade. Mas o mesmo é feito por Charada, que está atrás de políticos, policiais, pessoas envolvidas com corrupção, todos envolvidos com o caso chamado “rato”. Este que é o grande mistério do filme.
“Este é o problema desta cidade, todos têm medo de fazer a coisa certa, mas eu não.”
>> Prefeita
Charada, ele que no fundo é um órfão cheio de feridas do passado, vítima da corrupção que desvia verbas do projeto chamado “Renovação” que visa revitalizar a cidade. Projeto criado por Thomas Wayne, pai de Bruce. Recursos financeiros que foram desviados com o assassinato de Thomas e Martha Wayne no passado. Aliais, a narrativa de The Batman se passa em torno de 20 anos após o incidente da morte do casal. E aí? Quem comete atrocidades também justifica seus atos como ações para mudança? A famosa dualidade: Quem está certo? Quem está errado?
“Você não está vendo o todo”
>> Charada
O desejo de mudança é mútuo, mas as escolhas de como arcar com este movimento é que fazem a diferença. Afinal, Gothan e em especial Arhkan, é famoso por conter psicopatas gerados de infâncias ruins com sentimento de vingança e desejos de justiça, mesmo que para isso estes personagens loucos não tenham consciência de assumir sua própria responsabilidade tomando atitudes perversas se justificam em discursos de posição de vítimas.
“Precisamos de um líder que diga a verdade para o povo”
>> Charada
Batman aqui não é só o cara com recursos, protetor, que também têm suas dores e aos poucos aprende a lidar com elas e direcionar seus propósitos. É uma pessoa machucada emocionalmente que veste uma armadura que esconde suas profundas cicatrizes de origem na infância, e de certa forma tende a esperar o pior das pessoas, e ao mesmo tempo busca o melhor e tem medo de perdem quem ama e reviver este sentimento de novo. Quando ele é colocado em um momento de vulnerabilidade, isto vê à tona e o direciona em um dos porquês ele se motiva a ser um vigilante.
“Você sempre espera o pior das pessoas”
>> Mulher Gato
Ele aqui também é a esperança. O papel que normalmente vemos com homem de aço Superman, vemos desta vez no discurso do próprio Batman, que à sua maneira, exerce esta missão de fazer a sua parte na real transmutação de uma cidade e cidadãos realmente doentes emocionalmente e sem acolhimento apropriado.
“Este símbolo não é só um chamado, é um aviso”
>> Batman
“Se passar dos limites, irá se tornar igual a eles”
>> Batman
O filme também me trouxe a reflexão a respeito de pessoas machucadas internamente e não têm o devido acolhimento para se curarem. Em especial relacionado ao personagem Charada e tantos outros que acabam internados em Arkhan. Quantas pessoas atravessam situações traumáticas e desejam desesperadamente a regeneração como um todo. O desejo da mudança. O desejo de ser acolhido e transformado. Só na saga Batman/Gothan/Arlequina e cia conversam com um dos mais belos projetos que tenho o prazer de acompanhar, que é o projeto Cocoon daqui de Curitiba. Foi idealizado por Darlene Coelho e tem a intenção de criar a primeira sede de um Centro de Regeneração e Prototipagem, como uma estratégia de cura pós traumática. Batman está a anos nos quadrinhos e na tv, com narrativas fictícias, como tantas outras histórias, e em paralelo vemos a situação que o planeta atravessa recentemente, a Pandemia, e mais recentemente ainda a guerra entre a Rússia e a Ucrânia. Situações como essas criam feridas e cicatrizes emocionais profundas e diversas. Estas que causam consequências que vão além do espaço físico da cidade, e sim no resto da vida destas pessoas.
“Nós não vamos reconstruir só esta cidade, mas a fé das pessoas.”
>> Batman
As pessoas precisam de esperança, se apoiar em algo que as motivem todos os dias. Cicatrizes tendem a motivar vingança, ou podem se tornar lembretes de a esperança nos motiva a fazer algo melhor.